A 2.ª corporação de bombeiros mais antiga do concelho de Paredes comemorou, esta sexta-feira, 91 anos de existência.
Durante a cerimónia que assinalou o aniversário, e onde foram promovidos oito elementos, que passam a integrar o corpo activo, o presidente dos Bombeiros Voluntários de Cete definiu quais as três prioridades da corporação: a construção do Posto Avançado em Recarei; a remodelação do telhado, que é feito de amianto; e a remodelação do parque de viaturas, que está envelhecido. Celso Moreira falou ainda das dificuldades económicas em que vive a associação e da redução de custos que a direcção tem procurado fazer.
Presente na sessão, o vice-presidente da Câmara Municipal de Paredes, Pedro Mendes, garantiu que o município vai entregar, em Maio, 50% do subsídio prometido à corporação. “O Posto Avançado de Recarei é uma determinação nossa. Podem contar com isso porque vai acontecer dentro do próximo ano”, sustentou ainda.
Começaram com 14 bombeiros e poucos meios. Hoje têm 95 elementos e 22 viaturas
Como a maioria das associações humanitárias, a dos Bombeiros Voluntários de Cete nasceu pela mão de meia dúzia de carolas com vontade de ajudar o próximo.
Foi depois de um incêndio junto à passagem de nível da estação de comboios que um grupo de homens assumiu o compromisso de criar uma corporação de bombeiros em Cete. Depois da decisão tomada, um outro incêndio havia ainda de consumir a Serração de Cete.
A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Cete foi então oficialmente criada a 18 de Abril de 1925. Num pequeno quartel junto à estação 14 bombeiros começaram o socorro, com poucos meios. O primeiro veículo era de tracção animal, o segundo um “Motobloc” alugado. A corporação teve como primeiro comandante o tenente António Gomes e, como primeiro presidente, António Pinto Lopes.
Os Bombeiros de Cete participaram no combate a grandes incêndios, como o de Mosteiro de Paço de Sousa, em Março de 1927, o que lhes valeu um louvor do governo da altura. A instituição recebeu ainda o estatuto de utilidade pública no final desse ano.
Mais tarde, o quartel passou a ser do outro lado da linha de comboio e começaram a surgir novas viaturas. Em 1975, quando comemoram 50 anos de existência, tinham ao serviço duas ambulâncias, um pronto-socorro, um auto tanque e o quartel tinha recebido melhoramentos, mostram os registos históricos da corporação. A casa dos bombeiros passou a ser palco de actividades culturais, desde festas, bailes e local para assistir televisão, sendo ainda realizadas sessões de cinema para a localidade.
Anos mais tarde, em 1991, a 12 de Maio, seria lançada a primeira pedra do quartel actual. O antigo já não reunia as condições necessárias. “Era pequeno e pouco funcional. E muitas vezes os bombeiros tinham que ficar parados na passagem de nível quando tinham que ir prestar socorro”, conta Celso Moreira.
Foi um grande investimento conseguido com o apoio de fundos estatais e camarários, peditórios e ajuda de beneméritos. A obra foi inaugurada a 4 de Junho de 1995.
O quartel recebeu o nome de José Ferreira da Rocha, homem que presidiu à corporação por 37 anos que foi benemérito da instituição.
Parte desta longa história de 91 anos começa a ficar espelhada no salão nobre do quartel, onde estão reunidas fotografias de antigos comandantes e presidentes, mas também momentos que merecem ser recordados.
Corporação quer dar emprego a mais dois bombeiros
Os Bombeiros Voluntários de Cete têm a maior área de intervenção do concelho de Paredes, dando apoio a cinco freguesias: Cete, Parada de Todeia, Sobreira, Recarei e Aguiar de Sousa. Ao todo são mais de 53 quilómetros quadrados de área e cerca de 16 mil pessoas a quem estão preparados para dar socorro.
Contam com 95 elementos no corpo activo – aos quais se juntam mais oito que, esta sexta-feira, foram promovidos a bombeiros de terceira – e 22 viaturas, informou o comandante José Luís Silva. A corporação tem procurado ter sempre bombeiros em formação todos os anos para ir renovando o corpo activo, referiu. Além da renovação do parque de viaturas, o comandante admite que é preciso remodelar as camaratas, porque há cada vez mais mulheres a juntar-se à corporação. Dos oito bombeiros que passaram ontem ao activo, seis são mulheres.
Com um orçamento que, em 2015, chegou aos 240 mil euros, a direcção dos Bombeiros Voluntários de Cete tem procurado manter as contas da instituição estáveis. “Em termos financeiros a luta é por reduzir custos. Temos a situação controlada, mas vamos precisar do apoio da câmara”, explicou Celso Moreira ao VERDADEIRO OLHAR. A pretensão da corporação passa por juntar mais dois funcionários aos 11 que já tem no quadro de pessoal. “Precisamos de ter mais dois bombeiros, um motorista e um socorrista. Não temos capacidade financeira para isso, mas temos essa necessidade”, argumentou o dirigente.
O controlo de custos tem passado, por exemplo, pela troca de lâmpadas incandescentes para LED. “Quando terminarmos a modificação podemos poupar entre 300 a 400 euros mensais na conta da luz”, acredita o presidente da direcção dos Bombeiros de Cete. Fruto de algumas das alterações já feitas e de negociação com a companhia de electricidade, a factura de 1000 euros mensais já desceu para cerca de 700 euros, deu como exemplo.
Posto Avançado, telhado e parque de viaturas são as prioridades
Mas o futuro da instituição passa por outros projectos. A primeira prioridade é a construção do Posto Avançado em Recarei, já prometido pela Câmara Municipal de Paredes. “Temos que percorrer cerca de 20 quilómetros para atendermos a última população e não se justifica em pleno século XXI tanto tempo de espera. O posto vai permitir um socorro mais rápido a Recarei, Sobreira e Aguiar de Sousa”, defendeu.
Por outro lado, a corporação precisa de remodelar o telhado, que é de amianto, material altamente prejudicial à saúde. Em terceiro lugar, há a necessidade de renovar o parque de viaturas, envelhecido e deteriorado pela elevada quantidade d quilómetros que têm que percorrer. A média de idades dos veículos ronda os 20 anos e acarretam elevados custos de manutenção, sustenta Celso Moreira. A corporação avançou já com uma candidatura ao Portugal 2020 para adquirir um carro de incêndio e uma ambulância, num investimento que ascende a 190 mil euros. Caso seja aprovada, a aquisição dos veículos será comparticipada em 85%, mas a instituição terá que pagar cerca de 30 mil euros.
Corporação é uma segunda família
Frequentemente as corporações de bombeiros são uma segunda família para os soldados da paz, pelas relações de amizade e convivência criadas. Mas também não é incomum que pais e filhos, maridos e mulheres, tios e sobrinhos se encontrem nestas instituições.
Tivesse o dia mais horas e talvez fossem ainda mais as horas que Óscar Rodrigues dedica aos Bombeiros Voluntários de Cete. Além de profissional na corporação, quando acaba o horário de expediente, o cetense de 30 anos, ainda ajuda como bombeiro voluntário, sonho que abraçou há 13 anos.
“Desde miúdo que os meus brinquedos eram carros de bombeiros”, conta. Hoje é formador da Escola Nacional de Bombeiros na área pré-hospitalar e de técnicas de salvamento e desencarceramento; operador de telecomunicações da corporação; tripulante de ambulância de socorro e mergulhador. “A minha vida está investida nisto”, não esconde. É ele uma das vozes por detrás do atendimento da central dos Bombeiros de Cete.
Ontem, a esposa Clara Teixeira passou a integrar também o corpo activo. E quem sabe, um dia, o filho de três anos também se venha a juntar à corporação. “Ele já diz que quer ser bombeiro como os pais”, diz Óscar Rodrigues com orgulho.
O casal acaba por passar mais tempo no quartel do que em casa. E o bombeiro só lamenta que as pessoas não queiram conhecer melhor o trabalho dos soldados da paz. “A maior parte das pessoas só vem conhecer o quartel se aqui tiver um familiar”, conclui.