“Jovem geralmente associado às camadas sociais mais desfavorecidas, de comportamento ruidoso, por vezes desrespeitoso, ameaçador ou mesmo violento, achando-se o dono do mundo. Vândalo por natureza; faz tudo para acabar com a paz dos outros”. Estas são apenas algumas das definições encontradas para caracterizar a palavra Guna. E todas elas são depreciativas. Em Ermesinde, porém, a palavra ganhou novo significado e com contornos bem positivos. Aqui, os “GUNAS” são preocupados com o bem-estar dos outros, solidários e altruístas.
Muitos mais adjectivos haveria para caracterizar um grupo de alunos e ex-alunos da Escola D. António Ferreira Gomes que, apoiados pelo corpo docente e pela direcção do Agrupamento de Escolas de Ermesinde, dinamizam eventos solidários para angariar bens alimentares que são distribuídos duas vezes por ano às famílias dos alunos mais carenciados. No Natal, altura da última distribuição, foram entregues mais de 60 cabazes, apoiando assim 260 pessoas.
À primeira vista pode parecer mais um grupo de recolha de alimentos, com o devido mérito para quem ajuda quem mais necessita, mas os GUNAS têm uma particularidade que merece ainda maior destaque: foi um grupo que surgiu há cerca de sete anos pela mão de crianças de 10 e 11 anos que se aperceberam das carências de colegas que iam para a escola sem tomar o pequeno-almoço devido às dificuldades financeiras do agregado familiar. Foram crianças que não ignoraram a situação, não viraram a cara e quiseram encontrar respostas para o problema. Puseram pés ao caminho e abordaram Rosa Mary Manso, professora de Educação Moral e Religiosa Católica, que também não ficou indiferente à preocupação das crianças. “Não consegui não dizer que sim”, conta a docente, explicando que começaram “apelando nas turmas para as pessoas irem livremente partilhando”. Depois veio a feirinha de solidariedade, e de artigos usados. Ao projecto juntaram-se entretanto o Instituto de Línguas de Ermesinde, o Continente, a Junta Freguesia de Ermesinde e a Câmara Municipal.
GUNAS – Grupo Unido Na Ajuda Solidária
Da vontade de ajudar nasceu então o projecto que visava reunir alimentos e bens para cobrir as necessidades dos colegas. A designação de GUNAS – Grupo Unido Na Ajuda Solidária, só surgiu dois anos depois, quando participaram no concurso da EDP – Energia com Vida, um projecto de escolas solidárias. Uma participação que foi ganha com a distinção de Escola Solidária, e se manteve por alguns anos. Agora austenta o grau de Super Escola Solidária. Recentemente, também a Câmara de Valongo os distinguiu como Escola Solidária. De destacar que a Junta de Freguesia de Ermesinde aprovou um voto de louvor.
As ex-alunas Cristiana Barbosa e Catarina Polónia, ambas hoje com 18 anos e já com percursos escolares fora da D. António Ferreira Gomes, a professora Rosa Mary Manso e a auxiliar Branca Costa, apelidada de “anjo da guarda” dos Gunas e dos restantes alunos, falam do projecto ao VERDADEIRO OLHAR com a humildade de quem tem os pés bem assentes na terra mas com um entusiasmo contagiante de quem quer continuar a fazer eventos e actividades para ajudar quem necessita. E a vontade é tal que o projecto está bem firme para continuar e já tem seguidores. Da formação inicial restam apenas quatro ou cinco elementos, mas actualmente são cerca 30 membros.
Para ser GUNA tem de encaixar no perfil definido
Mas nem todos podem aspirar a ser Gunas, explicam Cristiana e Catarina. “Temos um perfil de GUNA. Tem de ser um aluno disposto a estudar, que se porta bem nas aulas, sem faltas disciplinares e que não espere nenhuma recompensa que não seja ver os outros bem”, sublinham, acrescentando que até há graus de Gunas. Há os Gunitas que são os mais novos, os gunas e os gunas seniores, os pais dos gunas cujo papel no grupo se tem revelado de extrema importância. Não esquecer a categoria de Ultra Guna, o ex-aluno que volta sempre para ajudar. A professora Rosa Mary Manso e a auxiliar Branca Costa não têm grau de Guna, mas estão ligadas de forma umbilical ao projecto. Para ser merecedor da ajuda dos Gunas também há exigências a cumprir. “Quando sabemos que são famílias carenciadas, mas não comparecem à escola quando solicitadas pelo director de turma sabendo que são carenciadas, não levam o cabaz. Os alunos devem também cumprir com o regulamento interno da escola, devem ser civicamente bons cidadãos e não pode haver participações disciplinares”, explica Rosa Mary Manso, sublinhando que estão assim “a contribuir para uma sociedade responsável, que precisa de ser ajudada mas que tem de dar contrapartidas”.
Para além de todas as actividades que realizam durante o ano, os Gunas são padrinhos de uma criança em Moçambique através da Fundação Big Hand, para onde enviam mensalmente 25 euros, proporcionando um plano de saúde e de estudos, bem como o acompanhamento por um tutor à criança que se mantém junto da família.
Sarau solidário em Fevereiro
O próximo evento, um sarau solidário, acontecerá já no próximo dia 17 de Fevereiro, pelas 21h00, no auditório da Junta de Freguesia de Ermesinde, com a participação de Tozé Santos, vocalista dos Perfume, de Pedro Santos, Inês Mota e Sophia Tavares, participantes do programa The Voice Portugal. As receitas arrecadadas reverterão na totalidade para os Gunas adquirirem produtos para os cabazes que serão distribuídos em Julho.