Em Julho de 2015 foi dada autorização, por parte das entidades responsáveis, para a introdução em Portugal de um insecto exótico, uma pequena vespa (Trichilogaster acaciaelongifoliae) com o objetivo de combater a planta invasora, acácia-de-espigas (Acacia longifolia).
As muitas experiências de introdução de espécies exóticas têm tido consequências negativas, sendo que algumas das espécies introduzidas adquirirem um carácter invasor, com consequências negativas do ponto de vista económico e ambiental.
A propagação de espécies exóticas e invasoras é apontada como uma das principais causas da perda de biodiversidade e degradação dos serviços dos ecossistemas em toda a EU e no mundo. Estima-se que causem, só na União Europeia, um prejuízo anual de pelo menos 12 mil milhões de euros.
A Quercus compreende e respeita todo o trabalho científico realizado ao longo dos últimos 12 anos por parte da equipa de investigadores que lideraram estas experiências, mas, sendo a Quercus, por princípio, contra a introdução de espécies exóticas, parece-nos insuficiente o número de ensaios realizados até ao momento.
Por todo o mundo, a introdução de espécies exóticas, mesmo com o objectivo de controlar outras espécies exóticas, tem-se revelado desastrosa, com efeitos inesperados a longo prazo e com consequências gravíssimas para a conservação da natureza e para a economia. Tal facto deve servir como aviso para que os Estados parem com a introdução deliberada de espécies.
É alegado, por parte dos investigadores, que a introdução desta vespa será importante no combate a uma espécie de flora exótica- a acácia-de espigas.
É também utilizado o argumento de que a introdução desta espécie de insecto diminuirá em 85% a produção de sementes por parte da acácia acima referida.
A Quercus considera que, mesmo que se verifique este resultado não se justifica a introdução desta vespa, uma vez que cada planta de acácia-de-espigas, mesmo que produza apenas 15% das sementes, continuará a produzir, anualmente, centenas ou milhares de sementes. Esta produção de sementes é mais que suficiente para que a acácia existente mantenha a sua área de distribuição actual e que se expanda para novas áreas. Existem vários milhões de pés de acácias desta espécie em Portugal, o que faz com que a quantidade de semente produzida anualmente seja na ordem dos milhares de milhões.
A introdução de espécies exóticas na Natureza pode originar situações de predação ou competição com espécies autóctones, a transmissão de agentes patogénicos ou de parasitas e afectar seriamente a diversidade biológica, as actividades económicas ou a saúde pública, com prejuízos irreversíveis e de difícil contabilização. Os insectos podem começar a atacar outras espécies vegetais ou competir com espécies nativas – este risco existe a curto prazo e a longo prazo.
Relativamente a esta possibilidade convém referir que há registos de o insecto ter depositado ovos em, pelo menos, uma espécie de arbusto autóctone, conforme esclarecimento prestado à Quercus por uma das investigadoras que acompanha este estudo.
Assim como, há registos do insecto ter depositado ovos, em laboratório, na espécie Vitis vinífera, a videira mais cultivada para produção de vinho na Europa. Apesar de não ter ocorrido a formação de galhas em nenhuma destas espécies, relembra-se a elevada importância socioeconómica da vitivinicultura no nosso país e os prejuízos catastróficos que poderão advir do ataque desta vespa às videiras. Os insectos podem transportar bactérias, vírus ou outros agentes patogénicos que podem vir atacar outros insectos ou mesmo plantas nativas de Portugal.
Não foi esclarecido de que se alimentam os indivíduos adultos desta espécie de vespa. Quais serão os efeitos junto das comunidades de insectos nativas?
Face aos inúmeros riscos e os reduzidos resultados esperados, a Quercus entende que se deveria suspender o processo de introdução da vespa Trichilogaster acaciaelongifoliae, até que as dúvidas apontadas sejam cabalmente respondidas.