“Mas sempre deste tempo é o lume que as prende, a estas vozes, e ao prendê-las as solta sobre o tempo”. É esta a frase que eterniza a homenagem de Penafiel à poetisa Ana Luísa Amaral, recentemente falecida, no âmbito do Festival Literário Escritaria, que decorre até domingo.
A filha, Rita Amaral, marcou presença, ontem, no descerramento da silhueta e da frase da autora, que ficam localizadas num recanto junto à Escola Secundária de Penafiel e à Escola D. António Ferreira Gomes. Em curtas palavras, agradeceu à Câmara Municipal por dedicar este evento à mãe. “Os eventos são excepcionais e estou imensamente sensibilizada pelo que vi hoje, tanto com a silhueta como com esta frase. Julgo que a minha mãe também ficaria muito, muito feliz e muito honrada por esta homenagem”, afirmou.
Uma edição com “emoções à flor da pele”
É uma edição do Escritaria com as emoções mais “à flor da pele” pela perda recente da autora homenageada, reconhece o presidente da Câmara de Penafiel, Antonino de Sousa. É a primeira vez que o Festival Literário decorre no formato de homenagem póstuma. Isso coloca desafios, já que o evento normalmente gira em torno do escritor homenageado e do seu contacto com a população, permitindo chegar perto do autor e conhecê-lo melhor.
Ainda assim, a edição de 2022 tem sido “extraordinariamente participada e com muita vivacidade”, conjugando várias expressões artísticas para “prestar homenagem a uma grande poetisa e a uma história de vida extraordinária”, com várias “manifestações de carinho”, assinalou, lembrando que Ana Luísa Amaral tinha mais de 20 publicações e acumulou um conjunto vasto de prémios e um grande reconhecimento internacional.
À semelhança do que aconteceu noutras edições, milhares de alunos ficam a conhecer a obra da autora, realça o autarca. Sendo que este ano foram ainda envolvidas as Instituições Particulares de Solidariedade Social, que têm acolhido declamações de poesia.
“Temos procurado colmatar a ausência da autora homenageada, que é muito sentida, até porque o festival tem essa marca de proximidade”, sustentou Antonino de Sousa aos jornalistas.
Réplicas previstas além-fronteiras
Segundo o autarca, continua a ser trabalhada a internacionalização do evento, que está prestes a ter réplicas, em Angola e Cabo Verde, já no próximo ano. Em Janeiro, o evento chegará a Angola e, em Março/Abril, a Cabo Verde, reproduzindo as homenagens a Pepetela e Germano Almeida.
“Esse objectivo da internacionalização do Escritaria está a dar passos, devagar, passos que podem transformar o nosso Festival Literário num festival de dimensão grande no mundo da lusofonia. Nem sei se existe outro festival com essa audácia de querer chegar a toda a lusofonia”, referiu o edil penafidelense.
“A ideia que queremos concretizar é levar a cada um desses destinos aquilo que acontece aqui durante esta semana. Nestas primeiras acções, vamos dar enfoque àqueles autores dos respectivos países que já passaram pelo Escritaria”, revelou Antonino de Sousa.
Também pode estar na calha a vinda de um autor da Guiné-Bissau ao evento. “Recebi o presidente da Câmara de Bissau que aproveitou para vir a Penafiel para se inteirar do que acontece no Escritaria porque gostaria de ver no Escritaria um escritor guineense e acredito que isso possa acontecer”, adiantou o autarca.
“Essa dimensão internacional e envolvimento dos países lusófonos é algo de extraordinário que está a acontecer”, concluiu.
O Escritaria termina este domingo. Até lá, a cidade continua contaminada com a vida e obra de Ana Luísa Amaral.