Gonçalo Sobral, um jovem natural de Penafiel a residir no concelho de Paredes, arrecadou o prémio Melhor Bailarino Teens no Concurso Internacional “Stars Dance Galicia”, em Espanha, prova que contou com a presença de 600 executantes de vários países.

O jovem de apenas 15 anos de idade, aluno da Academia de Dança Lampadinha e que frequenta o 10.º ano de escolaridade na Secundária de Penafiel, já tinha arrecadado vários prémios colectivos, mas este foi o primeiro prémio individual que venceu.

Além do prémio especial de melhor bailarino, a Lampadinha de Penafiel obteve mais três prémios – o primeiro prémio em quartetos e quintetos com uma coreografia de jazz e um terceiro prémio em contemporâneo -, uma taça de grupo e cinco medalhas neste festival internacional. Refira-se que este é o terceiro prémio na categoria de Melhor Bailarino Teens que a Lampadinha obtém. Além de Gonçalo Sobral, o vencedor deste ano, já Marta Matos e Maria Freire tinham arrecadado a mesma distinção.

“Este prémio não é só meu. É dos meus colegas da Lampadinha, dos professores, da directora  da academia e dos meus pais que sempre me apoiaram e acompanharam”

Ao Verdadeiro Olhar, Gonçalo Sobral, que nos recebeu na sua residência, manifestou que a atribuição deste prémio foi o culminar de um trabalho que vem fazendo, mas que só faz sentido quando enquadrado com o trabalho da Lampadinha e a equipa que esteve em Espanha (Ana Beatriz, Adriana, Carolina, Gonçalo, Inês e Francisca) a quem atribuiu e dedicou, também, este reconhecimento. O jovem atestou mesmo que foi o trabalho do grupo que possibilitou que a Academia de Dança e de artes do palco tivesse vencido uma taça de grupo e cinco medalhas, merecendo os elogios da imprensa da Galiza que acompanhou o festival.

“Nunca imaginei que iria vencer este prémio até porque tive de fazer um workshop, uma masterclass em jazz musical, prova complementar ao festival que contou com a presença de 600 executantes de vários países, igualmente excelentes, que tinham os mesmos objectivos que eu. Este prémio não é só meu. É dos meus colegas da Lampadinha, dos professores, da directora da academia, a Ana Paula, e dos meus pais que sempre me apoiaram e acompanharam”, disse, manifestando que o reconhecimento do júri além de ser uma responsabilidade acrescida coloca aos premiados novos desafios.

“Sei que tenho evoluído muito desde que entrei na academia, já venci vários prémios colectivos e os prémios são sempre motivadores, levam-nos a querer fazer mais e melhor, mas sinto que tenho potencial para continuar a evoluir e é nessa perspectiva que encaro a dança e quero continuar a trabalhar”, concretizou.

Questionado sobre como nasceu a sua relação com a dança, Gonçalo Sobral esclareceu que a grande responsável por ter ingressado nesta área e ter ido para a Lampadinha foi a sua avó. “Foi ela que me inscreveu era ainda muito pequeno, teria seis, sete anos de idade.  Na altura, já gostava de ver na televisão espectáculos de dança e na Academia com a aprendizagem dos diferentes estilos e disciplinas fui gostando cada vez mais do que fazia”, disse, sustentando que o espírito de camaradagem que se respira na academia é verdadeiramente incrível e, apesar de ser o único rapaz, existe uma entreajuda entre todos os elementos da academia e um espírito grupal forte.

Ao Verdadeiro Olhar, Gonçalo Sobral revelou mesmo que o facto de ser neste momento o único rapaz não é um obstáculo para ele, antes pelo contrário. “Estamos sempre dispostos a ajudar-nos, existe uma entreajuda constante e um respeito mútuo seja nos ensaios, seja nas competições. Quando estamos em palco temos apenas um único objectivo: dar o melhor de nós e dignificar o nome da Lampadinha”, afiançou, sustentando que não se sente nem mais nem menos inferiorizado por fazer parte deste grupo onde as mulheres predominam.

“No início, recordo-me que a Lampadinha chegou a ter vários rapazes, mas por preconceito ou estigma acabaram por sair”, anuiu, recordando, no entanto, que a sociedade, as atitudes e a forma como as pessoas encaram hoje o fenómeno da dança, tendem a bater estereótipos e vêem a entrada dos homens no meio artístico, sobretudo no ballet, de forma positiva.

“Hoje, verificamos que existem excelentes executantes seja na disciplina do ballet ou noutras, reconhecidos a nível nacional e internacional, sintoma de que os tempos mudaram e os papéis regidos que tradicionalmente cabiam a homens e mulheres têm vindo a esbater-se”, asseverou.

Quanto às disciplinas  que mais gosta de executar dentro da dança, Gonçalo Sobral revelou estar mais inclinado para o jazz e do contemporâneo, áreas que lhe valeram  a atribuição do prémio Melhor Bailarino Teens.

“Recordo-me que iniciei no hip hop participei num espectáculo em Viana do Castelo, aliás foi a minha primeira experiência em público, o que me deixou logo fascinado”, avançou.

Gonçalo Sobral realçou que a dança exige disciplina, dedicação e muita persistência qualidades fundamentais para quem quer seguir esta área. “Habitualmente treinamos aos sábados e quando temos espectáculos e competições o trabalho é mais intenso e a disponibilidade tem de ser maior”, expressou, frisando que os ensaios são fundamentais para executar os movimentos, manter a disciplina e a postura corporal, características fundamentais num executante a este nível.

“Esta é uma actividade extremamente esgotante e que exige uma persistência constante”, acrescentou.

Falando das disciplinas da dança, Gonçalo Sobral atestou que o bailado é das mais exigentes enquanto o jazz e a dança contemporânea são mais livres. “Acho, no entanto, que o ballet está na base tanto do jazz como do contemporâneo. No fundo, digamos, acabam por se tocar. O ballet está na base das outras duas disciplinas e sem uma formação inicial em ballet não se pode ser bom executante no jazz ou na dança contemporânea”, afirmou.

Questionado sobre as companhias e os executantes preferidos, Gonçalo Sobral assumiu que as companhias americanas, de uma forma geral, são excepcionalmente as melhores,  com uma qualidade de trabalho acima de outras, recordando, no entanto, que em Portugal a dança, de uma forma geral, tem vindo a evoluir de uma forma muito satisfatória ao nível dos executantes, mas também das coreografias. “Conheço muitas companhias da Área Metropolitana do Porto que têm evoluído de forma muita satisfatória, integram excelentes alunos e professores e são já uma referência no universo da dança e no meio artístico”, reforçou.

“Dança e as actividades do meio artístico não gozam do mesmo reconhecimento do futebol, por exemplo”

Falando do seu futuro profissional, Gonçalo Sobral realçou que gostava de conciliar a dança com uma profissão, talvez na área da medicina, por influência do irmão mais velho que frequenta o curso de Medicina em Coimbra.

“Ainda não defini bem o que quero fazer profissionalmente, mas estou bastante inclinado para a área da saúde e se for possível conciliar o curso com a dança e manter esta ligação à Lampadinha. Depender só da dança acho difícil além do mais porque é extremamente difícil fazer carreira em Portugal na dança, a entrada para as melhores escolas é difícil e além do mais a dança e as actividades do meio artístico não gozam do mesmo reconhecimento do futebol, por exemplo”, manifestou.

O vencedor do prémio Melhor Bailarino Teens relevou, por outro lado, que é fundamental haver uma maior aposta na área cultural, valorizando o teatro, mas também da dança. “Acho que deveria existir uma maior aposta dos poderes públicos relativamente ao meio artístico. A dança faz parte da nossa cultura. Falo na dança, mas, também, o teatro e das outras artes do palco. É necessário existirem meios, equipamentos culturais e apoios porque só assim as escolas e as instituições ligadas ao meio artístico conseguem ver o seu trabalho reconhecido e devidamente valorizado”, adiantou.

“O Gonçalo tem de fazer um curso. São poucos os que conseguem seguir a dança a tempo inteiro”

Rui Sobral, pai de Gonçalo Sobral, reconheceu  estar orgulhoso pelo prémio atribuído ao filho. “É evidente que qualquer pai fica orgulhoso quando vê o trabalho do seu filho ser distinguido. Grande parte do mérito é dele, mas também da escola, dos professores, meu e da minha esposa que sempre apoiamos a decisão dele de seguir a dança, acompanhando-o nos espectáculos, nos ensaios e nas competições”, atestou.

O progenitor relevou que além da dança, a prioridade do filho deve ser a formação académica. “Como pai sempre respeitei as opiniões e as preferências do Gonçalo, mas acho que além da dança que é um completo fundamental à sua formação deveria ter uma profissão. O Gonçalo tem de fazer um curso. São poucos os que conseguem seguir a dança a tempo inteiro, o que não quer dizer que ele não possa continuar a exercer uma actividade e fazer da dança um complemento. Conheço inúmeros casos de performers e mesmo actores que fizeram uma formação na dança, iniciaram a sua actividade artística e, hoje, estão no teatro e noutras áreas”, reiterou.

“Os nossos alunos estudam no ensino regular e universidades no norte do país, são alunos de excelência e ainda têm tempo para se dedicar ao ensino artístico e são muito felizes connosco”

A directora da Lampadinha Penafiel, Ana Paula, realçou que a obtenção destes prémios na Galiza, num festival que foi amplamente divulgado em Espanha, foi corolário de um trabalho que a academia iniciou há muitos anos, com alunos que entraram na escola ainda com seis, sete anos e são hoje excelentes executantes.

“Tendo em conta que somos ensino suplectivo, regozijamos-nos da nossa filosofia de ensino. Os nossos alunos estudam no ensino regular e universidades no Norte do país, são alunos de excelência e ainda têm tempo para se dedicar ao ensino artístico e são muito felizes connosco”, concretizou, reiterando que a escola é reconhecida pela Escola Superior da Dança, pela Universidade de Motricidade Humana e trabalha com coreógrafos reconhecidos a nível nacional e internacional.

Quanto aos prémios obtidos em Espanha, a directora da academia, que é também directora artística e pedagógica, confessou não ter ficado surpreendida com as distinções que foram conferidas ao alunos da academia.

“Sempre que participamos nalgum festival ou competição, damos o nosso melhor, procuramos dignificar o nome da Lampadinha e fazer um trabalho limpo, bem organizado e estruturado. É evidente que quem vai competir não sabe o que vai encontrar, mas a minha preocupação é que os meus alunos saibam estar em palco e dêem o seu melhor”, confessou, reforçando que o Gonçalo Sobral é um jovem com imenso talento e que tem condições para ir muito mais além e continuar a brilhar e a dignificar o trabalho da Lampadinha.

“O Gonçalo tem muito talento, mas tem muito mais para dar”

“O Gonçalo tem muito talento, mas tem muito mais para dar”, declarou, precisando que o trabalho da academia não passa apenas por formar executantes na dança ou no teatro musical, mas formar cidadãos e transmitir-lhes valores.

“A Lampadinha pretende dar o maior suporte de formação aos seus alunos, respeitar a sua infância, adolescência e juventude, dar oportunidade de brincarem, divertirem-se, estarem com as suas famílias e, paralelamente, dar formação artística no tempo certo, de forma a fazerem as suas escolhas para a vida com solidez e responsabilidade”, expressou.

Ana Paula mostrou-se também agradada pelo facto do presidente da Câmara de Penafiel e a sua vice-presidente recentemente terem avançado publicamente que Penafiel vai finalmente dispor de um espaço com as condições para promover não apenas a dança, mas outras manifestações artísticas.

“Felizmente que vamos dispor de um equipamento à altura. A Câmara de Penafiel aspira e tem trabalhado para que a cidade disponha de um equipamento cultural e isso vai fazer a diferença e vai permitir à Lampadinha mostrar o que faz. A maior parte das pessoas não conhece o nosso trabalho.  As pessoas vão ter uma percepção diferente do nosso trabalho”, defendeu.

Foto: Lampadinha