Pode parecer que a crise política que se vive na Catalunha, pouco tenha que ver com Portugal, mas não é bem assim.

Na realidade, o que se tem passado e continuará a acontecer na Catalunha, afecta de sobremaneira a estabilidade geopolítica, social e económica de toda a Península Ibérica e por conseguinte Portugal não passa ao lado desse problema.

No limite, a crise política da Catalunha pode levantar sérios problemas a toda a Europa Ocidental.

As eleições que ocorreram em dezembro passado, serviram para clarificar a situação politica e social, levando precisamente o problema existente até então, para o campo político, e não para a questão jurídica e muito menos para o campo policial.

Carles Puigdemont, o ex-presidente da região, ao ter-se auto exilado em Bruxelas, vitimizou-se, e criou condições propícias para um nítido favorecimento das forças partidárias independentistas, nesse acto eleitoral.

As eleições de 21 de Dezembro não clarificaram a situação política, como seria inicialmente a ideia do governo espanhol, isto porque, os partidos independentistas obtiveram a maioria dos mandatos no parlamento catalão, embora o partido Ciudadanos que venceu as eleições, seja anti independentista.

De realçar a derrota humilhante do Partido Popular, partido do Chefe do Governo Espanhol Mariano Rajoy, e o resultado também negativo dos partidos da esquerda da Catalunha.

Os conflitos permanentes e as divisões de vária ordem que ensombram a Catalunha tornam muito difícil e quase impossível um diálogo sério e profícuo entre o bloco independentista, os partidos denominados constitucionalistas e o Governo Espanhol.

Caberá, do meu ponto de vista, ao governo espanhol, legitimado pelo voto popular dos eleitores espanhóis, iniciar um diálogo construtivo, sério e responsável, sem quaisquer tiques de arrogância e/ ou prepotência, por forma a se encontrar as melhores soluções de estabilidade para a região, sem prejuízo de evitar os extremismos característicos dos independentistas.

A principal mudança deverá ser a da própria constituição espanhola, possibilitando uma organização federal do estado.

Temos que retirar da Catalunha algumas lições e ilações:

Desde logo, que os nacionalismos estão a renascer e a ganhar força na Europa, o que aliás, vai nos antípodas da lógica politica que tem permanecido no seio da União Europeia.

Todavia, não são casos únicos, pois situações como as já vivenciadas em países como a Hungria, Áustria, Polónia entre outros, devem ser tidas em atenção.

A incomensurável história do velho continente europeu, as diferenças culturais, linguísticas, sociais, a idiossincrasia dos diferentes países, marcaram de forma indelével a vida colectiva das nações europeias.

Os diferentes agentes políticos e responsáveis europeus, devem estar  atentos e vigilantes, por forma a serem evitados os exageros xenófobos, racistas e em alguns casos teórica e tendencialmente bélicos, característicos dos nacionalismos populistas, que em última instância, podem levar ao poder lideres políticos que não convivem na plenitude com os ideais democráticos e progressistas que sempre fizeram parte do ADN da Europa.

O respeito pela Liberdade, nas mais variadas cambiantes, e a sã convivência democrática entre todos os agentes, são vectores fundamentais que têm que ser, não só respeitados como fortalecidos.

São estes, além de muitos outros, os desafios da Europa, cada vez mais diversificada em usos e costumes, mas que deve estar sempre unificada e sintonizada com os ideais da liberdade, respeito e democracia.

Foram estes os propósitos dos “Fundadores da Europa”, cabendo a todos os percussores do projecto europeu, traduzirem na prática esses mesmos valores.