Todos concordarão que o desporto é essencial para um crescimento saudável das nossas crianças. Apoiar o desporto e as associações desportivas para que num concelho exista oferta formativa suficiente para garantir que as nossas crianças não precisam sair do seu concelho e que têm opções para ocupar os seus tempos livres de forma saudável, também todos concordarão que é muito importante. No entanto para o desporto e tudo que gira em torno dele, ser saudável, para que seja uma forma de promover a socialização e o espírito de equipa, para que seja um meio para aprenderem a lidar com a derrota da mesma forma que lidam com a vitória, é preciso que exista e se promova a ética desportiva. A ética deve ser uma das componentes de um treino e deve ser promovida pelos treinadores, exigida pelos dirigentes e potenciada pelos pais. Numa aula experimental de ténis, numa das escolas primárias do concelho de Valongo, no âmbito de um projeto intitulado “O desporto vai à escola” respondi a algumas questões dos jovens atletas e insisti na seguinte mensagem, “no final de um jogo o mais importante não é se ganhaste, mas se acabaste com um sorriso na cara e fizeste mais um amigo”. Um jogo não é um campo de batalha onde se tem de ganhar de qualquer forma. É um espaço de diversão e convívio e nele aprendemos que jogando em equipa seremos mais fortes, que se hoje ganhamos amanhã poderemos perder e que o teu adversário sendo forte e honrado valoriza o teu esforço e o teu resultado. Os pais não podem transferir sonhos ou frustrações para os filhos, nem podem achar e muito menos ensinar, que, neste mundo, só a vitória importa.
Quando pais insultam árbitros, outros pais e até mesmo miúdos das equipas adversárias, ensinam aos seus filhos que o insulto e o desrespeito é normal e lhes é permitido. Depois não será de estranhar que estes jovens na fase adulta defendam as claques dos seus clubes e os seus métodos mafiosos, assim como os seus dirigentes e os caminhos de legalidade duvidosa que escolhem percorrer só para garantir vantagem e vitórias. Depois não será de estranhar que se conviva com corrupção e se aceitem opções de ilegalidade comprovada só porque estes dirigentes ganham um campeonato. Depois não se podem admirar com aquilo que se passa no futebol em geral e no Sporting em particular mas que é transversal aos outros clubes. O que se está a passar é o reflexo de uma atitude permissiva, irresponsável e eticamente reprovável. A vontade de vencer não justifica qualquer meio e ganhar não pode ser o único objetivo. Senão deixem de lhe chamar desporto.
Ética desportiva precisa-se, com urgência, e tem de começar nas associações, nos pequenos clubes, no seio das famílias. Por isso iniciamos um processo de sensibilização nos nossos espaços desportivos mas não dará frutos se continuarmos a criticar o comportamento do outro sem mudar o nosso.