Assinalar o Dia Internacional da Mulher é também e essencialmente uma forma de preservar a memória coletiva, que nas sociedades pós-modernas tende a perder-se, o que pode representar um grande perigo no futuro. Ainda que não saibamos muito bem qual o caminho a percorrer, a memória ajuda-nos pelo menos a perceber por onde não queremos ir. Quer seja nos bancos da escola, no posto de trabalho ou em atividades de lazer, todas as ações que visem a evocação do passado com objetivos pedagógicos são de louvar.
A ações levadas a cabo para comemorar o Dia da Mulher, à semelhança do que é habitual, realizaram-se um pouco por todo o país, com destaque para os jantares, onde não faltaram as rosas e as mensagens onde se enaltece o papel da mulher e as suas características. Para muitas das participantes foi mais um jantar, onde conviveram, se divertiram… Uma horas que serviram para esquecer o trabalho, as lides domésticas e tantas outras responsabilidades que as preenchem no dia a dia. E, assim, aqueles que poderiam ser momentos de reflexão acabam por obedecer a um infeliz esvaziamento.
O mesmo dia 8 de março, este ano (como nos outros), também foi muito útil aos partidos políticos que, entre elogios à Mulher e sorrisos abertos, lá vão tentando arrecadar militantes para as suas hostes, apelando à participação cívica, como se para tal fosse requisito essencial a filiação num partido político. Mais uma vez o enviesamento do verdadeiro sentido que as ações deveriam ter.
Se ficássemos por aqui, estas situações só me suscitavam tristeza. Mas, quando uma ação política de um partido é levada a cabo por aqueles que nos representam nos mais altos cargos do município, em horário de expediente, a trizteza dá lugar à indignação. Falo de uma ação política do PS (ou da Câmara Municipal de Lousada?) realizada na empresa de confeção Salgado & Neto. Nas imagens divulgadas na internet pela vereadora Cristina Moreira e pelo presidente da Câmara, podemos ver as funcionárias em laboração, às quais foram entregues rosas acompanhadas de mensagens: “Precisamos de mais mulheres na política. Torne-se militante do Partido Socialista”. A mim, parece-me já uma ação de campanha.
Se ficássemos por aqui, esta situação só me causava indignação. Mas, quando nesta ação de campanha do PS, é entregue um panfleto publicado pela autarquia, alusivo ao Dia Internacional da Mulher, a indignação dá lugar à revolta. Num dia em que se exige a elevação dos valores, assistimos a esta promiscuidade entre o exercício dos cargos e dinheiros públicos e aquilo que são campanhas políticas de caça aos votos. Os lousadenses não merecem isto. É preciso mesmo mudar.