Se nos pedissem para, em poucas palavras, descrever o que se vai passando, por ora, sobretudo na Ucrânia, diríamos que os senhores do dinheiro e os senhores da guerra estão a destruir a Ucrânia eslava e pluralista em nome de uma caricatura pan-eslava. Não é apenas um crime de guerra, é um crime contra a cultura, essa mistura do imperialismo da teoria realista das relações internacionais com um sucedâneo de messianismo.
Duas surpresas, entre tantas, que esta guerra nos tem mostrado:
– A capacidade do uso das redes sociais pelo lado da Ucrânia como veículo de propaganda quase faz parecer que a Rússia nunca as usou senão em espionagem e sabotagem
– Depois de tanta indefinição por parte da UE e da Nato nunca imaginei que pudessem surgir tantas respostas concertadas. Momentaneamente, estão todos do mesmo lado, mesmo que por razões diferentes
Infelizmente, ao contrário do que ouvimos dizer no ocidente sobre Putin, acusando-o de ser um louco que ora quer restaurar a Rússia dos czares ora quer recuperar a influência global da União Soviética, para nós, ele está a ser a ferramenta de uma nova ordem mundial, o euro-asianismo, ao serviço da China e do aumento da influência do islamismo, que se afirmará em oposiçãoao bloco ocidental. Vamos, acreditamos nisso, ouvir falar disso muito brevemente. Esperamos estar enganados.
Por outro lado, começa a perceber-se que por muito que doam aos russos as limitações económicas impostas pelo ocidente, a Putin, como a qualquer ditador,interessa pouco ou nada a fome e o isolamento dos seus povos. Conta o “seu legado”.
O pior desta e das outras guerras é quando a verdade é bombardeada, em nome da história dos vencedores e dos mais ou menos disfarçados colaboracionistas.
E nós que nunca fomos educados para a neutralidade estamos do lado dos invadidos, mas também sabemos que na hora em que as bombas caem não há bandeiras que não ardam nem pombas brancas que nos valham ou que os salvem.