Quando há uma pandemia o sucesso não existe

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Escrevíamos neste mesmo jornal, em 17 de abril, sob o título “E se não for tanto assim”, que, em Portugal, o combate ao Covid-19 podia não ser um caso de sucesso tão evidente como nos queriam fazer crer.

Passados quase dois meses, infelizmente, confirmam-se as nossas previsões.  Não as piores e não é tanto pelo número de casos confirmados, porque longe de ser um mau indicador pode ser só resultado do número de testes efetuados ser maior em Portugal do que em muitos outros países da europeus. Será, talvez, a melhor informação disponível, por ora, para a determinação das medidas de prevenção.

Aliás, se assim não fosse, como havíamos de explicar, sem particularidades, que Valongo com poucos mais habitantes do que Paredes tenha mais do dobro de infetados ou como Penafiel quase com a mesma população tenha só metade dos casos?

O problema está no número de óbitos. Se compararmos o número de vítimas mortais por milhão de habitantes, que é o que menos diversidade de leituras oferece, percebemos que, afinal, Portugal, pela letalidade, é um dos países de maior risco na Europa. Só assim se entende que, por exemplo, a Grécia e a Áustria não permitam o acesso dos portugueses sem a respetiva quarentena.

É evidente que o número de vítimas é sempre o mais lamentável numa pandemia, mas não se pense que, connosco, isto foi assim tão mau. Num misto de sorte, com a estratégia das autoridades de saúde e com a resposta do Serviço Nacional de Saúde, embora depauperado, foi possível não esgotar a sua capacidade e assim fugir aos números terríveis de vítimas mortais da Espanha, da Itália ou da França.

Nem tudo foi tão bom como nos fizeram crer, nem tudo será tão mau como alguns vão querer agora que acreditemos.

A vandalização dos símbolos históricos

Parece que será a nova moda pós-pandemia. Servindo-se do pretexto da horrível morte de George Floyd, o negro americano barbaramente assassinado nos EUA e em autoassumidas  manifestações contra o racismo, em bandos, a começar na América e infetando já a Europa, grupos de energúmenos, tão bárbaros e ignorantes como os talibãs  que dinamitaram os Budas de Bamiyan ou os fundamentalistas do Estado Islâmico que destruíram o museu de Mosul e de Palmira,começaram a vandalizar e destruir os símbolos da História Ocidental como se isso fosse forma de combater as desigualdades baseadas na cor da pele. Primeiro, o esclavagismo não se fez só entre negros e brancos. Segundo, a escravatura é só uma forma, talvez a mais cruel e incompreensível, de acentuar as desigualdades sociais.

Por último, mas talvez o que mais importa: está enganado quem pensar que combate o racismo a destruir os símbolos históricos. Dessa só fomenta o ódio. Mais ódio!

A História permite-nos conhecer o passado, perceber o presente e perspetivar o futuro. Destruir os símbolos históricos é abrir as janelas da ignorância, escancarar as portas de entrada ao reaparecimento de novas formas de desigualdade e deixar a porta das traseiras sem fechadura para a penetração dos novos colonialistas, racistas, exploradores e ditadores.

E é triste a ironia do destino: quando os americanos começaram a tratar os negros como afro-americanos aumentaram os atos de racismo na própria América.

E, como se está a ver, o tempo necessário para isso acontecer não é superior ao da duração de uma temporada do Big Brother.