António Taipa, administrador diocesano do Porto, revelou, esta segunda-feira, no decorrer dos 130.º aniversário do Padre Américo, que este foi uma figura ímpar da sociedade portuguesa e da Igreja no nosso país.
“Padre Américo foi um homem que preservou a sua liberdade em relação a todas as coisas, por amor por aquele que o apaixonou que foi Jesus Cristo. Trata-se de um grande padre que não sairá mais da nossa história nem da Igreja em Portugal”, disse.
D. António Taipa recordou que teve a felicidade de participar, também, no seu processo de canonização do Pai Américo.
“Fiz a avaliação teológica dos seus escritos, o que me fez lê-lo e relê-lo várias vezes. Tentei fazer muitas coisas a propósito do que ele escreveu, algumas das quais não me foram possíveis realizar. De qualquer modo, tive oportunidade de reviver, repensar a sua obra para que ela possa continuar a criar raízes no nosso tempo ou na novidade do nosso tempo”, revelou.
O Padre Júlio Pereira, da Casa do Gaiato de Paço de Sousa, realçou que a exposição, agora, inaugurada, que vai estar atente ao público é apenas a primeira fase de um processo que tem como propósito criar um espaço-museu instalado no edifício das antigas Escolas da Casa do Gaiato de Paço de Sousa.
Falando das Escolas da Casa do Gaiato de Paço de Sousa, o Padre Júlio Pereira manifestou que foi necessário proceder à adaptação do edifício e fazer todo um trabalho de recolha e inventariação das peças e dos artefactos.
“Um memorial é um lugar vivo, sempre com novidades, que não depende apenas de nós, mas de todos os amigos e familiares do Pai Américo que nos facultaram alguns dos artefactos. Trata-se da rampa de lançamento do memorial, que integra já muitos objectos que vão permanecer, em definitivo, no local, mas esperamos que outros objectos e artefactos possam surgir assim como outras formas de expressão”, disse, frisando que o memorial além do conhecimento da vida e da obra do Padre Américo Monteiro de Aguiar tem como propósito dar a conhecer a sua espiritualidade e a sua pedagogia.
“Não é ainda o memorial definitivo porque isso irá sendo feito com o tempo, mas trata-se de uma primeira exposição sobre os 130 anos do seu nascimento. Muitas coisas permanecerão, outros serão devolvidos, mas as coisas são mesmo assim até porque quem possui alguma coisa do Pai Américo guarda com grande devoção, espírito afectivo e, por isso, compreende-se que queiram ter na sua posse esses sinais visíveis da sua vida”, adiantou.
Ao Verdadeiro Olhar, o Padre Júlio Pereira referiu que o local onde se encontra, agora, a mostra, foi em tempos um estabelecimento de ensino desde os anos 40 até 2007, com ensino básico e onde funcionou o 5 e 6.º de escolaridade no sistema da telescola.
“Reformulamos, por completo o espaço, para que fosse mais fácil adaptá-lo aos fins que pretendíamos. Foi um trabalho demorado e contou com a colaboração dos rapazes da Casa do Gaiato que foram assistindo ao evoluir da obra”, expressou, confessando que, no futuro, o objectivo passa por continuar a dar vida ao espaço, implementar iniciativas, formas de expressão que ajudem a transmitir a vida e obra do o Pai Américo e dá-lo a conhecer a todos.
Quanto à exposição propriamente dita, o Padre Júlio esclareceu que a mostra começa com o acto de nascimento do Pai Américo, integrando objectos da família, que o próprio Padre Américo usou, acompanhando o seu crescimento, as fases mais importantes, com documentos e objectos escritos que retratam essa fase da sua vida.
“Acreditamos naquilo que fazemos embora, por vezes, alguns mais levados pela moda e pela aparência das coisas possam pensar o contrário”, atestou, reforçando que o Padre Américo continua a ser uma figura marcante da sociedade portuguesa.
“Todas as pessoas que não tenham preconceitos apreciam-no. Desde o Presidente da República ao pobre mais humilde que diariamente coloca flores na sua estátua na Praça da República ou visita a sua campa em Paço de Sousa. É uma personalidade que foi fundamental em muitos aspectos para o país. Tudo aquilo que ele fez, numa fase muito difícil, trouxe novidades para a sociedade”, afiançou.
Américo Monteiro de Aguiar nasceu a 23 de Outubro de 1887, em Galegos, Penafiel. Eternizou-se como Padre Américo ou Pai Américo, pela dedicação aos pobres, aos rapazes da rua, aos doentes sem ninguém.
Fundou a Obra da Rua, em 1940, ao criar a primeira Casa do Gaiato, em Miranda do Corvo. Seguiu-se o Património dos Pobres e o Calvário. Durante anos foi “recoveiro” dos pobres um pouco por todo o país, ajudando os carenciados e as crianças sem família.
Acabaria por morrer, aos 68 anos, vítima de um acidente de viação, em Valongo. Mas a Obra da Rua continuou viva.
Encontra-se sepultado em campa rasa na Capela da Casa do Gaiato de Paço de Sousa.
Desde 1986 está a decorrer um processo de beatificação do Padre Américo.