Quatro designers emergentes estão na 52.ª edição da Capital do Móvel, em Paços de Ferreira, que decorre até 5 de Maio. O espaço “CM Design” é a grande novidade da feira que, há 35 anos, divulga o que de melhor se faz nos sectores do mobiliário e decoração do concelho.
“Queremos apresentar uma feira renovada e adaptada às exigências do mercado e, por isso, decidimos incluir espaços gratuitos para designers para que possam apresentar os seus produtos e fazer contactos”, justifica Rui Carneiro, presidente da Associação Empresarial de Paços de Ferreira.
Os designers esperam fazer negócios, mas também melhorar a relação com a indústria e mostrar o que fazem, explicando que não são “um bicho papão”, assumem Christophe de Sousa e Rui Tomás, dois designers premiados que estão na feira.
O certame conta com 60 expositores e espera receber 10 mil visitantes.
Designers com percursos distintos querem desafiar a indústria
Christophe de Sousa, de Felgueiras, e Rui Tomás, de Mafra, são dois dos designers presentes e não escondem a expectativa que trazem. Com percursos diferentes, estes profissionais são ambos premiados e já divulgaram o seu trabalho em feiras e mostras internacionais.
Christophe de Sousa tem 39 anos, é de Felgueiras e vive no Porto. Nos últimos anos, já tem vindo a desenvolver actividade em Paços de Ferreira e Paredes. “Costumo trabalhar com empresas de cá e 90% da minha actividade é com o sector do mobiliário”, explica.
Desde pequeno que quando lhe perguntavam o que queria fazer falava em artista ou desenhador. Foi só no 10.º ano que descobriu a palavra design e percebeu que era o que queria. Seguiu-se o curso de Design Industrial na Universidade Lusíada, no Porto.
Passou por vários empregos fixos, muitos fora da área, e foi fazendo trabalho como designer freelancer, em vertentes tão distintas como o web design, o design gráfico e o de mobiliário. “Era como se tivesse duas vidas”, comenta. Até que abraçou o desafio de cumprir o sonho de trabalhar apenas como freelancer na área que gosta.
O percurso de Rui Tomás é inverso. É de Mafra e tem 43 anos. Começou a perceber que o design podia ser uma opção de vida quando ganhou um concurso para o design de um logotipo no 9.º ano. “No liceu os meus cadernos estavam cheios de desenhos”, conta. Acabou por sair da escola para ir trabalhar com o pai como desenhador orçamentista. A par disso, começou, de forma autodidacta, a produzir logotipos e a decorar montras e, aos 18 anos, criou uma empresa que fazia vinil para montras e carros que ainda hoje existe.
Mas aos 34 anos estava cansado de gerir pessoas e queria regressar à parte criativa. Foi só aí que entrou na Faculdade de Arquitectura de Lisboa e fez uma licenciatura pós-laboral em Design. “A faculdade abriu-me horizontes e passei a ter uma cultura de design que não tinha. Sou o melhor aluno do curso até aos dias de hoje”, refere Rui Tomás. Ganhou bolsas de mérito e vários prémios, foi convidado para desenhar vários espaços conceituados e foi também criando as suas próprias peças de mobiliário e decoração. Hoje tem a sua marca própria.
Prémios validam trabalho. Designers querem mostrar o que fazem
Ambos já participaram em várias feiras e mostras internacionais. “É a nossa forma de mostrar o nosso trabalho lá fora”, justificam. Ambos têm peças premiadas. Entre os principais prémios de Christophe de Sousa estão o Good Design Award e o A’Award Design e entre os de Rui Tomás o Red Dot Design Award e o German Design Award. “São uma validação do trabalho que fazemos porque são atribuídos por pessoas que fazem design”, acreditam os designers.
“A vantagem destes prémios é que nos dão visibilidade e credibilidade”, assume Rui Tomás. “Estamos em Portugal. Se estivéssemos em Itália ou França não precisaríamos desse selo de qualidade”, lamenta Chritophe de Sousa.
Os prémios também trouxeram convites. Entre eles este para estarem na Capital do Móvel. São uma forma de “sair do anonimato”, comentam. Também ajudam a fazer negócio. “Quando dizemos que uma peça é premiada há outro interesse”, confirma o designer de Felgueiras.
Estes profissionais defendem que a inovação que o trabalho dos designers representa é uma “mais-valia para a indústria”, trazendo “valor acrescentado”. “Já bati a muitas portas onde diziam ‘vamos ali e copiamos’, mas também já há quem perceba a importância do design”, refere Christophe de Sousa. Agora, são as empresas a contactá-lo.
O mesmo acontece com Rui Tomás. “Venho bastante motivado para cá para conquistar novos clientes. Tenho competências para oferecer. Nós acrescentamos valor ao produto e simplificamos métodos de produção. Pensamos a peça desde o início”, sustenta.
O designer de Mafra realça ainda que não basta investir em equipamento. “Há empresas que usam tecnologia de ponta para fazer as mesmas peças de há 30 anos, isso não faz sentido”, argumenta. “Os designers estão aqui para desafiar as matérias primas e os limites dos materiais”, diz. “Às vezes não é caro contratar um profissional já que isso pode ter muito retorno”, assegura o profissional natural de Felgueiras.
Estão ambos de acordo sobre o sucesso que a união entre design e indústria pode trazer. “Não estou aqui tanto para fazer contactos, mas para ter uma voz e passar uma mensagem. Mostrar o que os designers fazem e que não são um bicho papão. Abrir a mente à indústria e mostrar que o designer tem que ser um parceiro”, justifica Christophe de Sousa. “Ando também à procura de empresas que queiram comercializar as minhas peças ou desenvolver novas de raiz”, acrescenta.
Apesar de uma maior abertura nos últimos anos, os designers sustentam que nem sempre é fácil abordar uma grande empresa ou conseguir a produção das peças que desenvolvem quando não há escala.
“Somos uma mais-valia para a indústria. Nós podemos ser a diferença”, concluem.
Os quatro designers presentes no evento participam (além destes dois estão presentes Carla Gonçalves e Gualter Luz), no dia 1 de Maio, numa mesa redonda sobre os desafios encontrados pelos designers no sector do mobiliário e o caminho que deverá seguido pelas empresas no sentido de dar o salto neste âmbito.
10 mil visitantes esperados e um milhão de euros em vendas
Até ao dia 5 de Maio, a Capital do Móvel espera receber 10 mil visitantes. Este ano são mais de 60 os expositores numa área de cerca de 10 mil metros quadrados.
“Com um crescimento contínuo do volume de negócios, este será o palco privilegiado para as empresas apresentarem as tendências do sector”, defende a Associação Empresarial de Paços de Ferreira.
“Na última edição (Agosto) chegamos aos 10 mil visitantes e em Abril ultrapassamos os 15 mil. Foi um ano muito positivo para os expositores que, pelas nossas contas, em cada edição, ultrapassaram no total um milhão em vendas”, garante a mesma fonte.
Ao longo dos anos, a organização tem procurado incluir actividades paralelas durante os nove dias em que decorrem a feira – workshops, mesas redondas, mostras temáticas de mobiliário, espaços dedicados ao design e provas de vinho -, e adaptar a sua imagem a um sector em contínua mudança.
Este ano, o rosto da Capital do Móvel é a conhecida relações públicas do Norte, Cláudia Jacques.
A 52.ª Capital do Móvel funcionará de domingo a quinta-feira das 10h00 às 20h00 e sexta-feira e sábado das 10h00 às 22h00.
Recorde-se que, em Paços de Ferreira, existem, segundo dados do INE, mais de 5.500 empresas sendo 735 fabricantes de mobiliário. As empresas do concelho exportam cerca de 422 milhões de euros por ano, representando o mobiliário cerca de 60% (244 milhões de euros).