A semana vai cheia das coisas que dispensávamos.
Os números da pandemia estão onde nunca estiveram. Contágios e mortalidade em valores que nos assustam, medidas do governo que parece estar a tratar a pandemia às cegas, tentando aqui e ali ver se a coisa pega, e a comunidade científica a propor, nova e inesperadamente, medidas mais restritivas de que, julgávamos nós, estaríamos dispensados, sobretudo depois do que já passamos. Somos dos que queremos estar enganados, mas, ao contrário do que desejamos, duvidamos da eficácia destes dois fins-de-semana que nos roubam. Maldito 2020.
À confusão do estado de emergência mal comunicado junta-se o inominável aproveitamento das grandes superfícies comerciais que, em tempo de pandemia, aproveitam a falta de clareza e, sabemos lá, se em conúbio com o governo, cavam, cada vez mais fundo, este capitalismo selvagem, este liberalismo sem coração que vai corroendo a sociedade e nos faz crer cada vez menos na Humanidade.
Por nós, comprometemo-nos a não entrar numa grande superfície comercial neste tempo de definhamento da sociedade e dos bons costumes. Recorreremos à loja da nossa rua, à mercearia ao lado, ao talho da avenida. Lá estão os que, como nós, nasceram, cresceram ou se instalaram nesta nossa terra e nos fazem ainda crer nos laços de solidariedade, na base social capaz de garantir, ainda, alguma da nossa identidade e da identidade dos sítios onde vivemos.
Enquanto isso, aguardemos mais uma semanita e meia. Talvez as medidas do governo resultem. Se não, como achamos que vai acontecer, lá se vão as compras do Natal. É que somos dos que acreditamos, até prova em contrário, que as restrições agora impostas pelo estado de emergência consideraram, lado a lado, a importância da economia com o valor da vida. Não são coisas que se comparem. Se calhar era possível fazer mais pela economia e pela vida. Em tempos e termos diferentes. Atrasamo-nos, provavelmente.