As eleições presidenciais no Brasil, marcadas para o próximo dia 7 de Outubro, terão lugar num ambiente económico, social e político absolutamente caótico. Se é verdade que a corrupção é um problema endémico desse país e que perpassa toda a sociedade, não podemos ignorar que o atual cenário político é dramático e com consequências imprevisíveis. Independentemente da opinião que tenhamos sobre a forma como Dilma Rousseff foi afastada da liderança do país e da atual prisão de Lula da Silva, todas as sondagens apontavam para a vitória do PT. Entretanto tudo se alterou com decisões judicias recentes. Lula da Silva está impedido de se candidatar e qualquer que seja o nome indicado pelo PT, a probabilidade do candidato Jair Bolsonaro vencer as eleições é cada vez maior.
Pela ligação que temos com o Brasil, pelos laços culturais e de amizade existentes entre os nossos dois países, é com imensa preocupação que com certeza todos assistimos à deterioração da democracia brasileira. O inaceitável ataque de que o candidato do PSL foi vítima na passada semana, provavelmente apenas facilitou ainda mais uma vitória que muitas sondagens já anteviam. Quanto ao ataque propriamente dito, ele deveu-se à loucura de uma personagem que agiu individualmente e que, mesmo tendo sido praticado por um perturbado mental, não pode deixar de ser repudiado de forma veemente. No entanto, apesar de não ser por si só decisivo, a verdade é que este crime torna ainda mais difícil uma reviravolta nas eleições que terão lugar dentro de apenas 3 semanas.
Em democracia a vontade popular deve ser sempre respeitada, no entanto ler e ouvir o que pensa e o que diz aquele que pode ser, em Outubro, o próximo presidente do Brasil é, no mínimo, assustador. Bolsonaro é orgulhosamente fascista, defende a descriminação racial e a homofobia faz parte do seu pensamento político. No entanto, analisando todo o seu percurso de quase 30 anos na vida parlamentar brasileira, nada de relevante lhe pode ser atribuído que fizesse antever esta ascensão meteórica. No entanto, tudo indica, será ele o próximo inquilino do Palácio do Planalto. Como provavelmente lá vai conseguir chegar, tal é fruto da crise económica que o Brasil atravessa, do vertiginoso aumento da criminalidade e da brutal corrupção arrasou o governo do PT.
Ter à frente do país alguém que faz a apologia da tortura, da pena de morte e do uso de armas, é algo que nenhum democrata pode aceitar. Mas a verdade é que a alguns milhares de quilómetros de distância, lidera neste momento a maior potência mundial uma personagem com um percurso e programa políticos muito similares. Trump venceu as eleições nos Estados Unidos da América, recorrendo a um discurso simples, violento e naturalmente demagógico. O Brasil, muito provavelmente, seguirá o mesmo caminho. Infelizmente não será o último!