Já existem estudos e a vontade dos autarcas da região em conseguir que seja criada uma linha ferroviária no Vale do Sousa foi materializada numa conferência, realizada em Paredes, que juntou vários especialistas, políticos e os representantes das Infra-Estruturas de Portugal, dos Comboios de Portugal (CP) e o secretário de Estado das Infra-estruturas.
Os traçados preliminares definidos apontam para uma linha com 36,5 quilómetros que parte da Linha do Douro, em Valongo, e atravessa os concelhos de Paredes, Paços de Ferreira e Lousada, terminando em Felgueiras, com várias estações e apeadeiros.
O projecto está orçado em, pelo menos, 300 milhões de euros, e os autarcas da região estão unidos em torno desta ideia, que consideram ser a melhor solução de mobilidade para este território, trazendo ainda coesão social e económica.
Esta nova linha serviria cerca de 400 mil pessoas e os presidentes de câmara destes concelhos pedem que seja incluída no Plano Nacional de Investimentos 2030.
O Governo promete avançar com mais estudos.
Região com 400 mil pessoas muito dependentes da viatura própria
O primeiro estudo sobre esta possível linha, que nasceu de uma colaboração entre a Associação Comboios XXI e a Câmara Municipal de Paços de Ferreira foi apresentado durante a conferência “A mobilidade como factor de coesão territorial”, realizada no Auditório da Cooperativa A Celer, em Rebordosa, e organizada pela Associação de Municípios do Vale do Sousa, a Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa e a Área Metropolitana do Porto.
António Alves, da Associação Comboios XXI, lembrou que tudo começou pela avaliação de uma linha que fizesse a ligação a Paços de Ferreira. Mas a ideia foi crescendo e fez-se um estudo mais completo já tendo em conta uma ligação a Felgueiras. “Sabiam que depois de Viseu, Felgueiras e Paços de Ferreira são os municípios de Portugal Continental com maior população sem serviço ferroviário?”, começou por questionar.
O estudo defende que, apesar da proximidade e dos movimentos pendulares em direcção à Área Metropolitana do Porto, as vias rodoviárias de acesso aos concelhos da região são “insuficientes e onerosas”, não existindo ainda uma rede de transportes públicos capaz de servir uma população muito dependente da viatura própria. Trata-se de uma região com 400 mil habitantes e tem concelhos densamente povoados, mas 3/5 dos movimentos pendulares ocorrem em transporte individual e apenas 1/5 em transporte colectivo. É ainda um território com grande dinamismo empresarial, com mais de 30 mil empresas que facturam 6,5 mil milhões de euros, aponta o documento.
Orçada em 300 milhões de euros e com 36,5 quilómetros de extensão, a Linha do Vale do Sousa, contaria com seis estações, em Rebordosa, Lordelo, Paços de Ferreira, Freamunde, Lousada e Felgueiras, explicou António Alves. “Esta linha é completamente possível e com apenas as seis estações cerca de 200 mil pessoas ficariam a cinco quilómetros da linha”, adiantou. Colocaria Felgueiras a 55 minutos do Porto e teria um potencial de retorno económico, social e ambiental para o Tâmega e Sousa, defendeu o responsável pela Associação Comboios XXI.
“Acho que os municípios têm que pagar”
Surgiu, entretanto, um novo documento, elaborado a pedido da Área Metropolitana do Porto, sob a responsabilidade do professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Álvaro Costa. Esse estudo, apresenta uma proposta de reorganização dos suburbanos do Porto, propondo expansões até Leixões, Aeroporto, Oliveira de Azeméis, Barcelos, Felgueiras, Amarante e Marco de Canaveses. Neste contexto, a Linha do Vale do Sousa teria estações ou apeadeiros em Sobrado, Gandra, Rebordosa/Lordelo, Frazão, Arreigada, Paços de Ferreira, Freamunde, Figueiras, Ordem, Lousada, Nogueira, Idães, Torrados e Felgueiras.
Álvaro Costa está ainda a realizar um novo estudo técnico e financeiro desta linha, a pedido da CIM do Tâmega e Sousa, que deve estar concluído no primeiro trimestre de 2019.
Durante a conferência, não quis falar, para já, daquilo em que está a trabalhar para a região, debateu antes o estado da ferrovia nos centros urbanos. “Estou convencido que os transportes são a base do desenvolvimento económico. O turismo no Porto foi uma revolução preparada nos transportes durante dez anos. Conseguiu-se uma rede que faz com que os turistas se possam deslocar facilmente no Porto”, referiu.
Mas o docente universitário não deixou também de salientar que existem duas realidades “completamente diferentes” no país, a Norte e a Sul. “Na Área Metropolitana de Lisboa 50% das pessoas andam 20 minutos e têm uma estação ferroviária. A população foi-se localizando ao longo dos eixos ferroviários, de forma contínua. No Norte, temos pólos que se desenvolvem e as populações agregadas em torno da actividade económica desses pólos”, esclareceu, falando de uma organização dos transportes deslocada em relação à organização territorial.
Um estudo sobre a ferrovia na Área Metropolitana do Porto tinha que ir além das fronteiras dos seus concelhos, explicou Álvaro Costa, defendendo ainda uma lógica de gestão local do processo. “Olhando para o que se faz lá fora acho que isto deve ser gerido localmente. Não sei por qual entidade”, disse, lembrando que o Estado delegou nas Comunidades Intermunicipais e nas áreas metropolitanas o transporte rodoviário e que neste momento há dois órgãos de diferente dimensão territorial a gerir o mercado.
Sobre a ferrovia, o professor da Faculdade de Engenharia foi peremptório: “Acho que os municípios têm que pagar”, como está a acontecer na rodovia. “Estamos habituados a que a factura da ferrovia vá para o Estado central. Não é possível viabilizar a ferrovia com índices de construção baixos junto às estações”, como agora acontece, sustentou. “Se os municípios passarem a ter uma responsabilidade no financiamento vão arranjar forma de alterar as suas políticas territoriais e perceber que têm de triplicar a densidade junto às estações e parte das mais-valias disso tem que ser introduzida no sistema”, defendeu.
“Se o financiamento passasse a ser mais local as políticas territoriais passavam a ser mais racionais em termos de mobilidade. Só podemos mudar a mobilidade se pusermos gente e serviços junto às linhas”, concluiu Álvaro Costa.
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