Tenho por hábito colocar numa pasta os textos que não tenho tempo de ler mas que, por me parecerem interessantes, guardo para ler mais tarde. Um desses textos, guardado desde Dezembro do ano passado, foi uma entrevista ao vencedor do Prémio Pessoa, Henrique Leitão, em que explica como é que a ciência moderna progrediu na Europa.
Henrique Leitão é um físico teórico de formação que se virou para as humanidades para perceber melhor a História da Ciência. Nessa entrevista, diz que os estudos que desenvolveu lhe permitiram chegar à conclusão de que foi o Cristianismo que forneceu a base para o desenvolvimento da ciência moderna. “Se não houvesse uma base cristã, nunca teria havido, propriamente, ciência moderna, porque se hesitava sobre aspectos que são absolutamente centrais para haver ciência”, afirma, explicando: “Para se poder fazer ciência, é preciso ter um conjunto muito específico de ideias sobre a natureza. Ora, sucede que o Cristianismo fornece, precisamente, essas ideias. O Cristianismo afirma que a natureza é boa, a natureza é racional e a natureza é contingente, o que quer dizer que é desta maneira, mas poderia ser de outra, e só se pode saber como é investigando.”
Henrique Leitão é doutorado em Física Teórica e orientou a sua investigação para a História das Ciências, sobretudo nos séculos XV, XVI e XVII. Coordenou a publicação das obras de Pedro Nunes e contribuiu para resolver um problema científico: o Método da Projecção de Mercator, feita pelo cartógrafo e matemático Gerhard Mercator, que conseguiu representar, pela primeira vez, o globo num plano.
O físico explica como a ciência moderna vingou na Europa: “Estas ideias – a da bondade do mundo natural, do mundo físico e do mundo biológico e da sua racionalidade – que são absolutamente cruciais para haver ciência, são disseminadas culturalmente pela Europa pelo Cristianismo”. E, assim, ao contrário do que aconteceu na China e no mundo árabe, onde a ciência era assunto de elites, na Europa todas as camadas da população tinham algum interesse na ciência.
Desta conclusão, tiro outra: agora que a Europa está a ser procurada por aqueles que tudo perderam em guerras nas suas terras, incluindo a possibilidade de lá viver, esperemos que a matriz cristã que ainda é perceptível na nossa Europa se mantenha à tona destes mares revoltos de guerras que julgávamos longínquas e de terrorismos que já cá estão e nos leve a acolher com solidariedade aqueles que buscam asilo, sem nos deixarmos manipular pelos que querem convencer-nos a confundi-los com terroristas.