Pela sétima vez, Caíde de Rei, em Lousada, volta a acolher um evento que pretende manter viva a tradição da matança do porco e do sarrabulho doce, prato típico desta região. A organização, a Associação Albano Moreira da Costa, responsável pelo Cais Cultural de Caíde de Rei, não esconde que o grande objectivo é fazer de Caíde a “capital do sarrabulho doce” e continuar a fazer crescer esta iniciativa.

Os principais ingredientes deste prato são o sangue de porco e o pão velho. Os inscritos vão poder provar esta iguaria durante um almoço com rojões e batatas “no pingue”. Quem assistir aos cantares de Janeiras previstos para a tarde de domingo poderá ainda provar os pastéis de sarrabulho ou adquirir um dos pratos de sarrabulho doce que foi a concurso, que serão leiloados.

Quem já perdeu às vezes que já fez esta receita é Maria Margarida Pereira, a “Guidinha”, que mostrou como é feita à moda que a mãe lhe ensinou.

Espaço é limitado e ter tenda exterior nas próximas edições pode ser opção

Em 2013, recorda Filipe Pinto, tesoureiro da associação responsável pelo evento, que a aposta foi na recuperação de tradições em Caíde de Rei, uma delas a da matança do porco.

“Nesses dias fazia-se a sarrabulhada, uma grande panela com rojões e batatas no pingue e sarrabulho doce no final, num almoço à antiga”, explica o também confrade da recentemente criada Confraria do Sarrabulho Doce de Caíde de Rei.

Criou-se o evento que foi crescendo e aumentando em número de participantes e, mais importante, “fez as pessoas ouvir falar de sarrabulho doce”. Por isso, no ano passado, resolveram criar uma confraria para divulgar e potenciar esta iguaria “que é diferente”. A primeira entronização decorreu na semana passada.

Este sábado, há a tradicional Sopa do Cais com pastéis de sarrabulho e animação musical. No domingo há almoço à antiga, concurso de sarrabulho doce e cantares de janeiras.

“Estamos limitados no número de pessoas. O espaço não permite ir além das 180 e este ano já estamos a rejeitar inscrições”, assume Filipe Pinto quanto ao almoço de domingo. “Nas primeiras edições chegamos a ter 300 pessoas, mas não havia condições”, argumenta.

Por isso, para que mais pessoas consigam provar, no ano passado fizeram os pasteis de sarrabulho, que este ano também serão vendidos. Além disso, refere, depois do concurso do sarrabulho doce os pratos são leiloados para quem quiser levar para casa.

“Estamos a pensar na hipótese de aumentar o espaço com uma tenda exterior nas próximas edições se tivermos apoio”, admite Filipe Pinto. A meta é só uma: “Queremos transformar Caíde na capital do sarrabulho doce. Seremos a única terra com alguma actividade nesta área”.

“Toda a gente gosta do meu sarrabulho”

Este doce, feito à base de sangue de porco e pão velho, será típico da região do Tâmega e Sousa, mas há muitas receitas diferentes.

Uma delas, a mais provada, já que é ela que confecciona o sarrabulho doce da festa, é a de Maria Margarida Pereira, de 75 anos. Conhecida por “Guidinha”, a natural de Idães, Felgueiras, mora em Caíde de Rei desde os 15 anos. Primeiro trabalhou na agricultura, com a família, que tomava conta de quintas. Eram quatro irmãos. “O mais velho não gostava muito de andar à frente dos bois. Era quase sempre eu, muitas vezes descalça”, conta. Chegou a trabalhar numa padaria, a fazer muitas “regueifas e moletes” e deu algumas horas em casas particulares. Até que, em 1979, entrou para “os caminhos de ferro” e passou a ser guarda de passagem de nível. Aí ficou até 2008. “Corri os sítios todos e só saí quando fecharam todas as passagens de nível. Gostava daquilo. Por mim ainda lá estava”, garante Guidinha.

Era a ela que cabia fazer sinal ao maquinista, num trabalho de “muita responsabilidade”. Muitas vezes ia além das funções e ajudava na troca de linhas. Isso valeu-lhe um susto. “uma vez, quase que ficava por baixo de um comboio numa noite de eclipse. Vinha um comboio de mercadorias que ia para a Livração e fui a correr mudar de linha. Com a pressa caí, a minha sorte foi que a lanterna não apagou. Aleijei-me num joelho e nas mãos”, recorda.

O sarrabulho doce, típico da altura da matança do porco, entrou na sua vida desde cedo. Foi a sua mãe que lhe ensinou a receita que ainda hoje faz. “Há várias modas. Há quem faça com estrugido. Mas toda a gente gosta do meu sarrabulho”, diz.

Faz há tantos anos que já lhes perdeu a conta e a receita, que executa quase de olhos fechados, não tem segredos, sustenta. Tanto que a maior parte dos ingredientes são colocados “a olho”. Na panela com água junta o louro, o açúcar, o mel e a canela. Depois põe também vinho do porto, um fio de azeite e algum sal. Vai deixando apurar até juntar o sangue de porco cozido e, por fim, o pão velho meio desfeito. “Quanto mais ferver mais ponto ganha”, afirma. Depois é só deixar cozinhar e colocar num prato.

FESTA DO SARRABULHO DOCE 2019 (7º Reis de Caíde) – Vídeo promocional

Vídeo promocional da FESTA DO SARRABULHO DOCE 2019 (7º Reis de Caíde).Um evento a não perder nos dias 26 e 27 de janeiro no Cais Cultural de Caíde de Rei.

Publicado por Cais Cultural de Caíde de Rei em Terça-feira, 22 de janeiro de 2019