Há um ano atrás, Manuela Fernandes não tinha a qualidade de vida que tem hoje. As perdas de urina influenciavam o seu dia-a-dia e as suas escolhas.
“Gosto de fazer aeróbica e deixei de o fazer porque sempre que fazia movimentos mais bruscos havia perdas. Às vezes ia a correr pela praia com os meus filhos e pensava ‘vou correr mais devagar porque posso ter uma perda’. E mesmo com o marido estas situações deixam-nos constrangidas e pensamos “não vamos fazer esta posição porque vou ter perdas’”, recorda.
Apesar da vergonha, há pouco mais de um ano atrás falou da situação à médica de família que a encaminhou para o Hospital Padre Américo, em Penafiel. “As pessoas não são capazes de falar, mesmo ao médico de família. Falta abertura para nos queixarmos que há pequenas perdas”, reconhece.
Em Janeiro teve a primeira consulta, em Fevereiro estava a ser operada. E a vida voltou a mudar, garante. “Devia haver mais divulgação sobre o tema. O exercício não resolve todos os casos, mas todos deviam aprender os exercícios para fortalecer o músculo pélvico”, defende Manuela Fernandes, de 45 anos.
O Serviço de Urologia do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS) assinalou, esta terça-feira, o Dia Mundial da Incontinência Urinária. O objectivo é sensibilizar as pessoas para esta patologia e quebrar tabus.
A vergonha faz com que muitas pessoas não peçam ajuda, apenas 10% o faz. Em 90% dos casos, o problema tem solução.
Um em cada cinco portugueses sofre de incontinência urinária
Durante toda a manhã desta terça-feira, o auditório do Hospital Padre Américo foi pequeno para acolher todos os profissionais e população em geral que quiseram aprender mais sobre a incontinência urinária, os seus sintomas, tratamentos e formas de prevenção.
As estatísticas indicam que um em cada cinco portugueses (20%) acima dos 40 anos sofrem de incontinência urinária, ou seja, perda involuntária de urina.
“Este dia existe porque este é um problema sério em todo o mundo e que diminui, de forma às vezes extremamente dramática, a qualidade de vida da pessoa atingida e também da família. Uma família onde existe alguém com uma incontinência urinária grave é uma família que não pode funcionar bem, porque há um elemento que não se sente bem”, salienta o director do Serviço de Urologia do CHTS.
Apesar de não haver dados concretos sobre a prevalência na região, Joaquim Lindoro acredita que será semelhante à nacional. “O problema é cada vez mais prevalente devido ao envelhecimento demográfico. A incontinência urinária aumenta de prevalência com o envelhecimento, quaisquer que sejam as causas”, sustenta o médico.
Esta patologia afecta mais as mulheres, nas idades mais jovens, embora a percentagem tenda a equilibrar-se nas idades mais avançadas.
É fundamental pedir ajuda
A incontinência urinária altera a vida pessoal, familiar e laboral dos doentes, mas mesmo assim, são muitas as pessoas que não pedem ajuda, explica o enfermeiro responsável pelo Serviço de Urologia. “As pessoas devem estar atentas a esta problemática e pedir ajuda através do médico de família. Isso é fundamental. Os números mostram que apenas 10 a 20% das pessoas com incontinência urinária pedem ajuda. É uma percentagem muito pequena”, lamenta Rogério Pacheco. “Isto é tabu, as pessoas têm vergonha de pedir ajuda e não sabem como reagir”, assume.
Por isso, “é preciso consciencializar as pessoas para que o problema seja resolvido e a qualidade de vida melhore”. Até porque, salienta o enfermeiro, o problema tem solução em 90% dos casos, podendo passar por cirurgia, reabilitação dos músculos ou medicação.
Durante a sessão de abertura do evento, o presidente do conselho de admistração do CHTS salientou a importância da temática e de desmistificar o tema, reforçando “a confiança no trabalho realizado pelo centro hospitalar”.
Para continuar a sensibilizar a população, o Serviço de Urologia vai realizar umas jornadas multidisciplinares, a 29 Setembro, no Museu Municipal de Penafiel.
O que é a incontinência urinária?
A incontinência urinária consiste na perda involuntária de urina. É mais frequente na população mais idosa o que leva muitas pessoas a acreditar que é algo “normal”.
Mas a incontinência afecta pessoas de qualquer idade e sobretudo mulheres. Pode tratar-se de incontinência por bexiga hiperactiva (urgência), quando as pessoas sentem uma vontade súbita de urinar, associada a um aumento de frequência urinária e a perdas de urina. Está muitas vezes associada a perturbações mentais, ansiedade, acidentes vasculares cerebrais e demência, por exemplo. Ou pode tratar-se de uma incontinência por esforço, ligada ao esforço muscular e a actos como tossir, espirrar ou rir. Na mulher é muitas vezes causada por alterações hormonais, gravidez ou parto e pela idade.
O tratamento depende do tipo de incontinência e vai desde a reabilitação muscular e alteração de comportamentos até à cirurgia.
Na maior parte dos casos a incontinência urinária é curável e de fácil tratamento, sobretudo se for detectada numa fase inicial.