Quando a Cooperativa dos Produtores Agrícolas do concelho de Valongo (COOP Valongo) nasceu, há 43 anos, a realidade do concelho era muito diferente. A actividade era focada nos factores de produção, com venda de sementes, adubos e rações e apoio aos agricultores. Mas os tempos mudaram, a produção de leite e carne caíram e a COOP Valongo teve de adaptar-se.
Actualmente, tem um armazém, com ponto de venda, no Susão, e uma loja em Ermesinde. A aposta, depois de uma mudança radical há três anos, tem sido na venda dos produtos hortícolas e fruta produzidos pelos associados.
A meta é simples: que é o que é produzido em Valongo seja consumido no concelho. Os responsáveis pela Cooperativa acreditam que a agricultura nas freguesias de Alfena, Campo e Sobrado, Ermesinde e Valongo ainda tem muito por onde crescer.
Nasceu no Largo do Centenário e agora está em Susão e Ermesinde
A Cooperativa dos Produtores Agrícolas do concelho de Valongo surgiu a partir do Grémio que existiu no concelho. “Antes de 1975 era o Grémio, entretanto houve uma reformulação e passou a cooperativa”, explica José Luís Dias, presidente da COOP Valongo. Oficialmente fundada em 1976, a cooperativa tinha como meta vender produtos e factores de produção aos agricultores, desde adubos a sementes, também venda de produtos e apoio à parte burocrática. “Inicialmente a cooperativa nasceu para vender os produtos e tratar da parte burocrática, dos documentos, de tudo o que os associados precisavam, como análises de terra, por exemplo. Dirigiam-se à cooperativa, e ainda hoje o fazem, para resolver isso, porque o produtor ou há-de estar a trabalhar no campo ou a fazer essa parte”, assume o dirigente.
Durante anos as instalações foram no Largo do Centenário. Até que, há cerca de 15 anos, se mudaram para o armazém que já tinham, em Susão. “Inicialmente era para fazer obras na sede e era provisório, mas passou a ser definitivo. Agora a cooperativa já não quer sair do Susão”, garante o dirigente.
O projecto foi crescendo e evoluindo. Começou com 15 sócios e hoje tem aproximadamente 220, um número que tem vindo a crescer. “A área de abrangência é Valongo, mas estamos sempre disponíveis a aceitar sócios de Valongo, e também Gondomar e Paredes”, diz.
Aquilo a que se dedicavam também foi mudando. A Cooperativa esteve muito tempo dedicada ao sector leiteiro e à produção de carne. “Entretanto com a crise na área da carne e do leite muitos produtores desistiram de produzir carne e leite e a cooperativa teve de se vocacionar para a parte das hortícolas”, justifica José Luís Dias. O número de produtores de leite baixou de 25 para sete. E era preciso evitar que os terrenos agrícolas fossem deixados ao abandono. “As pessoas tinham as terras e tinham de saber o que iam produzir e para quem vão vender”, já que havia quem não soubesse a que se dedicar e quem estivesse a produzir sem saber escoar os produtos. “Os nossos associados produziam hortícolas, mas muitos não tinham onde vender. Quisemos reactivar a agricultura depois de o concelho ter estado muito voltado para o sector do leite”, acrescenta. Também tem crescido no concelho a fruticultura, dizem José Luís Dias e também Vicente Ferreira, tesoureiro da COOP Valongo e quem gere o dia-a-dia da instituição.
Mudança radical com aposta nos hortícolas e na formação
Nos últimos três anos, a mudança na maneira de trabalhar da Cooperativa foi “radical”, admitem os responsáveis. “Não se conhecia o sector das hortícolas, ninguém estava vocacionado para trabalhar isso. Foi uma mudança grande”, confessam.
Fizeram investimentos, entre eles em câmaras frigorificas para preservar os produtos e lançaram-se na abertura de uma loja em Ermesinde, onde fazem venda directa ao público daquilo que é produzido no concelho pelos associados. Abriu em Outubro de 2017.
Há cerca de um ano venda passaram a ter venda de hortícolas também em Susão, numa ‘mini loja’ dentro do armazém. Só pelo espaço do Susão passam, em média, 50 pessoas por dia para resolver todo o tipo de questões e adquirir produtos.
“Acho que está a dar resultado. Conseguimos escoar através da venda directa a maior parte dos produtos que se produzem em Valongo, não só ao consumidor final, mas também em restaurantes”, adianta José Luís Dias. É essa a prioridade e meta: que é o que é produzido em Valongo seja consumido no concelho.
Mas há mais objectivos. “Neste momento, resolvemos 90% dos problemas dos associados que aparecem diariamente. Damos assistência na área dos subsídios e tudo o que seja a parte burocrática, tratamos das questões sanitárias dos animais” e vendem factores de produção, assim como os produtos finais, refere o dirigente. Uma das grandes apostas também tem sido a da formação, desde os fitofármacos à condução de tractores e manobras de máquinas ou podas. “A nossa bandeira nesta altura é a formação, sem isso não há crescimento”, dizem José Luís Dias e Vicente Ferreira. Querem ter mais cursos. A apicultura é uma das hipóteses em cima da mesa, para estimular a que mais pessoas tenham abelhas. “Temos um clima espectacular para a produção de mel e também queremos ir por aí. Em 2020 estamos a prever dois cursos para apicultores e quem se queira iniciar na área apícola”, avança o presidente da COOP Valongo.
Uma outra meta passa por ter um técnico que dê acompanhamento aos agricultores e os ensine a explorar da melhor forma a produção dos hortícolas, nas melhores condições sanitárias. “Um técnico que vai ajudar a produzir bem, e com maior rendimento, para o agricultor se sentir acompanhado. Esse é o próximo passo e é prioritário”, garante José Luís. Isso permitirá o registo de produtos, com ficha técnica e rastreabilidade, que vai ser uma mais-valia para a venda, em Valongo, mas também noutros locais.
Agricultura em Valongo tem muito por onde crescer
Actualmente, a Cooperativa é cada vez mais reconhecida no concelho, quando antes muitos nem sabiam que existia. “Com a abertura da loja as pessoas começam a conhecer e sabem que há uma cooperativa agrícola em Valongo, quando há cerca de quatro anos nem imaginavam”, admite o dirigente.
A procura pelos produtos da horta e frutas produzidos no concelho tem sido crescente. “Há uma grande procura pela batata e produzimos cá bastantes toneladas de batatas. Temos uma produção vasta de kiwis e o vinho é muito importante e na freguesia de Sobrado está a crescer bastante. Já lá há cerca de 200 hectares de vinha”, refere. Depois há alguns hectares de mirtilo e um produtor de framboesas. Os restantes produtos como as couves, repolhos, cenouras, tomates, pimentos ou nabos, entre outros, são produzidos em menor escala, por vários agricultores.
No coração de Ermesinde ou na sede em Susão, quem procura a Cooperativa sabe o que quer, garante José Luís Dias. “O nosso cliente aqui procura o que é produzido em Valongo e da maneira mais artesanal. Fazemos a diferença por aí”, sustenta.
O presidente da COOP Valongo diz que ainda há muito por onde crescer. “No caso do mirtilo ainda podemos crescer mais, no kiwi também, na parte da fruticultura, na horticultura, como nas batatas e não só. Daquilo que estamos a fazer ainda podemos produzir muito mais”, afirma.
O projecto da Cooperativa também não pára. “Queremos fazer na sede, em Susão, uma parte de pesagem dos produtos, embalamento, com rastreamento de produtos. Já temos lá as câmaras montadas, e queremos trabalhar mais o concelho e conseguir que o consumidor consuma mais o que é produzido aqui. O projecto ainda é uma criança”, admite.
O que também tem vindo a mudar, sente José Luís Dias, é a forma como a figura do agricultor é vista. “Antes quem ia trabalhar na agricultura era aquela pessoa que não sabia fazer nada e hoje está-se a provar que quem fica na agricultura é aquela pessoa que tem de ser profissional e saber trabalhar. Hoje cada vez exige-se que o agricultor saiba mais e estão a ficar pelo caminho as pessoas que não sabiam trabalhar na agricultura. Isto mudou completamente e o consumidor final está a olhar com outros olhos para o agricultor”, acredita.
É preciso incentivos para os jovens
Por outro lado, o responsável pela Cooperativa de Valongo defende que é preciso mais incentivos para os jovens escolherem a agricultura como modo de vida. “Ou provavelmente daqui a 10 a 15 anos a agricultura em Valongo vai ser muito má, porque não vai haver quem queira trabalhar. As pessoas que estão a trabalhar a agricultura agora têm de 50 anos para cima a maior parte”, dá como exemplo.
“Isso não parte só da Cooperativa e dos consumidores, também tem de partir do Estado ajudar mais os jovens agricultores e incentivá-los”, acredita, acrescentando que o estímulo dado ao consumo de produtos do concelho pela COOP Valongo também pode ajudar a despertar para as potencialidades do negócio.
“A agricultura é uma actividade interessante. Se a pessoa souber que vai ganhar alguma coisa em produzir e que consegue pô-la no mercado e que vai ser rentável” pode apostar na área, alega José Luís Dias. Esse foi um pouco o trabalho que têm tentado fazer. “A Cooperativa acaba por rentabilizar mais o produto. Porque muitas vezes os produtores produziam e acabavam por vender às grandes superfícies ou a intermediários e o preço não era tão vantajoso. A Cooperativa vendendo directamente ao consumidor final acaba por permitir que a margem do agricultor seja maior”, conclui.