Chama a si mesmo “contador de histórias”, um dom que herdou noites infinitas na ilha da Boavista, Cabo verde, quando não havia luz elétrica, televisão ou telefones. Sentava-se à porta de casa para ouvir os mais velhos contarem histórias. Hoje, elas saem das folhas dos seus livros.
Germano de Almeida esteve no Escritaria que está agora a ser celebrado em Cabo Verde, em Mindelo, na ilha de São Vicente. A cidade está “contaminada” com a homenagem à vida e obra do seu conterrâneo, homenageado em 2021, em Penafiel.
A iniciativa, que decorre até 25 de novembro, sábado, foi organizada pelo Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde (MCICCV) e conta com a presença do presidente da autarquia de Penafiel, Antonino de Sousa, e da vereadora da Cultura, Daniela Oliveira, a convite do Ministério.
De destacar a sessão de abertura oficial do evento, que integrou vários momentos, entre eles, a “Conversa em torno da Escritaria”, a “Abertura oficial da Feira do Livro – Especial Germano Almeida” e o “Lançamento do livro «Infortúnios de um Governador nos Trópicos»”.
Ontem aconteceu o ponto alto do evento, com a inauguração da silhueta do autor, instalada junto à idílica praia da Laginha, em frente ao mar.
De recordar que a Escritaria, que vai já na sua 16ª edição, é o único festival literário, em Portugal, que se dedica a homenagear um escritor vivo de língua portuguesa.
O evento realiza-se sempre em meados de outubro, em Penafiel. Nesses dias, a cidade é “contaminada” com a vida e obra do autor homenageado. Há alusões nas montras, exposições, arte de rua, teatro, música, apresentação de livros e muito mais. A cada edição, há mais um homenageado a “morar” em Penafiel.
Através da instalação da silhueta e da respetiva frase, nos cantos e recantos da cidade, é possível ver sinais e cicatrizes de cada Escritaria. Até ao momento, o Festival já celebrou Urbano Tavares Rodrigues, José Saramago, Agustina Bessa-Luís, Mia Couto, António Lobo Antunes, Mário de Carvalho, Lídia Jorge, Mário Cláudio, Alice Vieira, Miguel Sousa Tavares, Pepetela, Manuel Alegre, Mário Zambujal, Germano Almeida, Ana Luísa Amaral e Miguel Esteves Cardoso.
Refira-se que, Germano Almeida, prémio Camões 2018 e um dos mais proeminentes escritores em língua portuguesa, foi o homenageado da 14ª edição deste festival literário.
Germano Almeida nasceu na ilha da Boa Vista em 1945, publica as primeiras estórias na revista Ponto & Vírgula, assinadas com o pseudónimo de Romualdo Cruz. Estas estórias foram publicadas em 1994 com o título A Ilha Fantástica, que, juntamente com A Família Trago, 1998, recriam os anos de infância e o ambiente social e familiar na ilha da Boa Vista. Mas o primeiro romance publicado por Germano Almeida foi O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo, em 1989, que marca a rutura com os tradicionais temas cabo-verdianos.
O Meu Poeta, 1990, Estórias de Dentro de Casa, 1996, A Morte do Meu Poeta, 1998, As Memórias de Um Espírito, 2001 e O Mar na Lajinha, 2004, formam o ciclo mindelense da obra do autor.
O Dia das Calças Roladas, 1992, e Os Dois Irmãos, 1995, têm por base histórias verídicas, no ambiente rural de Santo Antão e São Tiago. Estórias Contadas, 1998, e Dona Pura e os Camaradas de Abril, 1999, o mais pícaro dos seus romances, Viagem Pela História das Ilhas, 2003, Eva, 2006, A Morte do Ouvidor, 2010, Do Monte Cara Vê-se o Mundo, 2014, Regresso ao Paraíso, 2015, O Fiel Defunto, 2018 e O Último Mugido, 2020, “A Confissão e a Culpa”, 2021, “Infortúnios de um Governador nos Trópicos”, 2023, completam a obra publicada por Germano Almeida.
As suas obras estão publicadas no Brasil, França, Espanha, Itália, Alemanha, Suécia, Holanda, Noruega e Dinamarca, Cuba, Estados Unidos, Bulgária e Suíça.