Nasceu como o único Centro de Actividades Ocupacionais (CAO) da zona Norte do país destinado a dar resposta a jovens e adultos com Autismo de elevada funcionalidade ou Síndrome de Asperger. Tem capacidade para 10 utentes, e espaço para crescer caso haja maior procura, mas são apenas dois os jovens que, diariamente, participam nas actividades que visam trabalhar as competências sociais e a autonomia funcional e comunitária.

Os responsáveis da APSA – Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger lamentam a fraca procura, sobretudo porque defendem que há muitos jovens a precisar deste acompanhamento individualizado. “A maioria dos jovens sai da escola e fica em casa ou são integrados em CAO’s destinados à multi-deficiência onde não têm a atenção necessária e acabam por regredir”, explicam o director da APSA Norte, António Lassen, e a directora técnica do CAO de Valpedre e psicóloga, Inês Oliveira.

 

“Há desvalorização da necessidade de integração destes jovens”

O projecto nasceu com o apoio da Câmara Municipal de Penafiel que, em 2014, cedeu, através de protocolo, uma antiga escola da freguesia de Valpedre (escola primária do Prazo) para a instalação de um Centro de Actividades Ocupacionais para Autistas de Elevada Funcionalidade ou com Síndrome de Asperger – uma perturbação do espectro do Autismo, que se caracteriza por alterações na interacção social, na comunicação e no comportamento.

O CAO foi inaugurado, no início de 2015, com capacidade para receber 10 utentes, e tudo fazia prever procura pelos serviços. Em Portugal, dizem os dados mais recentes, haverá mais de 40 mil pessoas com Síndrome de Asperger, sendo que, em cada quatro de cinco casos, os afectados são do sexo masculino. Tendo em conta a dificuldade de diagnosticar esta síndrome e os diagnósticos mal feitos, a APSA acredita mesmo que o número será muito superior.

“Há muita necessidade deste tipo de equipamentos”, continua a defender António Lassen. Mas, os jovens que terminam o ensino obrigatório ou acabam por ficar em casa, a regredir, ou são integrados em centros de actividade ocupacional para a multi-deficiência que não estão preparados para dar uma resposta individualizada. “Acabam por não ter rotinas nem estar inseridos na comunidade, muitos perdem a própria linguagem. É uma situação dramática”, alerta Inês Oliveira.

Segundo a técnica, haverá vários potenciais jovens à espera desta resposta, pelo contacto que vão tendo com as escolas e os centros de saúde da região.

Chegaram a ter quatro utentes, mas, actualmente, são só dois. “Nota-se que os pais investem nos jovens durante a escolaridade obrigatória e depois param. As pessoas podem não perceber que tipo de respostas dá o CAO, mas também há desvalorização da necessidade de integração destes jovens. E a questão económica também pode influenciar”, refere a psicóloga. “Queríamos que os pais pelo menos viessem bater à porta e ver como funciona. O meu sonho é ter isto cheio de técnicos e jovens”, acrescenta o director da APSA Norte.

António Lassen diz que o preço da mensalidade é justo para os serviços que prestam. Ainda assim, e porque temem que a questão económica esteja a causar este afastamento à instituição, estão a tentar celebrar um protocolo com a Segurança Social.

 

Parceria com empresa de Figueira põe jovens com Asperger a montar componentes eléctricos

O Centro de Actividades Ocupacionais da APSA em Valpedre destina-se a jovens e adultos com idade superior a 16 anos, que tenham completado a escolaridade obrigatória. O trabalho feito com os jovens procura a valorização pessoal e a promoção de competências que contribuam para uma maior funcionalidade, integração social e profissional.

Todos os dias, os jovens são estimulados no treino de competências sociais (trabalhando as relações e a comunicação) e de autonomia funcional e comunitária (ir às compras, apanhar os transportes públicos, saber interagir nos diversos serviços da comunidade), além de lhes serem proporcionadas experiências de integração comunitária. Depois há ateliês de Horticultura e Jardinagem, Informática e Comunicação escrita, Trabalhos Manuais e Artes Plásticas, Culinária e Pastelaria, realizam saídas culturais e praticam natação.

“O ojectivo é sempre encontrar uma área de que gostem e que possa, no futuro, ser uma opção em termos ocupacionais ou profissionais”, salienta Inês Oliveira. “As relações sociais para eles são muito complicadas. É muito difícil perceberem o que as outras pessoas estão a pensar ou sentir”, dá como exemplo. Por outro lado, quem tem Síndrome de Asperger é muito honesto e transparente e executam tarefas até ao fim porque gostam de rotinas.

A APSA tem procurado introduzir alguns dos jovens no mercado de trabalho, a nível nacional, conseguindo a realização de alguns estágios. “O problema é que não passam disso”, lamenta António Lassen.

Por isso, os responsáveis pelo CAO de Valpedre estão animados com a parceria que acabaram de estabelecer com uma empresa de componentes eléctricos de Figueira, que vai proporcionar experiências laborais internas aos dois utentes. “Vão montar componentes aqui no CAO. É uma forma de dignificar o trabalho deles e mostrar que pode ser remunerado”, sustentam. Se correr bem, a experiência pode ser replicada noutras áreas.

Por outro lado, se o CAO conseguir ganhar escala, poderão ainda oferecer mais valências a quem o frequenta. “Tudo é possível, haja utentes e vontade”, concluem.

 

Competição de carros artesanais angaria fundos para a instituição

Para sensibilizar a população da região e angariar fundos para as actividades, a delegação Norte da APSA, através do CAO, vai realizar, a 10 de Julho, em Valpedre, a 1.ª edição de uma descida com carros artesanais, com a designação “Descida Furiosa 1 de Valpedre”.

O evento terá como palco a Rua de S. Tiago e o início está previsto para as 10h00, estando as inscrições já abertas.

O objectivo é proporcionar um dia diferente e divertido aos participantes.

 

Livro conta a história de sucesso de aluna com Síndrome de Asperger

Este fim-de-semana, foi realizada a apresentação do livro “Traços de Esperança”, de Ana Rita Jesus, editado pelo VERDADEIRO OLHAR. A sessão decorreu em Vermoim, na Maia, com sala cheia.

A professora de Filosofia, com pós-graduação e mestrado na área da Educação Especial, que lecciona na Escola Secundária de Fafe e na Escola Profissional Novos Horizontes, na Maia, vai doar um euro de cada livro vendido para o CAO de Valpedre. “Neste momento já há 45 euros angariados”, referiu a docente.

O livro, que parte da tese de mestrado da autora, baseia-se na história de uma aluna com Síndrome de Asperger e das dificuldades que teve no seu percurso educativo, sobretudo pelas baixas expectativas que sempre lhe foram atribuídas pela escola. O seu talento natural para o desenho foi agarrado a partir do ensino secundário e com o apoio incondicional da mãe a jovem é hoje aluna universitária.

“Este livro passa uma mensagem de esperança aos pais. É preciso apostar em potencializar o que os filhos sabem fazer ao invés de preocupar-se com tudo o que não sabem”, refere Ana Rita Jesus.

A docente manifesta ainda preocupações com o que acontece quando termina a escolaridade obrigatória para estes jovens e com o que pode ou não ser feito para os ajudar a entrar no mercado de trabalho. “É preciso uma mudança de mentalidades”, sustenta.

O que é a Síndrome de Asperger e quais as características de quem tem esta perturbação?*

O que é a Síndrome de Asperger?

A Síndrome de Asperger é uma perturbação neuro-comportamental de base genética, incluída no espectro do Autismo. Pode ser definida como uma perturbação do desenvolvimento que se manifesta por alterações sobretudo na interacção social, na comunicação e no comportamento. Embora seja uma disfunção com origem num funcionamento cerebral particular, não existe marcador biológico, pelo que o diagnóstico se baseia num conjunto de critérios comportamentais.

Quais os sinais de alerta?

Existem algumas características e sinais que podem constituir um alerta:

  • Atraso significativo na linguagem;
  • Linguagem ou comunicação, verbal ou não verbal, pobres;
  • Linguagem pedante, características peculiares no ritmo e entoação, prosódia e ecolalias;
  • Interpretação literal dos enunciados;
  • Dificuldade no pensamento abstracto e dos conceitos;
  • Dificuldade no relacionamento social, designadamente na interacção com os seus pares;
  • Dificuldades nas regras sociais;
  • Dificuldade em entender e expressar emoções;
  • Comportamentos social e emocional desajustados;
  • Jogo simbólico e actividade imaginativa pobres ou inexistentes;
  • Número limitado de interesses;
  • Obsessão por determinados temas;
  • Comportamentos repetitivos ou rotineiros;
  • Dificuldade na adaptação a alterações repentinas das rotinas;
  • Resistência à mudança;
  • Atitudes consideradas bizarras e excêntricas;
  • Atraso no desenvolvimento motor ou falta de coordenação motora;
  • Dificuldade na motricidade fina;
  • Hipersensibilidade sensorial a ruídos, cheiros, sabores, texturas, luzes, etc.;
  • Baixo nível de tolerância à frustração.

Quais as características mais comuns?

Entre as características mais comuns quer sejam crianças, jovens ou adultos, podemos destacar:

  • Dificuldade na interacção social;
  • Dificuldade na comunicação verbal e não-verbal;
  • Interpretação literal da linguagem;
  • Dificuldade na empatia;
  • Comportamentos rotineiros ou repetitivos;
  • Interesses limitados;
  • Peculiaridades do discurso e da linguagem;
  • Hipersensibilidade aos estímulos sensoriais;
  • Descoordenação motora.

Como diagnosticar?

Perante alguns dos sinais de alerta, é aconselhável que a criança/jovem seja observada numa consulta especializada: pediatria de desenvolvimento, Neuropediatria ou pedo-psiquiatria, para que possa ser feita uma avaliação global das suas características, a nível físico e psicológico.
O diagnóstico precoce é muito importante, pois poder-se-á propor uma intervenção imediata e directa sobre as áreas específicas nas quais a criança apresenta dificuldades.

Existe tratamento?

Não existe cura, mas existe tratamento para a Síndrome de Asperger, enquadrada nas Perturbações do Espectro do Autismo (PEA).

No caso de co-existir outro diagnóstico, como sejam a hiperactividade ou défice de atenção, poderá haver necessidade de medicação.

Intervir o mais cedo possível, tentar um programa de intervenção o mais objectivo e direccionado para a criança em questão é sem dúvida o melhor tratamento. Importante também é ter presente que cada criança é única e individualizada e que não existe um “pacote” de soluções, devendo a intervenção ser personalizada e adaptada a cada criança.

*Fonte: APSA – Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger – http://www.apsa.org.pt/