O Clube de Basquetebol de Penafiel (CBP), instituição fundada em Janeiro de 1999 que acaba de completar 20 anos de existência, foi e continua a ser para muitos penafidelenses e admiradores da modalidade uma referência e uma escola para a vida.
Com um percurso invulgar que culminou com uma subida à divisão maior do basquetebol nacional, o clube passou posteriormente por dificuldades, estando, hoje, a renascer como um projecto sólido que tem na formação a sua principal matriz.
O CBP tem mais de 250 atletas repartidos pelo basquetebol, a modalidade dominante, com cerca de 110 atletas, divididos por vários escalões, e a ginástica.
Ao longo da sua história, que foi relembrada no 20.º aniversário, iniciativa que juntou várias figuras ligadas à instituição, ex-dirigentes, atletas,entre outros, o clube passou por vários fases, um trajecto assente maioritariamente na valorização dos seus valores e da sua matriz fundacional.
Clube chegou ao escalão maior no basquetebol
A subida histórica ao escalão principal do basquetebol foi algo que continua bem presente na memória de muitos seguidores da modalidade e marca um período áureo do clube,em que o CBP consegue vários feitos históricos em termos desportivos, vence a ProLiga, escalão secundário no basquetebol e assume-se claramente como uma referência na modalidade na zona Norte e até no país.
Durante uma época, período em que o CBP esteve na divisão principal, o Pavilhão Fernanda Ribeiro, ganhou uma nova vida, com muitos penafidelenses a encherem o Fernanda Ribeiro no apoio à equipa e na expectativa de ver “in loco” os melhores atletas e as melhores equipas da competição.
O clube chegou mesmo a integrar no seu plantel algumas referências do basquetebol nacional e a ceder jogadores que, hoje, militam em equipas do escalão maior.
Mas a permanência no escalão principal do basquetebol durou apenas um ano. Fruto de contingências várias, o CBP passou por uma fase menos positiva, descendo de divisão.
Apesar das vicissitudes, o CBP ergueu-se e está a fazer um trabalho de base que volta a apostar na formação, na renovação dos quadros técnicos e nos activos que integram o clube como forma de potenciar os seus recursos e criar um projecto sólido e sustentável.
Falando dos 20 anos de existência do clube, o presidente do Clube Basquetebol de Penafiel e professor em Educação Física, Sérgio Rodrigues, assumiu que é uma honra presidir à direcção deste emblema, sendo seu propósito continuar a zelar pelo futuro da instituição, os seus valores e a sua matriz.
“Ser presidente desta instituição, cargo que desempenho há já 15 anos, é um orgulho imenso. Não por uma questão de afirmação pessoal, de protagonismo, ou até mesmo mediatismo. É preciso muita dedicação, desprendimento pessoal, espírito de equipa, sentido de responsabilidade para com o outro para se assumir um cargo de dirigente associativo em regime de gratuitidade como é este de estar à frente de um projecto, como é o do CBP. Como professor de educação física que sou, fui um homem de pavilhão durante muitos anos, enquanto estagiário no clube, técnico dos quadros, coordenador de toda a estrutura, até que me foquei apenas na gestão do clube”, disse.
Ao Verdadeiro Olhar, Sérgio Rodrigues assumiu que uma das principais dificuldades que o clube sente no dia-a-dia prende-se com a falta de condições para treinar.
“Poderia enumerar diversos aspectos que nos impedem de alcançar melhores resultados desportivos, mas, o que de facto mais preocupa a direcção, técnicos, pais e atletas, são os espaços de treino. O desenvolvimento do CBP, e dos seus atletas, bate-se no dia-a-dia com a privação de condições ideais para a prática das suas modalidades. Estas carências reflectem-se tanto na modalidade de basquetebol como na de ginástica. A ausência de condições favoráveis à prática das modalidades, seja ela qual for, hipoteca a formação competente dos seus praticantes. Desporto para todos? Claro que sim! Impõe-se, no entanto, incentivar as instituições e modalidades que, pelo seu passado e trabalho sério, estruturado em princípios sólidos, merecem a devida correspondência”, adiantou.
O dirigente reconheceu que ao longo da sua história, o CBP teve sempre a capacidade de superar as adversidades com que se defrontou, porque se uniu e foi sempre uma família, espírito e valores que quer reabilitar.
“Queremos envolver os pais neste processo. Queremos ter uma presença efectiva na comunidade e continuar a fazer crescer esta família”, afiançou, referindo que o clube encontra-se a reestruturar um projecto de desenvolvimento de formação para os jovens praticantes da modalidade de basquetebol, que visa uma maior articulação com as escolas e o desporto escolar.
“O projecto intitula-se Escola de Basquetebol de Penafiel e apresenta-se como uma proposta inovadora, adequada à realidade presente, que visa o processo de desenvolvimento multilateral, procurando facilitar a integração social, dar prioridade ao desporto-jogo como conteúdo educativo e recreativo, até à vertente competitiva federada”, avançou.
O dirigente associativo ressalvou, também, que ao longo dos anos, vários atletas do clube integraram equipas profissionais, sendo que dois antigos atletas estão a jogar na Liga Portuguesa de Basquetebol e um um deles integrou, na época transacta, a selecção nacional de basquetebol.
” A nossa desistência forçada da Liga Profissional de Basquetebol, por falta de apoios financeiros, abalou a estrutura. Olhamos para trás com alguma mágoa e com o sentimento de que mais poderia ter sido feito”
“O objectivo mantém-se: formar atletas de eleição com as melhores bases educacionais para que se tornem os tornem homens e mulheres de quem nos possamos orgulhar por termos tido um papel preponderante e interventivo na sua formação desportiva, intelectual e social”, sustentou, frisando que o clube continua a ser visto com respeito e orgulho pela comunidade.
“Nem sempre o percurso traçado é fácil, nem sempre os resultados desportivos são os desejados e existem percalços. A nossa desistência forçada da Liga Profissional de Basquetebol, por falta de apoios financeiros, abalou a estrutura. Olhamos, certamente, para trás com alguma mágoa e com o sentimento de que mais poderia ter sido feito, numa época em que os resultados desportivos foram excepcionais, após o 5.º lugar no campeonato e a presença na final da Taça de Portugal”, sublinhou, sustentando que o basquetebol continua a ser uma referência para muitos jovens e uma modalidade em crescimento.
Carlos Moreira, professor de educação física na EB 2,3 Joaquim Araújo, ex-coordenador geral do CBP, entre 1999 e o início de 2006, um dos dinamizadores do basquetebol em Penafiel, recentemente homenageado pelo clube, recordou que o CBP foi sempre um clube da comunidade e familiar.
O ex-técnico e coordenador do clube relembrou mesmo que o basquetebol, tal como outras modalidades que hoje existem no concelho, surgiu de umas férias desportivas.
“Recordo-me que, à data, eu e mais dois colegas elaboramos um projecto para fazer a gestão e dinamizar o desporto em Penafiel extra futebol. Foi nesse âmbito que realizamos as férias desportivas, cativamos os atletas, realizamos centros de formação e começamos a dinamizar modalidades e a criar clubes”, disse.
“Tínhamos a preocupação do fazer verdadeiro, preocupávamo-nos com o rendimento escolar dos atletas e atribuíamos prémios aos alunos para os motivar cada vez mais”
Da génese do clube, Carlos Moreira recorda-se de uma das equipes do CBP ter sido vice-campeã nacional em desporto escolar, tendo perdido apenas a final, disputada, em Lisboa, com o Colégio Manuel Bernardes, em cadetes femininos.
“Criamos as categorias de iniciação, mini-basquetebol, iniciados, infantis, cadetes e fomos, no distrito do Porto, considerada o clube que mais cresceu”, expressou, sustentando que aliado à vertente escolar, o clube sempre privilegiou a dimensão académica.
“Tínhamos a preocupação do fazer verdadeiro, preocupávamo-nos com o rendimento escolar dos atletas e atribuíamos prémios aos alunos para os motivar cada vez mais”, afirmou.
Entre os vários momentos que marcaram a história do CBP, Carlos Moreira apontou a subida à 2.ª divisão, um feito que foi efusivamente festejado pelos penafidelenses.
“Foi um dos momentos que mais me marcou, era o coordenador geral e treinador. Essa equipa foi fantástica. Estamos a falar de jovens de 17 anos, miúdos que iniciaram com 11 anos e aos 17 foram campeões. Defrontamos as melhores equipas o FC Porto, Salesianos e o CDUP, equipas com muitos anos de actividade. O CBP era o outsider”, declarou, relembrando o nome de “kikas”, ex-atleta já desaparecido, que integrou esse grupo e que foi, também, recentemente homenageado.
O professor de educação física assumiu, também, que a realização do torneio internacional de cidades geminadas, em 2002, que contou com as cidades de Penafiel, Entroncamento e outras, foi um marco que mobilizou os atletas, a comunidade e toda a família do basquetebol.
“Tínhamos, inclusive, gente a falar espanhol, francês para acompanhar as equipas que se deslocaram a Penafiel. Realizamos visitas pedagógicas, fomos à Aveleda, tivemos momentos culturais únicos, num evento que marcou a história do clube e o basquetebol”, declarou, reiterando que é vital recuperar essa ligação umbilical à comunidade e envolver os parceiros, as famílias e demais actores sociais e desportivos num projecto que continua a ter uma relevância social e desportiva no concelho.
“Temos casos de ex-atletas que deixaram de jogar, mas mantiveram-se no clube, passando a exercer funções de oficiais de mesa, monitores, entre outras”, concretizou.
Com a subida de divisão ao escalão maior do basquetebol nacional, Carlos Moreira reconheceu que o clube viveu momentos ímpares na sua história, mas as dificuldades e a falta de suporte não permitiram que o clube continuasse na Liga de Basquetebol Profissional. “Com a subida, o CBP entrou numa outra fase, a pressão foi mais forte. O clube cresceu tanto que as pessoas começaram a ver o clube a uma outra dimensão. Foi uma fase que já não acompanhei. Tivemos êxito, fomos à final da Taça, vencemos a ProLiga. Fizemos um percurso normal sem queimar etapas”, avançou, garantindo que o clube agora entrou noutra fase e a aposta dos clubes tem que passar, cada vez mais, pela formação, pela valorização dos seus activos e pela valorização do desporto escolar.
“A escola é mais atractiva se tiver mais desporto”, adiantou.
“Defendo que em clubes situados fora dos grandes centros como é o caso do CBP a aposta tem de ser direccionada para a formação”
Já Pedro Ferreira, técnico da equipa sénior do CBP, desde Outubro, e coordenador técnico da formação, assumiu que o caminho de clubes como o CBP passa pela valorização dos seus atletas e pelo trabalho de base.
“Defendo que em clubes situados fora dos grandes centros como é o caso do CBP a aposta tem de ser direccionada para a formação. Temos alguns atletas que podem vir a integrar a selecção distrital de basquetebol do Porto e o objectivo passa por preparar estes atletas, motivar os atletas mais novos, ajudando-os a serem melhores pessoas e alargar a base de apoio do clube”, afirmou.
Pedro Ferreira, ex-treinador da formação nos Salesianos, no Porto, do Académico Futebol Clube que fez parte, também, do projecto Canarias Basketball Academy, em Espanha, reconheceu que a subida do clube, apesar de curta, foi um marco histórico para o emblema, marcou uma fase importante da vida do embleme e teve a vantagem de dinamizar e dar visibilidade ao basquetebol na zona Norte do país.
“O basquetebol em Portugal tem de ter este tipo de equipas a surgir. A subida do CBP foi uma referência para esta zona Norte do país. Foram momentos únicos. Há que reformular com outras bases, e tentar chegar lá, se essa for a opção. É um processo moroso e é preciso reunir condições para fazê-lo”, asseverou, anunciando, no entanto, que, nesta fase, o clube precisa de criar hábitos competitivos.
“A equipa sénior está na segunda divisão, queremos competir e, passar esta fase, tarefa que não é fácil, mas, também, não impossível”, afiançou, defendendo a criação de academias como forma de valorizar os atletas, promover a participação em torneios internacionais que permitam conciliar a parte académica com a parte desportiva.