Joaquim Bismarck Pinto Lopes tem 73 anos de idade e é presidente e fundador do Grupo Pinto Lopes. Natural de Cete, Paredes, é uma figura incontornável do mundo dos transportes e das viagens, tendo transportado e viajado com inúmeros turistas de toda a região e do país para os lugares mais recônditos que se possa imaginar.
Viajou para centenas de países, conheceu culturas e conseguiu concretizar o sonho de muitas pessoas. Hoje mantém-se no activo e apaixonado pelas viagens. E confessa que ainda há locais que sonha visitar.
Esta sexta-feira, será homenageado pelo Rotary Club de Paredes em mais uma homenagem ao profissional.
Fez uma viagem pela Europa aos 20 anos num Fiat 600
Joaquim Pinto Lopes recebeu-nos em casa com uma simplicidade desarmante. Confessou ser, hoje, um homem realizado, apesar das dificuldades e “da travessia que teve de fazer no deserto”.
Ao Verdadeiro Olhar, o natural de Cete destacou que a história da sua empresa, fundada em 1974, e a sua ligação aos transportes está intrinsecamente ligada aos seus antepassados e ao século XIX, mais concretamente desde 1862.
“Já o meu bisavô, quando comboio começou a apitar em Cete, trazia tanto o correio como os passageiros de Castelo de Paiva, de S. Vicente, da Ribeira, da Calçada para Cete, para o comboio em carruagens de tracção animal, os designados coches. Inclusivamente, a ponte Hintze Ribeiro foi inaugurada por uma carruagem do meu bisavô”, disse, salientando que iniciou o seu percurso profissional e a incursão pelo negócio doa transportes e das viagens na empresa Alpendurada que mais tarde integrou o grupo ASA Douro.
“Quando surgiram os autocarros, o meu avô, e depois o meu pai, começou a adquirir este meio de transporte. Assim que cheguei da tropa fiquei a trabalhar na empresa que fazia transportes para Penafiel, para Paredes e outras localidades. A empresa passou a chamar-se empresa Alpendurada. Posteriormente fizemos uma fusão, compramos uma empresa que era a Soares Oliveira e a empresa passou a designar-se Asa Douro. O autocarro que caiu na ponte Hintze Ribeiro era meu”, assumiu, salientando que a sua empresa chegou a servir 12 concelhos desde o Porto até Lamego, Resende, Mesão Frio, Baião, Marco de Canaveses, Cinfães, entre outras.
“Fazíamos os transportes escolares e as carreiras. Éramos uma empresa de referência, mas que não recebia. Não pagavam, então, optamos por vendê-la”, acrescentou.
Em 1973, Joaquim Bismarck Pinto Lopes fez a sua primeira viagem de grupo pela Europa. Tinha pouco mais de 20 anos e meteu-se à estrada no seu Fiat 600. Foi o início de uma aventura que nunca mais largou, dando início a um novo ciclo de viagens e uma nova dimensão à empresa.
“A primeira viagem foi uma viagem em campismo, com um grupo de amigos. No ano seguinte deu-se a revolução de 1974. Fiz muitas viagens em campismo, levávamos tendas, tachos e panelas e transportei muitas pessoas de Paredes”, recorda. “Existiam vários grupos de Paredes que viajavam todos os anos para sítios diferentes. Começamos por conhecer o Algarve e mais tarde Espanha, França, Bélgica, Holanda, estive na Checoslováquia, na Hungria e na Turquia”, lembrou, sustentando que mais tarde começou a fazer viagens em campismo e em hotel, sempre com o propósito de acompanhar as tendências do mercado e satisfazer os clientes.
Desde essa data, Joaquim Pinto Lopes garantiu que a empresa tem operado para praticamente todo o mundo, transpondo barreiras quase intransponíveis e entrando em países que, à data, muitos julgavam impossíveis. “Todos os anos fazia circuitos diferentes, ia à Noruega ao cabo Norte, no ano seguinte à Finlândia e à ex-URSS e alguns países do bloco de leste, alguns dos quais já não existem, a países socialistas”, concretizou, salientando que o que distingue a sua empresa de outras são os programas de viagens diferenciados, a aposta em produtos alternativos que as outras operadoras não oferecem.
“A última viagem que fizemos, no ano passado, foi uma viagem à Guiné-Bissau. Claro que não é qualquer agência que promove um turismo para a Guiné-Bissau, mas tenho clientes que querem ir, existe mercado. Fiz a viagem com a lotação esgotada e este ano já agendamos voltar lá”, expressou.
“A minha empresa não tem barreiras. Fazemos viagens para todo o mundo”
Joaquim Pinto Lopes realçou, também, que além da aposta na modernização, a criação de duas agências, uma no Porto e outra em Lisboa, e o incremento de produtos como as viagens culturais e de autor, em que os viajantes e os turistas contam com a companhia de um escritor, fez com que a agência Pinto Lopes continuasse a prosperar e a distinguir-se das demais.
“A minha empresa não tem barreiras. Hoje em dia, fazemos viagens para todo o mundo. Já há vários anos que promovemos viagens com autores e tem sido um sucesso. Quem viaja connosco gosta muito dos autores. Esta última viagem que fiz foi com o fotógrafo, Luís Pedro Nunes”, conta.
“O que nos distingue dos demais operadores e onde reside o nosso sucesso é o facto de vendermos o que já conhecemos. Já fui a Veneza inúmeras vezes, a Paris idem aspas. Conhecemos muito bem o mundo”, confirmou, frisando que no início da fundação da empresa antes de fazer qualquer viagem de autocarro, fazia-a primeiro de carro, ia ver os parques de campismo, os hotéis, os sítios que lhe interessavam.
“Preparava tudo antes de fazer as viagens. Nos anos seguintes já não necessitava de lá voltar porque já tinha contactos. Hoje somos conhecidos e temos já uma certa visibilidade e projecção neste meio”, atestou.
Ao Verdadeiro Olhar, Joaquim Pinto Lopes confessou que entre as viagens que mais o marcaram está a realizada à ex-Checoslováquia, mas, também, a realizada com o escritor José Rodrigues dos Santos à Antárctida.
“Para mim Praga continua a ser das cidades mais bonitas do mundo. Na América Latina, a Bolívia é dos países mais encantadores. Gostei muito de ir à Antárctida. É de facto uma viagem completamente diferente de todas as outras que já fiz. Fomos à Argentina e depois seguimos viagem de barco até à Antárctida, num barco relativamente pequeno com 100 turistas. Fomos até onde ele podia navegar. Foi uma viagem que me marcou imenso. Estamos a falar de um sítio onde não existem homens em que as condições de vida são extremamente severas, onde existem apenas pinguins, aves, golfinhos, baleias e as lutas são titânicas entre os pinguins, com as aves a tentar rapinar-lhes os filhos”, contou, acrescentando que já viajou inclusive para a Coreia do Norte.
Empresa familiar onde já colaboram os três filhos
Nos últimos anos, a empresa, que conta com a colaboração dos seus três filhos do empresário e tem 50 funcionários, expandiu-se e abriu duas agências, uma no Porto e outra em Lisboa.
“Seguindo o curso natural dos acontecimentos, em Junho de 1994 inauguramos o espaço físico, na Rua Alexandre Herculano, a que simplesmente chamei ‘Pinto Lopes Viagens’. Adaptamo-nos às exigências do mercado, redefinimos estratégias, dotámo-nos de meios eficazes para dar resposta às exigências dos clientes. Tornámo-nos mais fortes e competitivos, apostando na dedicação, Inovação e qualidade, mas também, na satisfação do cliente”, afiançou.
Em 2006, a Pinto Lopes Viagens transfere-se para as novas instalações da Rua Pinto Bessa, também na cidade do Porto e, em 2012, e em plena crise económico-financeira, abre uma agência em Lisboa.
Mercado nacional continua a ser apetecível
O empresário paredense relevou, também, que além da aposta no mercado internacional, a Pinto Lopes Viagens mantém uma apetência pelo mercado nacional e pelos vários produtos e pacotes turísticos que o país tem para oferecer.
“O mercado nacional continua a ser bastante apetecível para os operadores turísticos. Temos uma excelente gastronomia, condições naturais e atmosféricas únicas, sol e somos um país de brandos costumes”, retorquiu, confirmando que essa é uma vantagem competitiva quando comprada com o que os outros países têm para oferecer, nomeadamente o Norte de África, o Egipto Israel e até a Grécia que já não são tão procurados pelos turistas.
“Acho que vamos continuar a ser um país apetecível e o turismo irá continuar a ser o motor da economia. O sector tem crescido imenso”, asseverou, manifestando que a Região do Vale do Sousa só tem a ganhar com esta dinâmica de crescimento. “O Tâmega e Sousa é uma região que mudou. Tem muitas potencialidades, desde a Rota do Românico e outros produtos que podem ser potenciados e que são um atractivo, sobretudo para os países nórdicos”, anuiu.
“Esta homenagem apanhou-me totalmente de surpresa. Não fiz nada do outro mundo, mas obviamente que fiquei sensibilizado”
Sobre a homenagem que lhe vai ser conferida, esta sexta-feira, pelo Rotary Club de Paredes, Joaquim Pinto Lopes confessou que não esperava ser alvo de uma distinção e que não a fez nada para a merecer.
“Esta homenagem apanhou-me totalmente de surpresa. Não fiz nada do outro mundo, mas obviamente que fiquei sensibilizado. Comecei com muitas dificuldades, fiz a travessia do deserto, a empresa cresceu paulatinamente, adaptei-me às novas tecnologias e hoje somos uma agência e um operador de viagens consolidado no mercado que tem um número crescente de clientes”, declarou, reconhecendo que é um homem realizado que sempre teve a paixão pelas viagens e que se mantém no activo, participando nos programas turísticos, dando o seu contributo e transportando para a Pinto Lopes Viagens o seu conhecimento e saberes acumulados.
“Tenho os meus filhos que desempenham funções na empresa, mas mantenho a actividade, ajudo na preparação dos programas e acompanho nas viagens que nunca fiz”, afirmou.
Ao Verdadeiro Olhar, o empresário revelou, também, que irá continuar a viajar ao serviço da empresa e tem já preparada a realização de uma viagem de autocarro de seis dias, pela mítica Estrada Nacional 2 desde Chaves até Faro, numa distância de mais de 700 quilómetros. Além de fazer a EN2, Joaquim Pinto Lopes referiu que quer ir ao Zanzibar, às Seicheles e ao Norte de Madagáscar.
“Uma figura carismática que marcou muitos paredenses”
A presidente do Rotary Club de Penafiel, Alda Neto, destacou que esta homenagem ao empresário paredense se enquadra na filosofia do movimento que todos os anos distingue um profissional do concelho que se tenha destacado em diferentes áreas.
“O senhor Pinto Lopes é uma pessoa que, não sendo do mobiliário, uma das actividades económicas dominantes no concelho, tem contribuído para divulgar o nome de Paredes por onde passa e trazer o mundo até Paredes”, afirmou.
Já Rui Cunha, responsável pela homenagem ao profissional do Rotary Club de Paredes, garantiu que em Paredes são poucos os que não conhecem o homenageado. “Quase toda a gente do concelho com 60, 70 anos, o conhece. Não há ninguém que não tenha ouvido falar do senhor Pinto Lopes e que não tenha feito uma viagem com ele. É uma figura carismática que desenvolveu um tipo de negócio que marcou toda uma geração, transportou inúmeros paredenses pela Europa fora”, adiantou, elogiando a persistência e a resiliência de Pinto Lopes que continua a fazer de guia e a colaborar activamente nas viagens.