Em democracia, a pluralidade de opiniões e sua expressão é para todos, estou certa, um dos pilares essenciais da democracia. Etimologicamente, a palavra tem origem no grego: demos (que significa povo) e kratos (que significa poder). Sem querer maçar os leitores com considerações muito profundas sobre o assunto, defendo tão-somente que, sendo o povo que elege os seus representantes, através do voto, é expectável que, ainda que não tenham obtido a maioria dos votos do povo, estes possam fazer ouvir a sua voz, que é, afinal, a voz dos eleitores que os elegeram. É assim que tem de ser.
Um pouco por todo o país, sucedem todos os anos as comemorações relacionadas com a Revolução dos Cravos e este ano não foi exceção. Em Lousada, como o poder autárquico não segue o calendário oficial, assinalou-se ainda os 40 anos do poder democrático local (41, para os adeptos da contagem oficial). Tratou-se de uma cerimónia que celebrou a democracia num formato que me fez lembrar aqueles cartões que colocamos na portas dos quartos de hotel com a indicação “Do not disturb”. Paradoxo admirável que nem Eça de Queirós conseguiu com o Ega n’Os Maias.
Eu explico porquê. Na verdade, foram comemoradas quatro décadas de poder local democrático, mas a oposição, que representa milhares de eleitores, não pôde sequer usar da palavra. Estas situações acontecem quando há outros objetivos que colidem com os princípios democráticos. Em nome de valores “mais altos” sacrifica-se a democracia.
O poder autárquico socialista, no poder há quase 28 anos em Lousada, foi adotando uma forma de estar cada vez mais assente na autarcia de quem acha que pode e manda. E, em vésperas de eleições, convém não introduzir qualquer tipo de “ruído” numa campanha que já está em marcha e se aproveita do dinheiro público para promover a imagem daqueles que o PS quer eleger. É este o trabalho que está a ser feito em Lousada por parte do poder autárquico e, diga-se, muito bem. Trabalha-se afincadamente, não há dúvida!
Dá jeito adiar a comemoração dos quarenta anos do poder local democrático para o ano de eleições, dá jeito contrair empréstimos para fazer obras em ano de eleições, dá jeito que se gastem milhares de euros num Festival da Juventude aberto a todos, não vá a coisa correr mal e suceder a “barraca” do ano passado… Não dava mesmo jeito nenhum em ano de eleições!