Alinhadas no pátio do Centro Escolar de Freamunde, dezenas de mulheres, desde crianças a seniores entoam o mesmo ritmo e ensurdecem os familiares a assistir. Há um único homem, o maestro que estabelece o ritmo. É o último ensaio antes de mais uma edição do “Bombo é Nosso”, iniciativa integrada na Noite dos Bombos das Sebastianas que vai levar, desta vez, cerca de 200 mulheres a criar uma onda rosa nas ruas de Freamunde, no concelho de Paços de Ferreira. Recorde-se que a iniciativa nasceu em 2017, para mostrar que tocar bombo não é só coisa de homens. Na altura participaram 452 mulheres que estabeleceram o recorde do Guinness World Records.
Menina com menos de um ano já marca ritmo
Ricardina Martins participa desde a primeira edição. E tudo aponta para que tenha passado à filha o bichinho de tocar bombo. Ariana Taipa, de 10 meses, é o elemento mais novo inscrito no evento. É pequenina, mas já estava na barriga da mãe no Bombo é Nosso do ano passado e parece que o som lhe ficou no ouvido. Já marca o ritmo com a ajuda da mãe.
“O meu marido foi festeiro em 2017, quando aconteceu a primeira edição, que eu acabei por integrar. Na segunda edição já tinha o meu ‘bombo’ na barriga e não podia tocar”, conta Ricardina Martins. Ainda assim participou com a ajuda de um familiar. “Na Noite dos Bombos ela deixou-me andar e agora quando ouve o barulho dos bombos começa a dançar”, explica a jovem enquanto Ariana toca no bombo e dança. “Ela já ficou com esse ritmo. Ela pega no bombo, quer tocar, dança”, resume a mãe, que este ano se inscreveu a ela e à filha, apesar de não ir desfilar. “Para o ano cá estaremos as duas”, promete.
Ricardina é um exemplo do porquê da criação deste grupo. “Sempre quis tocar nas Sebastianas, mas nunca houve oportunidade porque eram só grupos de homens”, diz.
À semelhança das edições passadas há participantes de todas as idades e de vários concelhos da região. “Toco bombo desde o ano passado. Este ano voltei porque gostei. Foi uma noite diferente e é divertido vir com a minha mãe. Não é difícil tocar bombo”, garante Margarida Cunha, de sete anos. Beatriz Leitão tem 12 anos, mas toca desde os três. “Eu aprendi com o meu pai. Via-o a tocar desde os três anos e comecei a ganhar aquela paixão. Eu tocava guitarra, mas não era o mesmo que tocar caixa. Caixa dá vida aquilo que somos”, garante a menina. “Quando eu toco caixa parece que estou noutro mundo, é muito divertido”, acrescenta.
Por isso, mais que os ensaios, está ansiosa pela chegada da Noite de Bombos. “É a noite mágica em que podemos tocar todas juntas”, salienta.
Odete Gomes, de 64 anos, vem à iniciativa pela terceira vez. “Venho porque gosto e para beneficiar a terra”, sustenta. “É bonito e tem muita gente a ver e a bater palmas”, resume quanto à Noite de Bombos. Já tocava bombo antes, mas na brincadeira. “Isto é apanhar o tom e o jeito e estar com sentido ao que o maestro manda. É a segunda vez que venho aos ensaios, mas entrei logo no ritmo”, garante.
“Logo na primeira edição mostrou-se que as mulheres também sabem tocar bombo e que gostam disto”
O Bombo é Nosso foi um movimento criado em 2017 pelas mulheres dos festeiros desse ano. Depois de bater um recorde do maior número de mulheres a tocar bombo em simultâneo, a iniciativa repetiu-se no ano passado, juntando mais uma vez centenas.
“Este ano achamos que devíamos voltar a trazer esta acção para as ruas de Freamunde e as mulheres aderiram. São perto de 200”, explica Catarina Gomes de Sousa.
“Só havia grupos de homens e tendo em conta a quantidade de gente que logo na primeira edição se juntou mostrou-se que as mulheres também sabem tocar bombo e que gostam disto. E daí o nome deste grupo: o Bombo é Nosso ou o Bombo é Delas”, acrescenta a mulher de um dos festeiros das Sebastianas deste ano.
À semelhança do que aconteceu nos últimos dois anos a ideia é encher a rua de rosa. E está prometida uma surpresa.
“Temos mães e filhas, temos tias e sobrinhas, sogras e noras, e muitas vizinhas. Já é uma tradição que pretendemos manter”, conclui.
A Noite de Bombos das Sebastianas realiza-se esta sexta-feira.