A Câmara Municipal de Paredes aprovou, esta quinta-feira, em reunião de executivo, por unanimidade, a atribuição da Medalha de Ouro do Município, a título póstumo, ao comendador António Pereira Inácio.
A autarquia realçou o seu mérito industrial e na filantropia e o seu papel como benemérito do concelho e sobretudo da freguesia de Baltar, de onde era natural.
“Esta condecoração a título póstumo mais não é que a justa homenagem ao benemérito que se afirmou empreendedor no mundo dos negócios no Brasil e um justo agradecimento pelas suas contribuições relevantes na afirmação da sua terra e no auxílio aos mais desfavorecidos. O comendador Pereira Inácio deixa um nobre legado à família que se revê nos gestos do patriarca e segue a mesma veia empresarial e a filosofia ao ajudar os mais necessitados”, destacou Alexandre Almeida.
Os eleitos do PSD concordaram com esta distinção, com Hermínia Moreira a destacar que o concelho muito deve ao comendador. “É uma figura incontornável no percurso do desenvolvimento do concelho e de Baltar. O seu exemplo de vida e o seu percurso de luta e resiliência mas também a sua bondade e solidariedade agora continuada pelos seus descendentes fazem deste momento a melhor oportunidade para esta justíssima decisão.
A medalha será entregue esta sexta-feira, a netos do comendador, durante a cerimónia de inauguração das instalações do Jardim-de-Infância do Centro Social e Paroquial de Baltar, instituição às quais a família de António Pereira Inácio atribuiu novo apoio de 150 mil euros.
De sapateiro a industrial de sucesso no Brasil
António Pereira Inácio nasceu em Baltar, em 1874, e faleceu no Brasil, em 1951. Foi lá que fez fortuna e que ficou conhecido como o “rei do Algodão e do Cimento”.
Ainda criança partiu para o Brasil com o pai e instalou-se em São Paulo, na cidade de Sorocaba. Trabalhou como sapateiro e fez escola à noite até começar a trabalhar na área do comércio em 1888.
Aos 18 anos criou o seu próprio armazém com a ajuda do pai. Casou-se em 1899 e foi pai de três filhos: João, Paulo e Helena.
“A sua actividade de empreendedor destaca-se, desde 1899 até final do 1.º terço do século XX, pelo desenvolvimento da indústria relacionada com o algodão (fundou a fábrica Santa Helena), com o objectivo de aproveitar as suas sementes e produzir óleo vegetal, adquiriu também uma fábrica de cimentos, e adquiriu a Lusitânia, empresa dedicada à preparação, fiação, tecelagem e estamparia do algodão”, lê-se na resenha da proposta aprovada pelo município.
Entre 1915 e 1918 adquiriu fábricas de tecidos e um banco e formou a Sociedade Anónima Fábrica Votorantim, que presidiu até à sua morte.
Já depois de ser empresário foi também operário, durante um ano, numa fábrica nos Estados Unidos da América, para entender o funcionamento das máquinas. Acabou por tornar-se no 1.º presidente do Centro das Indústrias de Fiação e Tecelagem, nos Estados Unidos.
Em 1923, recebeu a Comenda da Ordem de Cristo de Instrução e da Benemerência e a de Mérito Industrial, e, no Brasil, recebeu, em 1936, a Comenda da Ordem do Cruzeiro do Sul, atribuída pelo presidente Getúlio Vargas.
Nessa altura, “empregava mais de 10 mil operários e empregados, que viviam junto das fábricas em habitações confortáveis e dispunham de creche, escola maternal, escola primária, campo de jogos, teatro, igreja, farmácia, consultório médico, biblioteca, numa área superior a 24 mil hectares, servida por quatro estações de caminho-de-ferro, sendo que uma das estações se chamava Nova Baltar”. Todos os seus empregados aprendiam a ler e escrever.
Reconhecido como o “Rei do algodão e do cimento” do Brasil, dedicava-se também à produção de laranja, que exportava para Inglaterra.
António Pereira Inácio nunca deixou de ajudar a sua terra natal. Apoiou a “criação e organização da Corporação dos Bombeiros Voluntários de Baltar e ofereceu à Misericórdia de Paredes, em 1931, de ‘5 contos’ para a construção do Hospital, fazendo nova doação em 1933”. Foi ainda responsável por propor a criação da Sociedade Humanitária de Salvação Nacional, “com o objectivo de ajudar os mais pobres da freguesia de Baltar, tendo para o efeito angariado fundos ou custeado na íntegra a construção ou organização de escolas e de casas para os mais pobres, de uma cantina permanente, de cursos escolares de alfabetização gratuitos e o fornecimento de agasalhos aos necessitados, a instalação eléctrica e a maternidade, a creche, onde era distribuída uma refeição ao meio-dia, quer às crianças que a frequentavam, quer às que não iam à escola, num custo total que ultrapassava anualmente os 100 contos”.
A creche D. Lucinda Pereira Inácio, em Baltar, foi inaugurada em 1935 e destinava-se às crianças mais pobres.