Os 436 mil euros que foram encontrados escondidos entre as pedras de um muro, em Rio de Moinho, Penafiel, há cerca de dois anos, foram reclamados por um emigrante, de 46 anos.
O homem, natural daquele concelho, alega que o dinheiro, escondido em quatro cofres, foi resultado do seu trabalho como construtor civil e manobrador de máquinas. Diz que colocou ali as notas por não confiar nos bancos nem na sua mulher, avança o JN.
O Ministério Público não ficou convencido e arquivou o inquérito, propondo que o dinheiro reverta para o Estado, mas o juiz de Instrução Criminal de Penafiel rejeitou e diz que a decisão deve ser definida por um processo cível.
Recorde-se que este caso começou em 2021, quando decorria uma obra de requalificação naquela freguesia, e um dos trabalhadores terá identificado um homem que chegou ao local de carro, apresentando-se como emigrante regressado à terra, e vasculhou o muro de pedra, tendo depois saído dali sem dar mais explicações. A GNR, que acompanhava os trabalhos passou o muro a pente fino e descobriu o dinheiro nos cofres, tendo chamado ao local o núcleo de investigação criminal.
O caso chegou à justiça e, ainda segundo o JN, o homem contou que “a fortuna é fruto do seu trabalho como operário da construção civil e manobrador de máquinas”, tendo decidido “escondê-la no velho muro de pedra por não confiar em bancos, nem na própria mulher”.
O emigrante terá contado que parte do dinheiro, 52 mil euros, tiveram origem numa herança que o pai lhe deixou e que estava escondida numa caixa de madeira no muro. Além disso, o homem assegurou que levava para Portugal, todos os anos, entre 20 mil a 40 mil euros, e que também tinha vendido uma casa em Marco de Canaveses.
Dizendo que não confiava nos bancos nem na mulher, por esta ter acumulado 60 mil euros de dívidas, o homem indicou que decidiu guardar as poupanças no mesmo muro onde o pai deixou a herança.
Em tribunal, o homem apresentou provas dos rendimentos obtidos na Suíça e de duas indemnizações recebidas na sequência de acidentes de trabalho. A verdade é que, e ainda segundo o JN, as impressões digitais detetadas no exterior dos cofres coincidiram com as do emigrante, que também acertou na cor da tinta da caneta usada para escrever o valor de cada maço de notas num papel.
Mas o MP arquivou o inquérito, classificando a tese apresentada pelo homem como “fantasiosa”, “inverosímil” e “desprovida de qualquer lógica”. Isto porque o homem “não apresentou as chaves dos cofres, nem comprovativos da conversão em euros dos francos suíços, moeda com que recebia os ordenados, e só veio exigir a devolução do montante um mês e meio após a descoberta dos cofres”, lê-se ainda no JN.
O juiz de instrução criminal de Penafiel, que acompanha o inquérito, recusou a proposta do MP por entender que não ficou provado que o dinheiro tenha origem criminosa, e defende que o destino da fortuna deve ser determinado num processo cível.
O emigrante não é o único a reclamar os 436 mil euros. Também uma empresa de construção, dona da propriedade rodeada pelo muro que escondia o montante, e um dos seus funcionários, apresentaram, no início do ano, requerimentos em que dizem ter direito ao dinheiro.