Cinquentenário da Escola Secundária de Paredes – Cap. III

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E em Paredes? Contrariamente ao que aconteceu nos outros concelhos a prioridade do nascimento do ensino secundário foi dada à freguesia de Baltar.

Porquê? -perguntamo-nos.

A esta questão não queremos dar uma resposta taxativa. Preferimos interpretar os factos que conhecemos e, a partir deles, deduzir a nossa opinião. A dificuldade na elaboração da opinião que a seguir se expõe resulta também de um dano que nos parece irreparável para o entendimento deste assunto e de muitos outros que caracterizaram o período revolucionário. Infelizmente, as atas deste período das reuniões da Comissão Administrativa da Câmara de Paredes não se encontram. Desapareceram. Ninguém sabe se ainda existem ou foram destruídas e, se alguém sabe do seu paradeiro, não abre mão do segredo. Um dano irreparável para se perceber a História do concelho de Paredes, sobretudo se tivermos em conta que é nos revolucionários que mais factos ocorrem e, tantas vezes, os acontecimentos dão-se a tamanha velocidade que ultrapassam os seus próprios protagonistas.

Contra a instalação do ensino secundário na sede do concelho jogava o facto de fazer fronteira com a freguesia sede do concelho vizinho de Penafiel, que já tinha o seu Liceu Nacional, que entretanto se autonomizara do Alexandre Herculano.

Se juntarmos a proximidade das sedes dos concelhos de Penafiel e Paredes torna-se aceitável que o primeiro estabelecimento de ensino secundário de Paredes se instalasse na freguesia de Baltar. A sua centralidade justificava-o em boa parte. Por outro lado, a exiguidade de transportes públicos, nomeadamente ferroviários que serviam bem a zona sul do concelho, donde eram originários muitos dos futuros alunos, talvez aconselhasse Castelões de Cepeda.

Acrescente-se que olobbyde Baltar – a freguesia já tinha sido sede de outro concelho – no meio das 24 freguesias tentava conquistar para si a importância que julgava ainda ter e que se acrescentava assim ao divisionismo residente e irreverente das freguesias de Rebordosa e Lordelo.

Donde advém este antagonismo das maiores freguesias de Paredes em relação à sede do concelho, Castelões de Cepeda?

Uma das razões deve ser mesmo esta: eram freguesias maiores, em número e dimensão do que a sede do concelho.

Outra dos argumentos passíveis de ser utilizados tem a ver com o facto de o concelho de Paredes incluir várias freguesias que antes tinham sido sedes de outros concelhos. Sobra sempre, sobretudo na memória popular, que a oralidade traz à História, a lembrança de que já fomos o que agora não conseguimos sere, por isso, perdemos a capacidade reivindicativa que outrora era nossa.

A complexidade geográfica do concelho de Paredes, acrescentada da falta de lógica que levou à sua constituição e de uma explicação histórica fundamentada por critérios observáveis e objectivos, talvez nos ajude a compreender que o concelho de Paredes não conseguiu ainda afirmar-se como uma unidade territorial, um concelho onde todos os seus habitantes se revejam e dele se orgulhem.

Posto isto, e voltando ao “cinquentenário” da escola secundária de Paredes, talvez possamos olhá-lo de forma diferente, cada um com a sua perspetiva:

– Os que encontram em 1972/73, ano de instalação do 3º ciclo do ensino público em Paredes, o arranque do que viria a ser o processo de massificação do ensino que se concretizaria com o nível secundário posteriormente instalado, estamos pois a comemorar o cinquentenário.

– Os que vêem no Decreto-Lei nº 260-B/75 o início do ensino secundário no concelho terão de aguardar mais uns anos.

-Finalmente, os mais bairristas só encontrarão na instalação da Escola Secundária na sede do concelho no início da década de 80 do século passado. É de 1982o registo biográfico número um que consta do arquivo da actual escola secundária de Paredes.

 Para nós, não serão importantes, neste caso, as datas possíveis, as prováveis ou as provadas. Interessa-nos, isso sim, assinalar o nascimento da escola pública que hoje tem 12 anos de escolaridade e que só aconteceu por via da implantação do um regime que, com as virtudes e defeitos que lhe conhecemos, foi o garante da massificação do ensino, processo indispensável à afirmação de uma sociedade moderna e democrática.

Mais do que a data interessam-nos as consequências. E por isso, em vez do ano lectivo, revemo-nos mais no 25 de abril, essa sim, a data que nos possibilitou escrevermos o que atrás dissemos.

Que cada um escolha a data que quiser. Que ninguém se atreva a negar a importância capital da escolaridade numa sociedade democrática à igualdade tenta associar a equidade.