Escrevo este artigo na “ressaca” de uma semana terrível para o futebol português. O que se passou com uma grande instituição como o Sporting CP é um verdadeiro cânone à irresponsabilidade que grassa pelo dirigismo nacional. A nossa sociedade encontra-se pejada de “líderes” sem o mínimo sentido da responsabilidade com um profundo desconhecimento das implicações que os seus actos e as suas palavras, faladas ou escritas, têm junto da população.
Na minha opinião, o Presidente do Sporting SC é um populista. Está na cara e só quem não quer ver é que não o assume com a mesma frontalidade. Assumo-o, sem complexos, pelas seguintes razões:
- A chegada ao poder: Chega ao poder num ambiente particularmente difícil para o eleitorado que o elegeu. Tal como todos os populistas, a sua retórica assentou num corte radical com um (suposto) passado nubloso ao nível da legalidade e “cinzentismo” ao nível dos resultados alcançados. Estas duas características contribuíram decisivamente para que o seu primeiro resultado eleitoral fosse “apertado” mas euforicamente festejado. Tinha-se aberto um novo tempo no Sporting CP, como se Jesus Cristo tivesse voltado à terra para nos libertar das trevas e abrir um novo mundo, pleno de bem-estar e vitórias!
- Após a chegada ao poder: nesta fase, o principal objectivo de um populista é o de prolongar o seu estado de graça o mais que conseguir, nem que para tal tenha que ser colocado em causa o bom nome dos seus antecessores. Quem não se lembra dos inúmeros processos judiciais invocados por Bruno de Carvalho contra todos os ex-presidentes do clube, a maior parte deles, que por lá passaram sem retribuição alguma, ao contrário do actual Presidente que é, segundo julgo saber, principescamente pago.
- Surgimento do primeiro momento negativo: quando as coisas não correm bem, todo o populista encontra um subterfúgio de forma a desviar as atenções para o que de mal foi feito pela sua equipa. Por isso, quando não se ganha, dispara-se para o clube do lado….para os árbitros…..para o sistema……para o céu se tal for necessário! O importante é que as culpas não sejam imputadas ao populista, sob pena de colocar em causa o seu “reinado”. Surge então no dia-a-dia do Sporting a retórica associada à transparência, à luta contra os clubes que ganham à custa dos favores dos árbitros, etc.
- O fim do primeiro mandato: o poder democrático apresenta-se para qualquer populista com um (dispensável) aborrecimento: ter que prestar contas e ouvir uns “velhos do restelo” que teimam em imiscuir-se no dia-a-dia da instituição superiormente liderada pelo populista. Para acabar com esta “maçada”, nada como provar aos seus detratores que o povo está do seu lado, prometendo, mais uma vez, o “Céu e a Terra”. Isto mesmo foi conseguido quando Bruno de Carvalho se sujeitou a votação na última Assembleia Geral do Clube, alimentando ainda mais o seu ego e levando-o a assumir-se ainda mais como a “última bolacha do pacote” sportinguista.
- A tragédia final: mas há um final que, invariavelmente chega para todos estes percursos assentes na demagogia e na promessa fácil. O fim dos populistas foi, é e continuará a ser trágico e de proporções espectaculares. A história tem-nos ensinado que os líderes populistas dos mais diversos quadrantes estão em fim de linha quando, confrontados com a dura realidade dos factos, tentam sacudir a água de um capote completamente “encharcado”. Na segunda edição da guerra do Iraque, por mais que gritasse que a vitória seria de Saddam Hussein, o Ministro da Defesa do anterior regime iraquiano nunca conseguiria esconder os tanques aliados que surgiam nas imagens mesmo por detrás das suas costas. Assim, por mais longa que tivesse sido a conferência de imprensa de Bruno de Carvalho no passado sábado, nunca ninguém compreenderia a triste tentativa do líder do clube de “chutar” para os jogadores a culpa da situação que o clube viveu em véspera de um importante jogo para a sua equipa.
Desafio o estimado leitor que respeitosamente leu este meu texto até ao fim a trocar o nome Bruno de Carvalho por um outro qualquer populista que tenha “à mão de semear” de forma a comprovar se as diversas etapas são (ou não) comuns e se encaixam na sua maneira de estar e actuar perante as massas. Tal como Bruno de Carvalho no Sporting, seja quem for a personagem do exercício que fez, vai seguramente acabar mal, tal como todos os populistas acabaram. Pior, vai acabar com relevantes custos para a população em causa. Saberá quando no momento em que, tal como para Bruno de Carvalho, o primeiro sinal do princípio do fim é dado: ao atirar para cima de terceiros a culpa de uma má decisão quando está à vista de todos que, desta vez, a culpa não é dos outros!