Exigir que a oposição desempenhe o seu papel é quase tão importante como pedir ao partido que governa que o faça com rectidão e de forma ponderada. Por isso, sempre defendi que uma oposição frágil contribui para um poder fraco. Na nossa região, conhecemos executivos municipais que são, por natureza, fracos, a que se juntou uma oposição paupérrima, e o resultado tem sido desastroso.
Veja-se o caso do PSD: as concelhias de Lousada, Paços de Ferreira e Valongo deveriam ir a votos no sábado passado, e não foram, porque não apareceram candidatos. Em Paredes, houve eleições, mas foi como se não tivesse havido. Vamos por partes.
Em Lousada, embora o PSD seja oposição há mais de 30 anos, era a mais organizada e com um objectivo bem definido: preparar Simão Ribeiro para ser candidato à Câmara Municipal. O facto de terem a maioria das Juntas de Freguesia e o resultado um pouco magro do PS nas últimas autárquicas abria uma janela de oportunidade. Entretanto, Rui Rio foi afastando todos os que apoiaram o seu adversário nas eleições internas, incluindo Simão Ribeiro, e acabou sem candidatos à concelhia.
Em Paços de Ferreira, onde até há sete anos o PSD foi poder, estranha-se ainda mais a ausência de candidatos. Primeiro, porque sempre foi uma concelhia forte; segundo, porque nos primeiros quatro anos de oposição o PSD manteve um registo bastante agressivo; terceiro, porque o ainda líder da concelhia é um fervoroso apoiante de Rui Rio. Nos últimos tempos, a oposição feita pelo PSD tem sido fraca e desligada da realidade e, às vezes, fora de tempo. Para além disso, os socialistas viveram (ou ainda vivem) uma das conjunturas mais frágeis na vida interna do partido, com a rotura entre o presidente e o vice-presidente da Câmara, e o PSD não conseguiu aproveitar esse momento. Tudo isto terá contribuído para o desânimo geral dos militantes e para a falta de candidatos à comissão política.
Em Valongo, o partido está como adormecido num sono profundo. A intervenção dos vereadores é quase inexistente, a falta de preparação para as reuniões de Câmara é gritante e a desarticulação com os elementos da Assembleia Municipal desastrosa. Por isso, a pouco mais de um ano das próximas eleições autárquicas, qualquer militante com juízo não quererá assumir o ónus de organizar uma lista e preparar uma campanha eleitoral que poderá ter um desfecho trágico.
Em Paredes, houve eleições, mas não pareceu. Todos se recordam que, até há pouco mais de dois anos, as eleições para a Concelhia de Paredes do PSD era um acto político aparatoso: eleições renhidas em que votavam mais de mil militantes. Ora, nos últimos tempos, a única oposição séria tem sido a que é feita nas reuniões de Câmara pelos vereadores, mas que, depois, a concelhia não aproveita para a sua acção política. Para além disso, é recorrente os vereadores votarem de uma forma e os membros do mesmo partido na Assembleia Municipal votarem em sentido contrário. O certo é que, a pouco mais de um ano do próximo acto eleitoral autárquico, apareceu apenas a lista de Ricardo Sousa, e a esmagadora maioria dos militantes que sempre tiveram notoriedade no partido e na sociedade manteve-se alheada de todo este processo. Dos mais de mil militantes que participavam nas eleições internas, o actual presidente preferiu dizer que foi eleito por quase 90 por cento, sem nunca dizer quantos eram. Seriam muito mais de “meia dúzia”?
Para além de garantirem a possibilidade de alternância no poder, as oposições são a garantia de que quem governa o faz em prol dos interesses da população. Por isso, é preocupante ver a forma agonizante como estas oposições vão chegar às próximas eleições autárquicas.