Funciona!

0

Fernando Sena EstevesHá tanta coisa que corre mal que a gente nem se dá conta do muito que funciona a preceito. Até já tenho felicitado alguém que presta um bom serviço dizendo-lhe que é um gosto ver um funcionário (ou funcionária!)… que funciona!

Não há dúvida que a Internet contribuiu imenso para nos facilitar a vida, como acontece com o pagamento de impostos e as deduções com o uso de faturas. Bem me lembro de quando tinha de passar largos minutos de pé em compridas filas para apresentar a declaração para o IRS (Imposto sobre o rendimento das pessoas singulares), mesmo quando se multiplicavam postos de atendimento suplementares até em centros comerciais. Agora, sem sair de casa, vai-se ao computador e aparece a papinha quase toda feita. E sabe bem ver no final que ainda temos qualquer coisa a receber de volta, sem dar conta de que se calhar é porque nos descontaram a mais ao longo do ano.

A magia da Internet também chegou à saúde, naturalmente, como há dias me aconteceu com uma receita em código que me chegou ao telemóvel e que mostrei numa farmácia toda moderna: a famacêutica dedilhou o computador e os medicamentos caíram numa gaveta atrás de si ,sem ela ter que se mexer do sítio. Depois meteu a nota que lhe entreguei numa máquina que despejou o troco certinho numa abertura. Só visto!

Outra peripécia de trocos correu mal mas acabou em bem. Carreguei o cartão do metropolitano com viagens, meti uma nota na máquina e apareceu a indicação de 8 euros de troco, mas sem sair troco nenhum. Como era Domingo, fui no dia seguinte a uma loja desses cartões e fiquei admirado como ao funcionário bastou ler o cartão num terminal e fazer um telefonema para imediatamente me entregar o troco em falta. Outro despacho dessas lojas é a emissão imediata de um passe com foto e tudo que lá mesmo digitalizam a partir de uma que apresentemos. Ou então há uma máquina fotográfica que nos tira o retrato como por exemplo para renovar a carta de condução. A menos que se deixe ficar a que já existe em arquivo: é a minha opção porque de dois em dois anos a gente já não muda muito. E se muda não é geralmente para melhorar de aspeto e por isso…

Também há coisas que funcionam mas cuja necessidade é muito discutível. Uma delas é a voz sintética que se ouve depois de entrar no elevador. Que a voz diga “Piso zero” ou “Piso menos um” ainda vá que não vá. Mas dizer “A subir” ou “A descer” parece bem escusado. E o máximo é “A fechar porta”, “A abrir porta”. Ninguém se admire, por este andar, se um dia destes entrar num quarto de banho e ouvir a descrição do que lá vai fazer e quem sabe se quando se vier embora não ouvirá dizer com muita suavidade: “Por favor, volte atrás e lave as mãos”.

Outra é a das pastas dentífricas. Antigamente tinha de se abrir a tampa rodando-a em sentido direto (movimento contrário ao dos ponteiros do relógio) e, depois de se servir, fechá-la rodando-a em sentido retrógrado (movimento dos ponteiros do relógio). Mas agora a tampa de enroscar tem no topo uma tampinha de abrir para cima e de fechar para baixo, dispositivo ideal para os preguiçosos que não se querem dar ao trabalho de rodar para abrir e de rodar para fechar. Um tanto ao jeito de três homens e um escadote para mudar uma lâmpada. Um homem sobe ao escadote, agarra a lâmpada fundida e os outro dois homens no chão fazem rodar o escadote para desatarrachá-la. Depois o homem de cima mete a nova lâmpada  no  bocal e os companheiros rolam o escadote ao contrário e… serviço acabado!