“Estas chamadas dão conforto, carinho e força. É o que preciso, é de consolo”, confessa Fernanda Alves, de 75 anos. É uma das seniores que, já sendo apoiada pela teleassistência, tem agora beneficiado do projecto “Apoio Psicológico – Voz Amiga”.
Ao todo são já cerca de 80 os seniores que uma equipa de psicólogos do pelouro da Acção Social da Câmara de Paredes apoia, com chamadas pelo menos semanais. A meta passa por minimizar o isolamento e solidão em que vivem.
“Tenho medo de sair de casa. Isto está a ficar perigoso”
“Olá dona Fernanda. É da Câmara, como está? Ai está a tomar medicação nova? Se não estiver a sentir-se bem tem de falar com o médico. Tem conseguido consulta?”, pergunta Liliana Conceição, psicóloga. Fernanda Alves mora sozinha. Tem o apoio da filha, que lhe leva medicamentos e compras, e do serviço de teleassistência, a que já recorreu devido a duas quedas. Queixa-se da televisão que não funciona. A Câmara promete tentar resolver. Só sai para consultas e exames médicos e vai mantendo o contacto com o mundo via telefone. “Estamos cá para ajudar. Se precisar ligue”, salienta Liliana.
Um dos públicos-alvo deste apoio é Rosa Nunes, de 93 anos, quase 94. Frequentava um centro de dia e acabou por ficar mais isolada devido à pandemia. “Tenho medo de sair de casa. Isto está a ficar perigoso”, desabafa. Fala do “bicho” que para aí anda e remata com um “há-de ser o que Deus quiser”. “Como está dona Rosa”, pergunta Cátia Silva, do gabinete de psicologia do município. “Está tudo como de costume. Tudo bem não pode estar”, comenta a sénior.
“Conversamos de tudo, do que se está a passar, do que me dói. Eu agora vivo com as minhas filhas, elas não me deixaram ficar sozinha”, explica Rosa Nunes, que até à pandemia estava na sua própria casa. Do centro de dia tem “muitas saudades”. “Adorava aquilo e participava em tudo”, conta. Agradeceu a chamada e aproveitou para deixar um recado: “Se estiver aí a doutora Filipa mande-lhe um beijinho. Eu sei que agora não se pode dar…”.
Liliana Conceição esclarece que este serviço acaba por ser uma continuação do projecto de teleassistência, que já contava com 47 utentes. A estes juntaram-se mais cerca de 30 idosos que vivem sozinhos ou passam a maioria do dia sozinhos, em muitos casos devido ao encerramento dos centros de dia.
“Antes já ligávamos a ver se estava tudo bem com eles e para testar os aparelhos. Agora fazemos chamadas semanais ou até com maior regularidade”, adianta.
Por norma, os seniores querem sempre falar, refere a psicóloga. “Muitos estão sozinhos ou passam os dias sozinhos. Às vezes temos chamadas de 40 ou 50 minutos de duração. Falam um pouco de tudo. Da vida, do maldito vírus, dos receios ligados à pandemia…”, descreve a técnica. “Antes ainda iam à mercearia, a casa do vizinho ou participavam em actividades. Agora estão mais sozinhos. Isto afecta-os bastante. Nota-se que o cansaço começa a pesar”, admite ainda.
O projecto “Voz Amiga” arrancou na semana passada. Visa promover a saúde mental e bem-estar dos mais idosos. Qualquer pessoa pode sinalizar um caso ou usufruir do serviço através do 966245525.
Segundo a vereadora da Acção Social, Beatriz Meireles, a meta “é melhorar a qualidade de vida dos idosos, num serviço de proximidade a uma população vulnerável à solidão e carente de afecto e de atenção”.