As notícias atropelam-se nas redacções, sem dar tempo a reagir. O Vaticano trabalha incansável e já produziu vários livros e documentos extensos neste ano. Quem tem tempo para acompanhar este ritmo?
Em Janeiro, saiu o livro «O Nome de Deus é Misericórdia», com uma extensa entrevista ao Papa Francisco; há dias, publicou-se uma espécie de conferência do Bento XVI, também sob a forma de entrevista; logo a seguir, na festa de S. José, o Papa Francisco promulgou um manual de 200 páginas intitulado «Exortação Apostólica Pós-sinodal sobre a Família Hoje». Não é fácil acompanharmos, nestes apontamentos quinzenais, uma produção editorial tão vasta: ficam apenas umas notas de leitura e uma sugestão sobre o fio condutor que une estes vários documentos.
«O Nome de Deus é misericórdia» é leitura obrigatória para quem queira perceber alguma coisa da Igreja do século XXI e do actual pontificado. Formalmente, é uma entrevista; na realidade é uma síntese, em primeira pessoa, do pensamento de Francisco. O tema central é a reconciliação. Fala do actual ano jubilar, dedicado à misericórdia, da pacificação das relações sociais e internacionais e, sobretudo, daquilo que o Papa considera o elemento fundamental da reconciliação: o sacramento da Confissão. Com muita viveza e de forma clara, explica a importância deste sacramento instituído por Cristo, a razão pela qual é preciso confessar-se a um padre e não nos podemos confessar directamente com Deus. São abundantes os neologismos e os «slogans» expressivos. Por exemplo «pecadores sim, corruptos não»: o Papa explica que os pecadores são aqueles que se confessam, os corruptos são aqueles que estão bem assim e acham que não precisam de se confessar. Não é questão de ter feito pecados pequenos ou grandes, mas a atitude de arrependimento. Nalgumas páginas transparece a alegria do Papa pelo aumento das confissões. Já na Bula em que convocou o Ano da Misericórdia o Papa tinha falado de «tantas pessoas que se estão a aproximar do sacramento da Reconciliação, especialmente muitos jovens… coloquemos novamente no centro, com convicção, o sacramento da Reconciliação, porque permite tocar com a mão a grandeza da misericórdia» («Misericordiæ vultus», 17). Neste livro, quando o jornalista lhe pergunta o que espera deste ano jubilar, o Papa responde directamente: que cada cristão faça uma confissão bem feita.
A entrevista de Bento XVI é uma peça rara, porque o Papa emérito considera que a sua actual função é rezar pela Igreja, sem contacto com o público. Esta entrevista dirige-se directamente a um congresso de teologia reunido em Romas e vários dos argumentos tratados inserem-se em discussões teológicas um pouco específicas. No entanto, o texto tem muito interesse para o público em geral, sobretudo por dois pontos. Um deles é a importância da misericórdia para os nossos dias, patente no pontificado de João Paulo II e agora mais em foco, no pontificado de Francisco. Segundo, Bento XVI a insistência de Francisco no tema da misericórdia é um «sinal dos tempos», em sentido teológico. Isto é, uma acção manifesta do Espírito Santo na história da Igreja. Bento XVI não se refere ao seu próprio pontificado, mas é evidente a continuidade. Outro tema importante desta entrevista é a missão de evangelizar: comunicar a proposta cristã é um dever de lealdade para com Cristo.
A Exortação pós-sinodal sobre a família ainda não está publicada. O Papa Francisco já a promulgou, no dia 19 de Março, festa de S. José, e já se pode comprar, mas vai demorar uns dias a chegar às livrarias. Numa recente visita a Lisboa, o Presidente do Pontifício Conselho para a família deu as primeiras notícias: trata-se de um «hino ao amor». O próprio Papa já acrescentou algumas explicações. As pessoas que vivem numa situação irregular não podem comungar, mas há um caminho a fazer. Não podem desistir de resolver o problema, como se fosse demasiado difícil para si ou para os outros. Precisam de pedir a ajuda de Deus e o Deus da Misericórdia lhes mostrará o caminho justo, que é também o caminho do Céu.