A Câmara de Paredes pagou um total de 15.375 euros para integrar o estudo “Melhores Municípios para Viver 2022 – Boa Governação Local, melhor qualidade de vida”. No total só terão participado 20 concelhos dos 308 do país e, todos os que pagaram terão conquistado ‘prémios’ e menções honrosas, segundo veio a público.
A organização foi do INTEC – Instituto de Tecnologia Comportamental e o caso está a levantar polémica.
Em resposta ao Verdadeiro Olhar, a autarquia paredense explica que “a Câmara participou por considerar benéfico para o concelho saber a posição comparativa aos outros municípios”, acreditando que ia haver dados dos 308 concelhos. Além disso, o ranking estava associado a um jornal de referência e uma universidade credível.
Paredes ganhou “menção honrosa”
A controvérsia foi lançada pelo órgão de informação ‘Página Um’ que diz ter descoberto “um prémio para distinguir autarquias que garantiu, a quem pagou 12.500 euros, que, na pior das hipóteses, levava uma menção honrosa, e, na melhor, uma mão-cheia de ‘taças’ para currículo político”. “O promotor foi a INTEC, que apesar de se apresentar como Instituto de Tecnologia Comportamental, é apenas uma associação criada em 2007 por um casal de professores do ISCSP”, destaca a mesma publicação, referindo que 11 autarquias terão pago os 12.500 euros (mais IVA) para integrarem este ranking.
“A Prova dos Factos” da RTP analisou o tema e concluiu que este estudo só avaliou 20 dos 308 municípios do país, tendo eleito os melhores de cada categoria e depois elaborado um ranking dos melhores para viver com o top cinco. “São os melhores dos que participaram na edição daquele ano”, justificou um dos autores do estudo quando confrontado pela RTP.
Para aceder foi preciso fazer uma inscrição e pagar 12.500 euros mais IVA (cerca de 15.375 euros). Os responsáveis pelo estudo sustentam que a proposta foi feita a todos os concelhos.
Mas esta informação sobre pagar para aceder ao estudo não foi divulgada pelos municípios quando divulgaram os resultados junto das populações salientando apenas que eram “os melhores do país”.
A Câmara de Paredes, por exemplo, limitou-se a dizer, no início de Novembro do ano passado, que o município “foi distinguido com uma Menção Honrosa na Gala de Prémios Melhores Municípios para Viver 2022 – “Boa Governação Local, melhor qualidade de vida” e a colocar uma foto da cerimónia de entrega dos galardões, realizada em Coimbra, onde marcou presença o presidente da Câmara Municipal de Paredes, Alexandre Almeida, referindo ainda que o prémio era “promovido pelo Instituto de Tecnologia Comportamental, em parceria com o Jornal de Notícias e a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra”.
À RTP, os responsáveis pelo estudo defenderam-se dizendo que houve transparência e foi divulgado o número de autarquias participantes. 12 delas pagaram o valor de inscrição. Outras, informaram, foram incluídas porque manifestaram interesse de participar e de pagar, apesar de não o terem feito. Todos os municípios que pagaram, confirmaram ainda, ganharam algum tipo de distinção.
Paredes, que segundo o Portal Base.Gov realizou um ajuste directo de 12.500 euros, mais IVA, ao INTEC, recebeu uma menção honrosa por ter “o menor número de crimes registados por mil habitantes”.
Outras autarquias receberam galardões em várias categorias, ligadas ao ambiente, economia e emprego, ensino e formação, identidade, cultura e lazer, mobilidade e segurança rodoviária, saúde, segurança, turismo, urbanismo e habitação e bem-estar. O ‘Top 5’ foi liderado por Lagoa, Caminha e Bragança.
Contactados pela RTP, alguns dos municípios que lideram o ranking não concordam que é abusivo dizer que são ‘os melhores do país’ apesar de o estudo só ter abrangido 20 concelhos. Indicam ainda, por exemplo, que o pagamento feito permitiu ficar um estudo que serve de base à adopção de medidas para melhorar a qualidade de vida no concelho.