Independências

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A decisão dos Britânicos de o Reino Unido abandonar a União Europeia parece ditada por um certo egoísmo nacionalista e vai ao arrepio de uma desejável solidariedade entre os povos europeus. As negociações para a concretização do Brexit apontam para as grandes dificuldades do processo e não parece possível um desfecho benéfico para ambas as partes. Pelo contrário, as consequências, sobretudo para o Reino Unido, afiguram-se sombrias. A Escócia, que rejeitou o Brexit, poderá recorrer a outro referendo sobre a sua própria independência relativamente ao Reino Unido para conservar os laços à União Europeia, com os recursos e um território cuja área é cerca de um terço da Grã-Bretanha.

É também patente o desconforto da Irlanda do Norte face à eventual criação de nova fronteira com a República da Irlanda, com todas as complicações que tal determinaria e quem sabe se tal não poderá levar à unificação das duas Irlandas. Os prejuizos do Brexit serão também na esfera económica: só para citar um exemplo, considerem-se os efeitos da deslocalização das centenas de funcionários da Agência Europeia do Medicamento, cuja sede mudará do Reino Unido para um país do continente, o qual passará a usufruir do consumo desses funcionários em termos de alojamento, alimentação e gastos de todo o tipo.

Outro fenómeno de independentismo é o que se observa na Catalunha, apesar de a sua população parecer maioritariamente preferir manter-se integrada na Espanha. Acontece, porém, que os independentistas exteriorizam muito mais as suas convicções, tendo-se chegado à realização de um referendo que pretende ter tido um resultado 90% favorável à independência. Esta foi depois declarada pelo parlamento catalão, mesmo em face do descalabro económico representado pelo abandono de mais de 1700 empresas que decidiram colocar as suas sedes sociais em outras cidades fora da Catalunha.

Note-se que este território, antigamente integrado no reino de Aragão, nunca foi independente. Nisto contrasta com a Escócia, que foi independente por mais de oito séculos antes da sua integração com a Inglaterra, no início do Séc. XVIII. A Catalunha usufrui já de grande autonomia, como por exemplo o domínio da língua catalã face ao Castelhano. Por mais meritória que seja a conservação deste elemento cultural de um povo, não é difícil calcular os problemas que enfrenta, entre muitas outras circunstâncias, a integração em escolas catalãs das crianças cujas famílias vêm de outras regiões espanholas. Num curioso mapa, mostrava-se o aspeto da Espanha se todas as regiões com maiores ou menores anseios independentistas os concretizassem: ficavam os “nuestros hermanos” pulverizados em nada menos de 12 países “independentes”!

O que é bom para Espanha é bom para Portugal, e com algum otimismo é de esperar que os ares serenem numa Catalunha pacificamente integrada com todos os espanhois. E, já agora, talvez inventando um “Briback”, que o Reino Unido reconsidere o Brexit e regresse à sua – e nossa – casa europeia.