Não sei se ria ou chore. A escola secundária de Paredes caminha para os 50 anos. Um pouco menos do que a minha idade.
Sou, talvez, o único professor da escola que, com breves hiatos, esteve nela desde a sua criação até agora. Estudei aqui, como aluno, no seu primeiro ano de funcionamento, na altura ainda como secção do Liceu Garcia de Orta e nas instalações do actual Palacete da Granja. Hoje vivo ainda na escola. Há muito tempo como aluno, agora como professor.Não será exagerado dizer que a escola tem sido a minha vida e a secundária de Paredes é a maior parte desse tempo.
São muitas as histórias de vida aqui iniciadas, aqui vividas, aqui ainda presentes. A comunidade escolar desta terra passou quase toda por aqui. Alguns vivem ainda amizades que duram desde o tempo em que aqui estudaram, amizades que são tão sólidas como as paredes do velho edifício, hoje Casa da Cultura, ou acolhedoras como as novas e modernas instalações de que dispõe agora.
O cinquentenário que agora se aproxima – no ano lectivo de 2022/2023 –será, talvez, uma excelente oportunidade para o reencontro dos que por aqui passaram e, sobretudo, uma oportunidade para reflectir sobre a importância que a educação teve e tem na vida de cada um.
Um momento oportuno para ver e rever velhos e novos amigos, antigos e novos professores e funcionários. Quem de nós, não gostaria de ouvir umas palavras do primeiro vice-reitor, Horácio Dá Mesquita e Melo? Ou rever a professora Alcinda Gomes? Ou a professora Laura,”não é” ? E de todos os outros? Ou então rever a Dª Lurdes (que paciência tinha!) ou a Dª Fátima com o seu sotaque tão peculiar e educação esmerada.
A escola está tão ligada a esta terra que quase se confunde com os seus habitantes.
Ou os antigos alunos. Rever o Carlitos, o Humberto, a João, a Xana, a Rosário, o Celestino Soares Carneiro, o Araújo, a Zita e tantas e tantos outros? Ou mais recentemente o Carlos Daniel, o João Sousa, o Bernardo, o Nuno e tantos outros. Ou ainda os que daqui saíram há pouco tempo e já brilham no meio académico, como a Jéssica? E porque não os que cá andam a preparar o caminho que nunca dependeu só da escola, mas também nunca se construiu sem ela.
Cinquenta anos é muito tempo para esquecermos quem quer que seja. Seja pelo que for.
Cinquenta anos é muito tempo para não celebrar a nossa vida e a vida da nossa escola.
Será também uma altura para recordar com saudade as particularidades daqueles que já partiram e deixaram a sua marca em nós. Professores, alunos, assistentes. Enfim, toda a comunidade escolar.
Aproveitar a oportunidade de encontrar no passado as raízes que nos fazem entender o presente e perspetivar o futuro, nosso e dos nossos, será, talvez, o melhor reconhecimento que podemos fazer ao elevador social em que se constituiu a escola. Esta e outras, mas a nossa escola foi e é a realidade que nos condicionou, que nos fez. Que nos ensinou a ser.
Hoje, e também isso merece ser enaltecido, não sendo uma escola-modelo, a secundária de Paredesocupa os lugares cimeiros dos rankings das escolas públicas nacionais. O facto assume maior relevo se tivermos em conta que, geograficamente, Paredes se encontra estatisticamente entre os concelhos mais deprimidos do pais, num meio socioeconómico pobre, na região de salários mais baixos do país, onde o abandono escolar – o precoce e o antecipado- é maior e onde o analfabetismo, sobretudo o funcional prevalece.
Quer isto dizer que a escola secundária de Paredes é melhor do que as outras? Não.
Talvez signifique que é uma boa escola em função do projeto educativo que escolheu e persegue. Seja lá o que isso for ou represente deve ser discutido. Que melhor data do que a do cinquentenário para o fazer?
O ano letivo de 2022/2023, o ano do cinquentenário da Escola Secundária de Paredes, aconteça o que acontecer, pode até ser mal lembrado, mas nunca será esquecido por aqueles que, sejam quais forem as razões, por ali passaram.