Tem entre 50% a 70% de lousa, mas não é lousa, é moldável em vários formatos abrindo novas possibilidades de utilização e pode assumir texturas e várias cores, ao contrário da lousa, e tem ainda capacidade antimicrobiana, sendo um material leve e sustentável.
Este novo produto da Empresa de Lousas de Valongo (ELV), desenvolvido em parceria com a Plataforma Internacional Fibrenamics da Universidade do Minho, promete reaproveitar as toneladas de resíduos que diariamente resultam da extracção de ardósia que até agora eram depositadas nas pedreiras, numa aposta de inovação e na Economia Circular.
Segundo o administrador da empresa, Rui Nunes de Matos, esta é uma nova fase para uma empresa com 153 anos de história que não se acomodou e que quer continuar a inovar. O novo compósito, chamado “Slatetec”, vai envolver a criação de uma nova unidade industrial, com a remodelação de instalações já existentes, e a criação de postos de trabalho, em número ainda não quantificado.
Problema dos resíduos minerais já preocupava a empresa há vários anos
Para já, avançou Rui Nunes de Matos, será lançada “uma linha piloto para estudar o mercado”, mas a ELV tem “boas expectativas”. “As potencialidades do produto são muito grandes, até melhores que as da ardósia. Comparado com os produtos que há este produto é muito bom. Temos boas expectativas, mas estamos muito no princípio”, comentou.
A preocupação com os resíduos de extracção de ardósia não é nova para esta empresa de Campo. “Já pensamos em como resolver a questão dos resíduos há muitos anos. Há 36 anos pensou-se em aquecer os pedaços de ardósia para aumentarem de volume e fazer placas de cimento armado, mas a ideia ficou pelo caminho. Estudamos há cerca de 15 anos uma hipótese de fazer cerâmicas técnicas para telhados, mas ficava caro. E para nós os resíduos também eram uma despesa. Há toneladas que se acumulam diariamente e que tinham que ser depositados nas pedreiras”, explicou o administrador.
Este compósito pode ser aplicado em mobiliário técnico de hospitais, laboratórios e clínicas, no revestimento de fachadas, paredes e pisos, decoração de interiores e mobiliário urbano.
“Este é um bom exemplo do que se pode fazer na Economia Circular”, disse secretário de Estado
O “Slatetec” foi apresentado, esta quarta-feira, numa sessão nas instalações da empresa que contou com a presença do secretário de Estado Adjunto e do Comércio que elogiou esta aposta.
“Esta empresa é um exemplo ao nível da longevidade, da exportação e destaca-se por explorar um produto endógeno. A valorização do território passa pela valorização dos seus produtos endógenos”, defendeu Paulo Alexandre Ferreira.
“Este compósito está a reaproveitar os cerca de 40% de resíduos que resultam da actividade extractiva da empresa”, realçou, lembrando que o Governo tem feito uma grande aposta na Economia Circular. “A Economia Circular é muito mais que a reciclagem, é prolongar a vida dos produtos ou dar-lhe novas funções. Este é um bom exemplo do que se pode fazer na Economia Circular”, afirmou.
Por outro lado, o secretário de Estado referiu que a articulação entre universidades e empresas na transferência de conhecimento é cada vez maior e que esta “transferência de tecnologia” deve ser promovida. “O Governo está a criar centros de interface para fazer a aproximação entre empresas e universidades. É preciso que as empresas estejam preparadas para competir a nível internacional”, destacou.
“É um grande orgulho estar na empresa mais antiga do concelho a assistir à apresentação de um projecto de inovação”, acrescentou o presidente da Câmara Municipal de Valongo. Para José Manuel Ribeiro, a presença do secretário de Estado foi importante na medida em que dá um sinal de confiança aos empresários. Um ambiente que é essencial à inovação das empresas. “Quando temos um ambiente de confiança as coisas acontecem. Os empresários não ficaram resignados à espera que o Estado resolvesse os problemas todos. Foram à procura das universidades para transferir conhecimentos, algo que traz competitividade, ajuda o país e é bom para o território”, argumentou o autarca, lembrando que este novo produto ajuda a resolver grande parte dos problemas causados pela extracção de lousa.
Empresa de Lousas de Valongo exporta 90% da produção
Na sessão marcaram também presença os co-responsáveis pelo desenvolvimento do projecto. Raul Fangueiro, coordenador da Plataforma Internacional Fibrenamics da Universidade do Minho, realçou que este produto é o resultado de dois anos de trabalho. “Quando começamos o projecto disseram: ‘temos aqui esta montanha de resíduos. O que é que podemos fazer com isto?’. O resultado está à vista, uma reutilização de um produto através da transferência de conhecimento e design, criando um novo produto inovador no mercado”, salientou. Já Paulo Cunha, responsável pelo projecto, destacou que “esta rentabilização de resíduos cria um produto com valor acrescentado, valorizando-o, reforçando a sua durabilidade, acrescentando-lhe uma componente estética e um acabamento antibacteriano”.
A Empresa de Lousas de Valongo foi fundada em 1865 com o objectivo de abastecer a Inglaterra e os Estados Unidos da América de ardósia para telhados, pavimentos, revestimentos e pedras para bilhares.
Em Campo, faz-se todo o processo, desde a extracção até ao acabamento final, com a pedreira a ser a mais antiga em actividade em Portugal e a maior exploração de ardósia a céu aberto no país.
Actualmente, produz ladrilhos e placas para pavimentos e revestimentos para paredes, soleiras, cobertura de degraus, rodapé, tampos de cozinha e quartos de banho, soletos para telhado e pedras de bilhar.
Exportam 90% da produção tendo como principais mercados a Alemanha, a Inglaterra, Dinamarca, Espanha, França, Estados Unidos da América e Japão.
A empresa é proprietária de mais de 100 hectares de terreno na faixa lousífera de Valongo tendo capacidade de produção de 200 mil metros quadrados/ano.