As ruas de Penafiel já estão contaminadas para mais uma edição do Festival Literário Escritaria. O autor homenageado deste ano, o escritor angolano Pepetela, chegou hoje e, não esconde, que ficou surpreendido com o que encontrou na cidade.
“Agradeço esta homenagem que me toca fundo. Não esperava encontrar uma cidade assim a girar em torno de uma obra de um autor. Tinham-me falado disto por alto, mas supera de longe o que eu podia imaginar”, assumiu o autor, depois de descerrar as placas que eternizam a sua silhueta e uma frase na cidade, na zona do Sameiro.
“Isto ultrapassa uma obra ou um escritor. É um exemplo de luta pela cultura, pela literatura e por todas as artes, desde a pintura, à escultura, dança, música ou desenho. Isto comove-me e obviamente que nunca mais esquecerei. É a primeira vez que estou em Penafiel, mas espero não ser a última”, disse Pepetela aos presentes. Agradeceu ainda a quem teve “a ideia meia maluca do Escritaria”. “Eu adoro ideias malucas”, disse.
O escritor angolano afirmou ainda ter uma “sensação de gratidão para com Penafiel” e enalteceu a existência de laços ainda profundos entre os povos, apesar de todo o período de luta quando aconteceu a descolonização.
Segundo Pepetela, os escritores dos países africanos que escrevem português têm sido valorizados em Portugal. “Têm de ser mais, nunca estamos satisfeitos. Mas nós é que temos falhado. Nos nossos países há pouca valorização da cultura. Os países africanos deviam fazer mais com o pouco que têm. Portugal tem feito o que pode”, argumentou.
Sobre a 11.ª edição deste festival literário, Antonino de Sousa assinalou que “é raro um escritor estar tão próximo dos seus leitores”. “A cidade é sua, pelo menos, até domingo”, disse o presidente da câmara ao autor.
Aos jornalistas, o autarca sustentou esperar que o Escritaria continue “com este percurso de promoção da literatura de língua portuguesa e de aproximação da literatura ao cidadão”. “Durante uma semana temos o escritor a calcorrear as nossas ruas e a estar com os penafidelenses e visitantes o que torna este festival bem diferente, assim como o facto de toda a cidade se mobilizar e se contaminar para homenagear um escritor”, lembrou.
Antonino de Sousa referiu ainda acreditar que “esta edição vai ser marcante”. “Este escritor tem uma vida extraordinária e uma obra notável. Vai ficar com certeza na história do Escritaria”, adiantou.
Escritaria passa a estar também à mesa
Para manter o Escritaria presente no concelho durante todo o ano, foi agora introduzida uma novidade que alia a gastronomia e a literatura.
Foi hoje apresentado o menu “Escritaria”, cujos pratos, com nomes de escritores que já passaram pelo festival, vão poder ser degustados em alguns restaurantes da cidade. “Quisemos que o Escritaria possa durante o resto do ano estar presente. Já o estava pelas peças de arte espalhadas pela cidade este é mais um elemento diferente”, refere o presidente da câmara. O menu estará presente em seis restaurantes, materializando o gosto dos escritores homenageados.
O desafio de criação dos pratos foi feito à Penafiel Activa. Os seus alunos prepararam para um grupo de convidados um menu de degustação que inclui uma entrada com o nome de Miguel Sousa Tavares, um prato de peixe em homenagem a Pepetela, um corta sabores alusivo a Urbano Tavares Rodrigues, um prato de carne em honra de Alice Vieira e uma sobremesa com o nome de Agustina-Bessa Luís.
Recorde-se que o Festival Literário Escritaria começou esta segunda-feira e termina no domingo.
Nos próximos dias há apresentações de livros, conferências, inauguração de exposições e sessões de autógrafos, entre outros.