O prémio Dr. Mário Fonseca, no valor de 20 mil euros, vai servir para “testar uma nova abordagem de quimioterapia para atingir eficazmente e com menos efeitos secundários as células mais agressivas do cancro da mama triplo negativo”, revela a investigadora Sandra Tavares, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), que venceu a primeira edição desta distinção, atribuída pela autarquia de Lousada e pela empresa Soma Coordenadas.
O cancro da mama triplo negativo é identificado em cerca de “20% das pacientes diagnosticadas”, sendo o mais “agressivo e mais difícil de tratar”, logo, “é o mais mortal”, como destaca a investigadora, ao Notícias Universidade do Porto (UP).
Em 2019, cancro da mama triplo negativo foi responsável pela morte de 676 mulheres
O cancro da mama triplo negativo é identificado em cerca de 20% das pacientes diagnosticadas, sendo o mais agressivo, porque não responde às terapêuticas comuns e tem capacidade para crescer e metastizar. Em 2019, foi responsável pela morte de 676 mulheres.
É também um cancro que afeta mulheres mais jovens, daí a importância de se encontrarem formas de detetar este subtipo mais cedo.
“A maioria das pacientes, diagnosticadas com este tipo de cancro, são tratadas com o mesmo regime de quimioterapia, mas apenas metade responde positivamente ao tratamento, ainda que todas sofram com os pesados efeitos secundários”. E se até há pouco tempo era impossível saber quem iria responder ao tratamento ou não, a verdade é que Sandra Tavares identificou, recentemente, “a diferença entre as mulheres que vão responder e as que não vão ter qualquer benefício com a quimioterapia”.
Por isso, o objetivo final passa por “utilizar o critério que descobrimos e que propomos para pré-selecionar os doentes para a terapêutica à base de taxano para evitar que pacientes que não respondem à quimioterapia mais tradicional sofram efeitos secundários e percam tempo e saúde com uma terapia inútil”, explicou Sandra Tavares ao UP.
Sandra Tavares especifica ainda que esta investigação visa “desenvolver uma forma diferente de tratamento que impeça a formação de metástases, ou seja, que elimine as células mais agressivas que têm a capacidade de se espalhar para fora do tumor, com menos efeitos secundários”.
Para isso, vai usar “organoides, que são pedaços de tumores de pacientes que podemos usar em laboratório, e um modelo animal menos convencional, o ovo de galinha”.
Para uma mais rápida implementação na prática clínica, que integra o grupo Cytoskeletal Regulation & Cancer, liderado por Florence Janody, foi também estabelecida “uma aliança estratégica entre Portugal (IPO-Porto e o Centro Hospitalar Gaia-Espinho) e os Países Baixos (Centro Hospitalar Universitário)”.
“Investir na Ciência nunca será um luxo”
Instada sobre a atribuição deste prémio, Sandra Tavares enalteceu o facto de Lousada ter percebido a importância de apostar e investir na Ciência que “é um esforço comunitário, uma necessidade e, como o passado recente mostrou, nunca será um luxo”, frisou a investigadora, citada pela UP, acrescentando que seja um exemplo a seguir por parte de outros municípios ou entidades privadas.
O Prémio Dr. Mário Fonseca foi criado pela autarquia de Lousada com o objetivo de valorizar um projeto de investigação científica, na área das Ciências da Saúde, com uma verba de 20 mil euros, 10 mil do município e o restante da empresa Soma Coordenadas. Nesta primeira edição concorreram 43 os investigadores juniores. O médico patologista Sobrinho Simões foi o embaixador desta distinção.