Um formando do núcleo de Ermesinde do CENFIM – Centro de Formação Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica foi campeão nacional de Desenho de Construções Mecânicas e vai representar o país no Campeonato Europeu de Profissões, na Áustria, em Setembro. Se conseguir bons resultados, como espera, segue-se o Mundial.
João Teixeira conquistou ainda, recentemente, a Medalha de Ouro (campeão nacional) em Prototipagem Rápida no 1.º Campeonato Nacional de Profissões Digitais, iniciativa do IEFP/WorldSkills Portugal, que tem “como objectivos principais sensibilizar a sociedade para a importância das qualificações na área do digital, dar corpo às orientações europeias e nacionais em matéria da educação e formação digital e responder ao desafio da WorldSkills Internacional de tornar 2021 no Ano da Inovação”. Participaram 116 concorrentes, entre os 16 e 35 anos, pondo à prova as competências em 18 profissões. A prova contou com parceiros de referência a nível nacional e mundial na área do digital, como a Microsoft, a Amazon, a CISCO ou a Google.
“Se quisesse parar agora de estudar já tinha emprego garantido”
João Teixeira tem 20 anos e é natural de Sardoura, Castelo de Paiva. Chegou a fazer o 11.º ano no ensino regular, na área de Ciências, mas não estava satisfeito. “Sempre gostei mais da prática”, reconhece. Foi por sugestão de um familiar que procurou alternativas no ensino profissional. Gostou do curso de Desenho porque engloba o digital e o computador e escolheu o CENFIM de Ermesinde para recomeçar. “Dei dois passos atrás para dar quatro ou cinco à frente”, garante agora. “Sinto-me realizado e tenho uma área profissional à minha espera”, acredita o formando o curso Técnico de Desenho de Construções Mecânicas. Mas isso não o impede de ambicionar seguir para o ensino superior, para os cursos de Engenharia Mecânica ou Electrotécnica, algo que nunca imaginou quando frequentou o ensino secundário regular.
“Mas se quisesse parar agora de estudar já tinha emprego garantido. Aqui só não tem emprego quem não quer”, afirma o jovem.
Foi quando veio para o CENFIM que conheceu os campeonatos das profissões e um ex-concorrente, o que lhe deu vontade de participar. Logo na primeira competição, no campeonato interno do CENFIM, ficou em 2.º lugar. “Não estava à espera e isso motivou-me a continuar”, explica João Teixeira.
Seguiu-se o Campeonato Nacional, em Fevereiro de 2020, em Setúbal, que venceu, conquistando uma medalha de ouro na sua categoria. “Foi um misto de emoções. Começou bem, consegui fazer todas as tarefas, mas no dia a seguir apercebi-me que por um pequeno erro tudo o que tinha feito não era válido. Estava a zeros na pontuação. Mas nos dias seguintes consegui recuperar. Estava à espera de ganhar, os meus preparadores têm vasta experiência e sabia que estava bem preparado, mas não fui convencido da vitória”, descreve. Apresenta os campeonatos como momentos de confraternização, com gente de todo o país, e de aprendizagem.
Esta vitória apurou-o para o Europeu, que devia ter sido o ano passado, mas foi adiado um ano devido à pandemia. É em Setembro deste ano e tem andado em preparação. “Ir ao Europeu é responsabilidade maior. Quero fazer o meu melhor e é possível que isso traga bons resultados. Mas não consigo prever a qualidade dos meus oponentes e estamos todos a trabalhar para o mesmo”, sustenta o jovem, não escondendo que quer um bom resultado para ir ao Mundial.
O campeonato contará com três provas, de oito horas, desde o desenho à construção de um modelo físico, sempre com a necessidade de se arranjarem soluções “sob pressão”. Por isso, além dos tempos livres, nos períodos próximos às competições, dedica-se quase a 100% aos campeonatos. “É o equivalente ao que acontece no mercado de trabalho e a necessidade de cumprir prazos. Quando estou a treinar não falo com ninguém, fico focado no que estou a fazer”, refere.
Sobre o futuro, diz que gosta de criar máquinas, está a criar uma para uma empresa, mas também gosta da formação e de partilhar conhecimento.
Campeonatos são “uma grande montra de tudo o que está a acontecer na formação profissional”
Dário Pinto é director do centro e um antigo aluno. Está ali há 25 anos e já acompanhou formandos pela competição mundo fora.
“Vamos sempre aos campeonatos e temos tido sempre campeões. Do mundial já trouxemos uma medalha de bronze” e ficaram a décimas de outras, afirma. “O João será um dos jovens com o nível mais alto de sempre”, antecipa.
“O treino é o mesmo que se faz com um atleta de alta competição. A disponibilidade para trabalhar tem a ver com a paixão que se cria”, acredita ainda Dário Pinto, que não tem dúvidas sobre as potencialidades dos campeonatos que são “uma grande montra de tudo o que está a acontecer na formação profissional”.
“Conhecem-se modelos de formação de outros países, percebem-se as tecnologias usadas e o que o mercado está a pedir. Nota-se muito a evolução de uma competição para a outra”, sustenta.
Também não duvida sobre a empregabilidade que é conseguida através da formação profissional. “Temos uma empregabilidade de 300%”, adianta.
Ao lado, a preparar os concorrentes, tem Marlene Moreira, de Parada de Todeia, Paredes, uma antiga formanda que agora dá aulas, faz coordenação dos cursos de nível 5 e acompanha os formandos dos campeonatos.
Agora com 34 anos, foi campeã nacional e foi ao Mundial do Japão, em 2007, onde conseguiu uma Medalha de Excelência, a primeira de Portugal em Desenho Industrial – Projecto CAD. “É uma distinção atribuída aos formandos de alto desempenho que não chegam ao pódio”, esclarece.
Marlene Moreira usa a experiência adquirida para ajudar os mais jovens. “A partir do momento em que se entra no campeonato percebe-se que é preciso muito trabalho. As pessoas que estão envolvidas nos concursos têm uma evolução muito mais rápida. Ver os resultados é incentivo. E a competição também ajudou a conhecer-me e a ver que era capaz de fazer mais do que pensava, assim como a aprender a gerir as emoções, a organizar o trabalho e a planear”, dá como exemplo.