A delegação de Paredes da Associação Portuguesa de Deficientes (APD Paredes) comemora, este sábado, o 25.º aniversário, fazendo uma homenagem a várias figuras e individualidades que marcaram a evolução da instituição.
Ao Verdadeiro Olhar, o presidente da APD Paredes, Adão Barbosa destacou que esta homenagem tem como propósito mostrar às muitas individualidades “gratidão e reconhecimento”. “Além do apoio dos sócios e das entidades públicas, a ajuda destes beneméritos revelou-se fundamental para o funcionamento desta associação, que pode agradecer a essas pessoas os 25 anos de história que já leva”, disse, salientando que falar de 25 anos é também falar de pessoas que, ao longo do tempo de vida da APD Paredes, contribuíram de forma fundamental para a sua sobrevivência e funcionamento.
Os homenageados serão Domingos Barros, sócio honorário e benemérito; Elias Barros, benemérito; Mário Rocha, empresário e benemérito; Francisco Ferreira, benemérito; Manuel Fernando Rocha, benemérito; Humberto Santos, do Instituto Nacional de Reabilitação e benemérito.
A celebração de um quarto de século de existência e constitui uma oportunidade dos associados e demais actores ligados à temática de deficiência e não só se reencontrarem. “Esta é, também, uma oportunidade para nos reencontrarmos com os motivos que fundamentaram a criação da Associação Portuguesa de Deficientes a nível nacional, ao mesmo tempo que propicia a projecção desta instituição no futuro. E neste sentido, o passado, o presente e o futuro têm algo que os une, que é a identidade reivindicativa que, desde a fundação, faz parte da génese da associação. Fazer 25 anos é, neste âmbito, reforçar esta componente reivindicativa inerente à actuação da APD na sociedade, de uma forma enquadrada com as características da sociedade em que vivemos”, sustentou Adão Barbosa.
O dirigente da APD Paredes assumiu que a instituição atingiu um patamar de desenvolvimento social em que, referiu, “pelo menos, observamos a existência de uma cada vez maior preocupação social, e mesmo política, com os direitos e necessidades das pessoas portadoras de deficiência”. “Apesar de acharmos isso louvável, consideramos que é preciso mais”, expressou, defendendo que é preciso que as entidades públicas comecem a dar sinais sérios ao nível das medidas políticas de apoio. “Medidas que não passem apenas pelo assistencialismo, mas que criem formas eficazes de integração dos portadores de deficiência no mercado de trabalho, explorando as oportunidades que existam ao nível da legislação laboral”, atestou, frisando que é necessário, à semelhança do que já existe noutros concelhos, avançar com a criação do provedor do cidadão com deficiência.
“Ao mesmo tempo, outro dos sinais que acho importantes são o da criação, nos vários municípios da região do Tâmega e Sousa, de Provedores do Cidadão com Deficiência, tal como já acontece no Marco de Canaveses, com o nosso associado Cristiano Magalhães, numa linha de reforço do estatuto social e político que achamos que poderia ser extremamente vantajosa em termos da adequação de políticas inclusivas tomadas”, atestou.
“Desporto – área que mais projecta a instituição”
Referindo-se às actividades e serviços que a instituição presta, Adão Barbosa assumiu que o desporto é uma das actividades mais carismáticas da APD Paredes e a que mais a projecta a nível nacional.
Além da prática de atletismo e natação, a APD Paredes tem uma equipa de basquetebol bastante competitiva a disputar o campeonato nacional de basquetebol de cadeira de rodas, prova organizada pela Federação Portuguesa de Basquetebol. As duas equipas integram trinta utentes e participam em provas federadas, maioritariamente a nível nacional.
O dirigente frisou que o papel do desporto na integração da pessoa com necessidades especiais é o mesmo que há para qualquer atleta: competir. “Quando falamos de desporto, falamos de competição, e não de uma terapia. E o atleta de desporto adaptado compete com os mesmos princípios e valores de um atleta de desporto não-adaptado. Em ambos existe superação de obstáculos, promoção de forma desportiva, desenvolvimento de habilidades e aptidões, e luta pela vitória. Não se confunda desporto com fisioterapia. No desporto, estamos lá para competir, seja no sentido de superarmos os adversários, seja com o intuito da auto-superação”, referiu, aludindo que o desporto pode contribuir positiva ou negativamente na capacidade de integração da pessoa. Depende de indivíduo para indivíduo.
Na área do desporto, Adão Barbosa manifestou, ainda, que a instituição tem de melhorar a capacidade de comunicação com os adeptos, a fim de dar a conhecer as nossas actividades desportivas de uma forma mais eficaz. “Paralelamente a isto, a realização de eventos desportivos de escala nacional na região ao nível do desporto adaptado, pode promover gradualmente o aumento desse interesse”, exprimiu.
Segundo Adão Barbosa a natação é uma modalidade que gostariam de relançar, até pela enorme projecção que a natação adaptada granjeou no país. “Quando assistimos a uma prova nacional de natação adaptada, ficamos surpreendidos com a presença de imenso público nas bancadas a assistir às provas, dinâmica essa que eu gostaria de atrair para a região, com a realização de uma prova nacional de natação adaptada. Já está na hora de a região acolher anualmente um grande evento de desporto adaptado, e a natação parece ser a modalidade ideal, até pela forte implantação que tem aqui”, disse.
“Outras modalidades que queremos desenvolver são o boccia, que tantas alegrias já deu e ainda dá ao desporto português, e um projecto do qual se tem falado internamente e que seria pioneiro a nível nacional, que seria o dos matraquilhos. Seria bonito que a APD Paredes desse o mote para o desenvolvimento da variante competitiva adaptada dos matraquilhos, que é uma modalidade que tem dado alguns bons resultados a Portugal”, atestou.
A nível sócio-cultural, além de actividades de sensibilização, a instituição organiza vários convívios anuais proporcionados aos associados, excursões ou passeios. Está previsto, num futuro próximo, o lançamento de um centro de atendimento, acompanhamento e reabilitação social na instituição.
“Dificuldades são comuns às demais associações”
Ao nível financeiro, Adão Barbosa destacou que os obstáculos que associação enfrenta são comuns a várias outras associações e colectividades. “Os nossos recursos financeiros, que provêm do apoio das entidades públicas, dos associados e de generosas contribuições de alguns beneméritos da instituição, vão-nos permitindo manter a participação da equipa de basquetebol no campeonato nacional, da secção de atletismo em várias provas do país e a organização de passeios e convívios entre os associados, além da organização de alguns eventos culturais. Apesar de agradecermos o apoio dado, reconheço que é preciso gerir o orçamento com muita prudência”, afiançou, sustentado que, em virtude dos condicionalismos financeiros, a instituição não tem capacidade de dispor de pessoas a trabalhar a tempo inteiro.
“É uma instituição que funciona à base do trabalho voluntário dos seus associados e colaboradores. Em termos práticos, isto talvez nos impeça de levar a cabo actividades que até conseguiríamos executar em condições normais, mas que, enquanto voluntários, não temos disponibilidade para as fazer. Até porque, felizmente, vários dos nossos associados têm a sua actividade profissional e vida familiar, e todo o trabalho que fazem pela associação é realizado no seu tempo livre, que, por vezes, é bastante curto”, acrescentou.
“Por ainda não existir um conhecimento aprofundado sobre o tema, o poder político ainda anda à descoberta das melhores soluções de intervenção sobre o problema”
Adão Barbosa reconheceu que existe uma maior empatia para com o tema da deficiência e inclusão, apesar de existirem áreas ainda a melhorar.
“É esse sentimento de maior sensibilidade para com o tema da inclusão que a APD tem de explorar, a fim de ver o seu trabalho mais notado e a sua importância reconhecida”, garantiu, reconhecendo, no entanto, ser necessário continuar a investir nesta área, existindo dois domínios a ter em conta, o do conhecimento real dos condicionalismos e obstáculos que uma deficiência traz ao seu portador e melhorar o défice de informação relativamente à deficiência.
“Não basta querer incluir, mas também saber incluir. E a inclusão social de um deficiente depende das especificidades de cada deficiência, que obrigam a um processo diferente por cada indivíduo. Mas obriga a ter noção de que a deficiência cria obstáculos reais ao seu portador, o que justifica a existência de apoios financeiros e logísticos a estas pessoas, de modo a mitigar as consequências desfavoráveis de uma deficiência. O segundo aspecto tem a ver com o ainda existente défice de informação relativamente à deficiência, na medida em que, por ainda não existir um conhecimento aprofundado sobre o tema, o poder político ainda anda à descoberta das melhores soluções de intervenção sobre o problema. As recentes medidas adoptadas ao nível da Prestação Social para a Inclusão são um bom princípio, mas devem ser acompanhadas de medidas mais ambiciosas ao nível de um acesso mais fácil ao mercado de trabalho, seja no sector privado, seja no Estado, onde existe défice de empregabilidade de pessoas com deficiência”, defendeu.
Adão Barbosa realçou que será a partir do acesso ao mercado de trabalho, e da existência de um forte apoio social aos cidadãos com deficiência neste país, que se criarão as condições adequadas para a afirmação social, económica e política destas pessoas, que será um importante próximo passo na inclusão do deficiente na comunidade.
Ao nosso jornal, o responsável pela ADP Paredes esclareceu que as barreiras físicas e arquitectónicas são ainda um problema e um atropelo aos direitos das pessoas portadoras de deficiência.
“A partir do momento em que existem nos serviços públicos problemas de acessibilidades, geram-se situações de desigualdade no acesso aos serviços, o que é muito grave. Tem-se melhorado, mas os problemas ainda são, infelizmente, grandes”, anuiu.
Criação do Centro de Atendimento, Acompanhamento e Reabilitação Social
O dirigente da APD Paredes afirmou que um dos projectos que a associação quer implementar é o da criação do Centro de Atendimento, Acompanhamento e Reabilitação Social, valência que engloba pessoas com deficiência e famílias, no sentido da prestação de informações, acções de esclarecimento e sensibilização, acompanhamento personalizado.
“Tudo no sentido de criar as condições necessárias para que, por um lado, as pessoas disponham das informações adequadas para que possam usufruir plenamente dos direitos e regalias que a lei prevê, e, por outro, que as pessoas estejam dotadas de condições que lhes permitam escolher uma via que permita a sua integração no espaço social envolvente. A intervenção prática, ou parcerias com entidades em casos onde haja necessidade de intervenção em situações de crise, são outras das dimensões de um projecto que, a seu tempo, será devidamente explicado e esclarecido”, assegurou, afirmando que a instituição está aberta ao diálogo e estabelecimento de parcerias para a realização de actividades com a comunidade e instituições do concelho de Paredes e da região.
A quase totalidade dos utentes da APD Paredes são originários não apenas de Paredes, como dos vários concelhos da região, nomeadamente Penafiel, Marco de Canaveses, Amarante ou Paços de Ferreira. A instituição não dispõe de lista de espera de portadores de deficiência. Sobre este assunto, Adão Barbosa divulgou que da mesma forma que a APD tem no tema da inclusão uma das suas maiores causas, é a própria associação a dar o exemplo, abrindo as portas à participação de pessoas interessadas, sejam deficientes ou não.