No passado dia 8 de Março comemoramos o Dia Internacional da Mulher, este dia que continua, e bem, a ser lembrado para que jamais seja esquecido o papel que muitas mulheres tiveram no passado, para hoje termos os direitos sociais que temos. Mas é importante assinalar esse dia também porque o trabalho não está concluído. Há ainda muito caminho a percorrer e isso não deve ser esquecido.
Penafiel acolheu, em parceria com o Rotary Club de Penafiel, a Juíza Conselheira do Supremo Tribunal de Justiça, Prof.ª Clara Sottomayor, que na sua brilhante intervenção apresentou dados muito preocupantes e que passo a partilhar com os nossos leitores.
Sabiam que 80% das vítimas de tráfico humano são mulheres e meninas que são raptadas e vendidas como mercadoria em pleno século XXI?! Segundo dados das Nações Unidas, 3 em cada 4 destas vítimas de tráfico são depois alvo de exploração sexual e prostituição forçada… e Portugal faz parte dessas rotas de tráfico humano. Não é algo que aconteça só a milhares de quilómetros daqui ou apenas nos países em desenvolvimento.
Sabiam que, diariamente, cerca de 8000 meninas estão em risco de sofrer mutilação genital?
Sabiam que, no mundo, a cada onze minutos, uma mulher é morta pelo seu marido, companheiro ou namorado?
Sabiam que, em Portugal, por ano, cerca de 30 mulheres são assassinadas pelos seus atuais ou ex companheiros/maridos!?
Sabiam que, segundo os dados da UNICEF, são já cerca de 15 milhões de meninas e adolescentes, com idades entre os 14 e os 19 anos, vitimas de violência sexual por um atual ou ex-companheiro/namorado?! E que apenas 1% delas pediu ajuda ou denunciou a situação às autoridades!?
Sabiam que ainda existem países onde a violência doméstica e a mutilação genital não é crime?!
Sabiam que, mesmo nos países onde é considerado crime, das 50% das mulheres vitimas de violência doméstica ou assédio sexual na rua ou no trabalho, apenas 10% reportou às autoridades!?
Sabiam que muitas mulheres que exercem cargos públicos/políticos são discriminadas, ameaçadas e insultadas de variadas formas, para criar nelas o medo de participarem na vida e espaço público, debates, e afins?!
A misogenia, este ódio, repulsa e desprezo pelas mulheres, existe e contribui, e cito a Prof.ª Clara Sottomayor, “para um ambiente social onde as mulheres se inibem de participar, sendo uma grande perda para a igualdade e para a democracia”.
Concluímos, assim, que a igualdade existe na teoria e não na realidade!
Em Portugal, as limitações aos direitos da mulher foram apenas abolidos pela Constituição de 1976, mas como diz a Prof.ª Clara, e bem, “a lei pode mudar, mas as crenças, hábitos, costumes e comportamentos não mudam por decreto, e por isso continuamos, ainda hoje, a ter um elevado número de mulheres e meninas vitimas de violência doméstica e violência sexual”.
Para terminar, só para deixar a nota da discriminação das mulheres no mercado de trabalho: por trabalho igual, as mulheres recebem menos 16% que os homens (essa percentagem aumenta para 25% quando em cargos superiores); as mulheres é que assumem, na maior parte das famílias, o trabalho doméstico, o cuidar de dependentes, sejam filhos ou idosos, trabalho esse não pago. São as mulheres que, em grande parte dos casos, asseguram a qualidade de vida de uma família e o seu bem-estar. Por estas razões, acabam por ser as primeiras a serem despedidas, em situações de crise, já que têm tendência a faltar mais ao trabalho ou a estarem menos disponíveis fora do horário de trabalho, devido às responsabilidades domésticas e familiares, fazendo dos homens o tipo de trabalhador ideal, já que são sempre mais disponíveis, uma vez que todas as tarefas domésticas e familiares estão asseguradas pelas mulheres.
Isto não é justo. Não podemos permitir que estas situações continuem a acontecer. Por isso, devemos lutar contra estas atrocidades que são cometidas contra nós, mulheres, não só no dia 8 de março, mas todos os dias das nossas vidas. Sem medo…
Um forte viva a todas as mulheres que são seres fabulosos e que fazem deste mundo um lugar melhor para vivermos!