A Descentralização é uma palavra que recorrentemente aparece no vocabulário político nacional. A sua aplicação é particularmente mais intensa à medida que nos vamos aproximando das eleições e inversamente proporcional à distância a que os membros do Governo se encontram do Terreiro do Paço. Quanto mais longe estão (momentaneamente!) da capital, mais enchem a boca com a defesa da “província”.
Mais: em função do momento, ora lhe chamamos descentralização, ora lhe chamamos regionalização. Uma coisa é certa: apesar de uma tentativa referendada, nunca saiu do papel. E ano após ano, legislatura após legislatura, Portugal (e os seus sucessivos Governos) continua “focado” nas sete colinas da capital e numa dinâmica tipicamente lisboeta de alocar, num pequeno espaço de território, o máximo de recursos possível. Fico com a ideia (para não dizer que tenho a certeza) de que quem lá vive, usando muitas vezes o subterfúgio da evocação da portugalidade, sente que tem de ter tudo de mão beijada, sem esforço nem suor, mesmo que para o resto do território/província fiquem “as migalhas”.
São inúmeras as atrocidades que são feitas ao país. Milhões e milhões de contos foram lá enterrados, e como se não bastasse, o “eurosucessor” tem sido um fiel percursor neste caminho que, mesmo com os critérios comparativos com os outros países europeus a tentar impedi-lo, continuam para lá a afunilar como se todas as estradas para lá fossem a descer e em sentido inverso, como não poderia deixar de ser, fossem a subir.
Reclama-se que o Governo não quer descentralizar. Concordo, tal como disse umas linhas acima. Mas, os autarcas têm duas palavras a dizer neste emaranhado processo: podem começar por dar o exemplo e numa sã convivência de transferência poder, demonstrar disponibilidade para também eles abdicarem de poderes municipais. Há seguramente muitos eixos de actuação que beneficiariam a população caso usufruíssem duma visão/poder supramunicipal. Num segundo plano está a “palavra” mais difícil de dar para os nossos autarcas: pelo poder que têm junto dos aparelhos partidários que lideram o nosso país, sendo eleitos para defender os interesses da sua população e melhorar a sua qualidade de vida, devem ser actuantes, proactivos e corajosos para enfrentar um poder escondido que tem contribuído para que um habitante da capital tenha, em média, quase 3 vezes o poder de compra de um cidadão de Paços de Ferreira.
PS: A responsável do Infarmed afirmou que a transferência desta instituição de Lisboa para o Porto poderá ser um problema de saúde pública nacional e eventualmente mundial. Estas (mais do que lamentáveis) palavras não merecem qualquer que tipo de reflexão. Aguardo a reacção do Governo.