Há umas décadas, o Presidente norte-americano Richard Nixon foi apanhado numa teia de mentiras que tiveram graves consequências, acabando por ditar o seu pedido de demissão. No entanto, o tempo passou e parece que as mentiras na política se tornaram um hábito e deixaram, até, de ter consequências. Agora é moda apresentar mentiras como verdades, prometer fazer aquilo que nunca se poderá cumprir e lançar acusações sobre os adversários completamente destituídas de fundamentação.
Vem isto a propósito do relatório e contas de 2017 do Município de Paredes. As contas foram aprovadas unanimemente pelos vereadores. Ora, na quase totalidade, essas contas diziam respeito à gestão do PSD durante o ano de 2017, por isso, nada mais normal do que os vereadores sociais-democratas as aprovarem. Outro caso deveria ser o da votação dos vereadores socialistas, que também as aprovaram, quando as contas, afinal, desdizem aquilo que os socialistas apregoaram aos quatro ventos durante a campanha eleitoral.
Vejamos: quando eram candidatos às eleições, os agora vereadores socialistas juravam a pés juntos que a divida municipal era de 112 milhões de euros. Disseram-no em comícios, em debates, escreveram-no nos seus prospectos de campanha, para agora, formalmente, aprovarem um documento que afirma que a divida municipal é menos de metade do que aquele número que tantas vezes divulgaram. É certo que agora se refugiam na palavra “passivo”, tentando baralhar a opinião publica, quando sabem muito bem qual é a diferença entre dívida e passivo.
Pode-se mentir de muitas formas, até dizendo a verdade. Conta-se a história daquele imediato que, zangado com o comandante do navio, escreveu no diário de bordo: “Hoje, o capitão não se embebedou.” O que ele escreveu era verdade, só que escolheu as palavras de modo a fazer crer a quem lesse que nos outros dias o capitão se embebedava, o que era mentira.
Usar mentiras para ganhar eleições pode prejudicar gravemente o futuro da população, além de lhe retirar dignidade. Por isso, é preciso dizer “não” a este procedimento e deixar de dar razões à população de que a mentira é inata aos políticos. É preciso que as mentiras sejam identificadas e que tenham consequências. A primeira dessas consequências deveria ser a apresentação pública de um pedido de desculpas.