A zona dos Lagueirões, na freguesia de Valongo, deixará em breve de ser o exemplo máximo da mancha que são as construções inacabadas, há mais de uma década, na paisagem do concelho. Os dois esqueletos gigantes que existem na Avenida dr. Fernando Melo foram adquiridos à banca por construtores e promotores imobiliários que vão finalizar a edificação e colocar no mercado cerca de 300 habitações, num investimento que ronda os 17 milhões de euros.
A imagem vai mudar nos Lagueirões. Esta zona da freguesia de Valongo tem sido sempre usada como exemplo do resultado da crise económica que afectou duramente o sector da construção civil e do estagnamento da procura de casa que deixou várias construções inacabadas e vários metros quadrados manchados por betão armado sem solução à vista. Agora, e depois de um trabalho de mediação por parte da Câmara Municipal de Valongo entre a banca e empresários há solução para estes dois edifícios. E é com a noção do trabalho realizado e da solução alcançada que o presidente da autarquia afirma que “neste mandato, os prédios inacabados nos Lagueirões acabaram”. “Tornaram-se o exemplo supremo dos inacabados. Vai acabar e significa que estamos no bom caminho”, disse José Manuel Ribeiro, frisando que as restantes situações no concelho, todas na freguesia de Valongo, “também acabarão por ser resolvidas”.
Problema é consequência da crise e da falta de planeamento
Segundo explicou José Manuel Ribeiro ao VERDADEIRO OLHAR existem no concelho sete casos de construção inacabada, uma mancha na paisagem de há muitos anos, salientando que o problema “é consequência de vários factores”, nomeadamente do “exagero que houve a determinada altura, por falta de planeamento”. Factor não menos importante nesta equação foi o cenário de crise que se instalou e “veio criar um problema grave, sobretudo nos edificios que foram apanhados no início, porque de repente faltou procura e muitos negócios caíram e os prédios foram todos parar à mão da banca”. É a situação de seis dos sete casos cadastrados na Câmara de Valongo.
Inacabados nas mãos da banca com solução à vista
Apenas um dos casos, um conjunto de moradias inacabadas situadas na freguesia de Campo, está envolvido num processo de insolvência, sendo ainda mais complicado de encontrar uma solução. Excluindo os dois prédios nos Lagueirões, cuja reabilitação arranca já este ano, e o caso das moradias de Campo, há ainda um prédio na Quinta da Lousa, que vai ser colocado no mercado pelo banco proprietário sobre o qual está a ser preparado um concurso de obra de reabilitação. Os dois casos restantes, um na Encosta do Vale está na mão da banca e “já transmitiram que estão a ponderar concluir para colocar no mercado”, e por último, junto ao alto da serra, existe um inacabado cuja propriedade é de um fundo de um banco e “há interessados em adquirir para terminar”. “Está tudo dependente da confiança”, diz José Manuel Ribeiro, confiante na estratégia seguida. Fora das contas está a situação do edifício junto ao Park Hotel, na Fonte da Senhora. Pertencente também a um fundo imobiliário, explica o autarca, já se concluiu nas reuniões mantidas que não havendo possibilidade de avançar com uma residência sénior como previsto há já uns anos, haverá a possibilidade de avançar para unidades habitacionais.
Reabilitação desencadeia dinâmica económica
O presidente da Câmara explica que desde o início do mandato, há dois anos, que procuraram interessar as as empresas pelo problema e realizaram diversas reuniões com os bancos proprietários para perguntar o que queriam fazer. “Nós não queríamos os prédios assim neste estado, porque dá muita má imagem ao concelho”, disse, explicando que a demolição “é sempre a última opção”, uma vez que “se pudermos reabilitar e colocar mais habitação no mercado, óptimo porque também significa que vai haver uma dinâmica económica”. Tem sido esta a estratégia e que agora deu frutos, a par da aprovação do novo Plano Director Municipal e de mudanças que estão a ser preparadas que permitirá um quadro mais competitivo.
Novo regulamento propõe “redução substancial de taxas”
Para além deste trabalho de negociações e mediação, a Câmara de Valongo está a preparar um novo Regulamento de Taxas e Licenças para submeter à apreciação de todos os vereadores com uma “proposta de redução substancial das taxas”. “Vamos ter instrumentos para estimular o aparecimento de mais empresas para reabilitar”, adiantou. José Manuel Ribeiro salienta ainda que os dois casos de reabilitação de inacabados nos Lagueirões “são a prova de que está a regressar a confiança ao concelho”. “Se não houvesse confiança não vinham comprar”, afirma.
Mandatos anteriores
A requalificação do parque habitacional inacabado foi igualmente alvo de projectos de anteriores lideranças municipais. Em 2009, ainda com Fernando Melo como presidente da Câmara, houve a demolição de um prédio de sete andares, assinalando o arranque do processo que tinha como objectivo terminar com o problema dos edifícios inacabados e abandonados pelos empreiteiros ou promotores imobiliários. O contacto com a banca e promotores manteve-se durante ao mandato anterior, tendo-se concluído edificado existente e colocado também no mercado habitacional.
Investimento de sete milhões coloca 128 habitações no mercado
Não é preciso andar muitos metros para encontrar o primeiro edifício inacabado na Avenida dr. Fernando Melo, ou como é mais conhecido, nos Lagueirões. Seis pisos dispostos em L confinam com a primeira rotunda, onde aliás chegou a estar anunciada a “Nova Valongo”. A cor do tijolo e o cinza do betão já fazem parte da paisagem deste local há bem mais de 10 anos.
Mas está prestes a mudar. Daqui por um ano já deverá estar uma fase concluída e comercializada. No total serão 128 habitações, numa empreitade que deverá demorar três anos e num investimento de sete milhões de euros, de capitais próprios. A EDITEC, construtora, e a promotora Vertice Funcional são os responsáveis pelo projecto que será implementado. Marco Neves, responsável da EDITEC, em declarações ao VERDADEIRO OLHAR explica que apesar dos 15 anos de estrutura “será um edificio completamente novo e tudo o que está danificado será substituido”. A opção de um construtor por finalizar um edifício em esqueleto é fácil de explicar. “O processo é muito mais rápido, porque não temos a compra de um terreno, o projecto de arquitectura, nem licenciamento”, diz Marco Neves, salientando que “é um prédio comprado há dois meses e que rapidamente avançamos para a sua conclusão”. “Em termos de rapidez de conclusão e de negócio ganhamos dois anos”, acrescenta. A empreitada, avança, deverá começar ainda neste trimestre e demorará três anos a estar concluída. A obra, com projecto de arquitectura de Ricardo Azevedo, será feita por fases e será comercializada à medida que as habitações forem concluídas. Marco Neves não tem dúvidas que não será difícil comercializar estas habitações até porque, diz, os concelhos vizinhos já não têm casas novas. “Traremos muita gente nova para Valongo”, considera.
Esta reconstrução não é a única nem a primeira para a EDITEC, empresa de Valongo. No concelho estão com outro empreendimento, de 10 fracções em Sobrado, cuja obra aguarda apenas a licença de acabamentos. Segundo o responsável, há três anos que se lançaram neste mercado de reconstrução e acabamentos, no Porto, Oliveira de Azeméis, Vila das Aves e agora Valongo. Marco Neves vê apenas uma grande diferença neste mercado e passa pela falta de financiamento por parte da banca para suportar a conclusão dos edifícios. “A grande diferença neste mercado é que temos de ter capitais próprios e arriscar com o nosso dinheiro e acreditar no que fazemos e fazermos bem para termos sucesso nas vendas”, rematou.
“A confiança voltou a Valongo” e com ela mais investimento
Em fase de licenciamento está ainda o segundo edifício da Avenida dr. Fernando Melo, no topo dos Lagueirões, junto à escola básica do primeiro ciclo. Os sete pisos por onde seriam distribuídas 340 fracções nunca tiveram licenciamento, mas ainda assim foram crescendo até que a crise ditou a paragem. Ficou, como todos os outros, nas mãos dos bancos.
Agora foi adquirido pela empresa Soluções Fáceis, também de Valongo, que está a concluir o projecto para submeter o pedido de licenciamento da obra. Sob o lema “a confiança voltou a Valongo”, o empreendimento NeoVallis tem o projecto de arquitectura da autoria de Ricardo Moreira, do gabinete de Camilo Moreira, terá cerca de 170 fracções, de T1 a T4 e duas lojas comerciais. O desenho dos espaços públicos e privados de lazer, sublinham, privilegiam o contacto com a natureza e com os espaços verdes. O empreendimento terá ainda uma piscina. O projecto significa um investimento de 10 milhões de euros, na reabilitação de um dos maiores imóveis inacabados existente na região norte, segundo descreve a empresa especializada na reabilitação de edifícios inacabados.
Tomás Cunha e Rui Cunha, da Soluções Fáceis, destacam que a reabilitação deste empreendimento será igualmente um motor para a economia local, uma vez que dezenas de empresas do concelho serão as fornecedoras da empreitada.
Antes de adquirir o edifício, a empresa construtora promoveu diversos testes à infraestrutura, incluindo testes de carga realizados por uma corporação de bombeiros. Garantida a saúde estrutural, seguiu-se a aquisição e agora o projecto para o pedido de licenciamento. A obra deverá começar no Verão e a empreitada deverá ser igualmente feita por fases no interior, já que o exterior deverá ser uma empreitada contínua. No final do ano está previsto o arranque da comercialização. Em dois anos estará concluído, dizem os responsáveis. Este será o terceiro empreendimento inacabado no concelho a ser requalificado pela Soluções Fáceis.