A sala do arquivo está agora vazia. E se antes os processos circulavam nos corredores do hospital esse cenário já quase não existe. Praticamente todos os processos clínicos realizados no Centro hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS) são agora feitos sem papel.
Só num ano, entre 2017 e 2018, isso significou a realização de menos quase um milhão de impressões.
Luís Goes Pinheiro, secretário de Estado Adjunto e da Modernização Administrativa, visitou o centro hospitalar para conhecer o trabalho desenvolvido.
Recorde-se que o CHTS faz parte do primeiro grupo de hospitais envolvidos no projecto “Hospital sem Papel”, promovido pelos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde. Já foi abolida a circulação dos processos clínicos em papel para as consultas e para o internamento e, em Janeiro, iniciou-se o projecto de gestão documental para eliminar a utilização do papel nas áreas administrativas, diz o CHTS.
Quase tudo desmaterializado
Agostinho Barbosa, coordenador do CHTS Sem Papel, lembrou que este trabalho foi desenvolvido durante vários anos, sendo mais concentrado nos últimos dois. “Temos mais de 2.000 funcionários, mais de 500 camas e mais de três milhões de exames realizados em 2018. Mesmo os que chegam em papel são digitalizados e introduzidos no sistema. Temos mais de 100 aplicações em 150 servidores”, salientou, recordando que esses processos envolvem todos, desde os médicos aos assistentes operacionais.
O grande desafio, explicou, passou por conseguir o envolvimento de todos, o levantamento de tudo o que existia em suporte físico e encontrar soluções para alteração de processos. “Só assim se consegue a desmaterialização”, acredita Agostinho Barbosa.
O papel na consulta externa foi eliminado em Novembro de 2016, seguindo-se o internamento. No final de 2017 foi eliminada a criação de qualquer processo físico em papel, disse, ficando apenas os documentos exigidos por lei.
Entre 2017 e 2018, em apenas um ano, foram feitas menos quase um milhão de impressões em papel no centro hospitalar. Ao mesmo tempo houve um crescimento em quase 20% na adopção das receitas sem papel, que era no ano passado de cerca de 27%, tornando o CHTS num dos centros hospitalares com maior adesão a esta medida.
Agostinho Barbosa explicou ainda que, com a aprovação de uma candidatura, o CHTS vai ter uma rede wireless que vai beneficiar utentes e profissionais.
“A tecnologia é importante, mas o melhor parceiro da modernização administrativa são as pessoas”
“O objectivo foi diminuir a burocracia para aumentar o tempo da actividade assistencial de qualidade”, defendeu Dinis Sarmento, interno do 3.º ano de Medicina Interna. Antes do projecto, “os processos eram morosos e desgastantes” e hoje há “total desmaterialização do processo clínico e dos meios complementares de diagnóstico” e uma elevada taxa de desmaterialização de outros documentos, como receitas, adiantou. A própria formação e logística relativa aos médicos é informatizada.
Pedro Mendes, administrador hospitalar e coordenador do projecto de gestão documental, disse ao secretário de Estado que “não é fácil encontrar um hospital com este nível de complexidade com este percurso feito”. “Não é tanto o custo, mas a oportunidade que significa a eliminação do papel. Há ganhos de tempo e energia e maior eficiência”, argumentou.
Já o presidente do conselho de administração do CHTS frisou, mais uma vez, a importância da humanização. “Esta é uma área de modernização, mas não podemos esquecer que estamos num hospital”, relevou. Carlos Alberto falou do “semáforo vermelho” que encontrou na humanização de cuidados e sustentou que é algo a que tem tentado dar a volta desde que chegou à liderança do cento hospitalar, que é um dos maiores do país, servindo 520 mil pessoas e tendo uma elevada carga assistencial. Doentes que se perdem nos corredores por falta de sinaléctica ou que não são atendidos às horas marcadas são casos a ter em atenção e a mudar, deu como exemplo.
Luís Goes Pinheiro concordou que os hospitais têm que acompanhar a modernização administrativa. “Estou surpreendido pela positiva com tudo o que vi aqui, que é deslumbrante. Os projectos que aqui têm são extraordinários e é de realçar o entusiasmo dos profissionais”, disse o secretário de Estado Adjunto e da Modernização Administrativa.
Para o governante, “a tecnologia é importante, mas o melhor parceiro da modernização administrativa são as pessoas”. Luís Goes Pinheiro recordou que foram implementadas 1.700 medidas no Simplex, precisamente para simplificar a administração pública e a vida às pessoas. “É importante continuar a inovar”, concluiu.