Quando, naqueles dias mais introspectivos e filosóficos, penso na minha história e em quem sou, no que fui e no que me tornei, involuntariamente vêm-me à lembrança, sobretudo, pessoas e lugares.
Creio que se passa o mesmo com todos nós: a escola primária onde estudámos ou o jardim onde andámos de baloiço, mais do que doces memórias, são parte da nossa identidade.
É claro que muitos desses locais desapareceram já, deixando em nós um sentimento de nostalgia e perda. Em muitos casos, a evolução e a modernidade exigem que assim seja.
Noutros, reconhecendo-se a marca identitária de cada local, percebendo o sentimento de comunidade e a unidade que cria, a evolução passou por uma recuperação ou até pela aplicação a outros fins. Veja-se as várias antigas escolas primárias, desactualizadas para a evolução que o ensino sofreu, mas continuando a fazer parte da história de uma série de gerações, agora transformadas, por exemplo, em sedes de movimentos associativos.
E num concelho como o nosso, em que os vários investimentos imobiliários que se avizinham podem criar o risco de sermos mais um dormitório de uma grande cidade, são estes elementos – simples, se calhar até sem grande importância histórica, mas cheios de história comunitária – que nos permitirão manter a nossa identidade. Serão estes elementos que nos permitirão mantermos o sentimento de comunidade.
Na semana passada, a Câmara Municipal esteve quase a demolir a fonte do Jardim de Paços de Ferreira. Ia fazê-lo sem sequer avaliar antes se este era um local que, para os pacenses, fazia sentido manter. Ia fazê-lo sem sequer falar com a Junta de Freguesia, assim passando por cima daqueles que foram eleitos para representar o sentimento da comunidade.
Ia fazê-lo sem perceber que há locais que valem mais do que a sua grandeza histórica ou arquitectónica.
A população de Paços de Ferreira não deixou e a fonte, ainda que ferida, lá se mantém.
Espero que este Executivo tenha entendido com este episódio que Paços de Ferreira e as suas gentes não são apenas números. São História e histórias e são memórias e identidade. E que essa identidade é para ser respeitada.