A Câmara de Lousada apresentou, esta segunda-feira, na Casa das Videiras, o Biosénior, primeiro projecto ambiental e social dedicado à população idosa que junta preocupações ambientais com a valorização dos saberes ancestrais e que vai envolver centenas de idosos.
O projecto é promovido pela Associação de Solidariedade Social de Nespereira e conta com os movimentos seniores do município.
Mariana Cardoso, coordenadora do Biosénior, esclareceu que o projecto surge para dar respostas ao isolamento social, às preocupações ambientais, à perda das heranças culturais, apresenta um carácter dinâmico e tem como pano de fundo a recriação dos valores culturais, das memórias e as vivências das pessoas mais idosas.
“Os mais velhos têm um conhecimento que foram adquirindo e urge valorizar a riqueza que está associada às tradições, à cultura e aos ofícios”, disse, sustentando que é também propósito do projecto colocar as crianças e os mais idosos a trabalhar neste domínio, levando-os a adoptarem práticas mais amigas do ambiente.
Na sua intervenção, Mariana Cardoso sublinhou que o projecto pretende promover o envelhecimento activo através de dinâmicas que envolvam as pessoas, fomentar a inclusão social na área do ambiente, prolongar a vida útil das pessoas, fazendo com que contribuam para as questões que são fundamentais para a sociedade.
A coordenadora do Biosénior defendeu, também, que o programa pretende valorizar o património cultural e etnográfico, estando previstas visitas às casas senhoriais, à Mata de Vilar, espaço de alto valor ecológico, conhecida pelo pulmão de Lousada, que abrirá em breve com um programa educativo.
O projecto destina-se a pessoas com idade igual ou superior a 55 anos, alocadas ao movimentos seniores, mas também envolve pessoas a entidades públicas e privadas e pessoas que estão em situação de isolamento.
“Pretendemos transmitir conhecimentos técnicos e científicos, mas também desenvolver conteúdos lúdico-pedagógicos de forma a que os mais idosos possam usufruir das actividades que o programa prevê”
Falando da metodologia e dos primeiros passos do Biosénior, Mariana Cardoso recordou que na fase inicial vai ser feito um levantamento e registo das memórias e vivências das pessoas de mais idade de forma a criar elo entre essas memórias e a necessidade de preservar os recursos naturais.
“Pretendemos transmitir conhecimentos técnicos e científicos, mas também desenvolver conteúdos lúdico-pedagógicos de forma a que os mais idosos possam usufruir das actividades que o programa prevê”, sustentou, sublinhando que no final será feita uma avaliação do impacto do projecto.
Quanto às temáticas relacionadas, a coordenadora assumiu que vão incidir sobre os recursos naturais, água, floresta, agricultura, o património cultural, artes e ofícios tradicionais, sendo que o plano de actividades consigna um leque diversificado de de acções.
“O plano prevê a realização de passeios interpretativos na natureza, queremos aliar a componente de lazer relaxamento, pretendemos criar momentos de reencontro com os idosos, levá-los aos locais onde foram felizes, ver o que é que mudou. Promover o reencontro das pessoas com os locais do concelho, criar dinâmicas de criatividade artística, através da música, dança e jogos”, manifestou, avançando que o projecto prevê, também, a realização de acções de sensibilização, palestras por técnicos, por especialistas, mas também dadas pelos próprios seniores, a realização de debates, assim como workshops, visitas a exposições, museus, centros de interpretação ambiental.
No âmbito do plano de actividades, Mariana Cardoso revelou, também, que é objectivo do programa fomentar o restauro ecológico, partir dos contributos dos mais idosos para recuperar determinado local que pode ser um rio ou uma mata.
“A ideia é melhorar aquele espaço para que volte a ser saudável e equilibrado. Estas acções de intervenção vão decorrer em parceria com projectos que já existem como o Plantar Lousada, o Guarda-Rios. Queremos que os seniores sejam guardiões da linha de água, possam dar indicações do que pode ser melhorado, sejam os guarda-rios dos tempos modernos”, concretizou, acrescentando que o projecto consagra, também, a preservação da vida selvagem, garantindo que determinadas espécies continuem a existir no território.
No âmbito do programa, a coordenadora do Biosénior defendeu o o plano consagra uma articulação com o Bioescola, ligando os mais velhos aos mais novos.
“Queremos que os mais idosos sejam um exemplo para os mais novos”, disse, afirmando que ao mesmo tempo pretende-se criar sinergias com vários outros projectos que estão a ser implementados os Gigantes Verdes, estando prevista a criação da Rota dos Gigantes, assim como criar sinergias com o Campo de Trabalho Internacional constituído por jovens de vários países que contribuem com o seu tempo para melhorar o ecossistema.
“Vamos aliar a experiência do saber-fazer com a vontade de mudar o paradigma relativamente às nossas preocupações ambientais”
O vereador do ambiente, Manuel Nunes, reconheceu que o Biosénior é um projecto inovador congrega aquilo que são as preocupações ambientes com a integração das pessoas mais velhas.
“Vamos aliar a experiência do saber-fazer com a vontade de mudar o paradigma relativamente às nossas preocupações ambientais. Assinalamos este ano o Ano Municipal da Acção Climática, o desafio passa por cada um ter uma acção, um valor acrescido que pode acrescentar a este projecto. Queremos disseminar as boas ideias e das boas práticas, e favorecer a integração pioneira naquilo que são as preocupações ambientes mais prementes com a valorização dos saberes e das aprendizagens acumuladas ao longo do tempo”, confessou.
O vereador da Acção Social, Nelson Oliveira, confirmou que o Biosénior é um projecto pioneiro em Portugal que promove a interligação do público mais velho com experiências ambientais e a promoção de comportamentos sustentáveis.
“Queremos associar a sabedoria de outros tempos e vivências das pessoas menos jovens transportando-as para os dias de hoje. Julgo que teremos um projecto pioneiro no país e numa área fundamental para o nosso futuro”, avançou, sustentando que Lousada tem vindo a ser reconhecida internacionalmente pelas suas boas práticas no ambiente.
Pedro Magalhães, presidente da Associação de Solidariedade Social de Nespereira reconheceu que este é um projecto de elevado valor social que promove a valorização dos conhecimentos dos mais idosos conjugados com a parte mais técnica, numa perspectiva mais técnica e científica.
“A associação assume uma responsabilidade partilhada, fizemos o financiamento e candidatura ao Portugal Inovação Social, mas gostaríamos que todos fossem parceiros e dessem o seu contributo. Trata-se de um projecto inovador que associa o saber acumulado aos projectos ambientais que Lousada tem em marcha”, confirmou.
Flávia Dias, do Movimento Sénior de Nespereira, revelou que o conjunto de medidas que estão plasmadas no projecto vão valorizar ainda mais o trabalho e papel dos movimentos seniores de Lousada.
“É um projecto ambicioso, tem tudo para correr bem. Combina conhecimentos, valoriza os mais idosos e fomenta a intergeracionalidade”, declarou.