Mesmo antes de se saber quem será o vencedor das eleições e ressalvando um qualquer inesperado terramoto político parece-nos que não há dúvidas em relações a duas particularidades deste ato eleitoral: nenhuma outra foi, até hoje, tão influenciada pelos debates televisivos e, quase certo também- esperamos e desejamos nós-nunca mais votaremos em tempos de pandemia, se bem que, felizmente, nos pareçam mais endémicos do que pandémicos estes dias finais de janeiro.
Sobre a qualidade dos debates, para nós, disseram mais e muito quem os fez do que os que, depois deles, nos vieram dizer o que queriam que pensássemos sobre o que acabáramos de ouvir. Perfeitamente dispensável a dose excessiva de comentários e comentadores cujo ego é maior do que os próprios e a sabedoria igual ou menor do que a de quem os ouve.
Têm sido muito os debates? Sim e ainda bem. Há mais democracia quanto maior for a nossa capacidade de ouvir, pese embora sermos meros observadores e quase compulsivos consumidores dos produtos televisivos.
Havia possibilidades de serem maiores em duração? Sim, mas as audiências têm mostrado que, talvez por serem tão curtos, estão a conseguir cativar audiências nunca imaginadas.
Podiam ser mais curtos? De formato menor em tempo deixariam de ser debates e cada um dos contendores assemelhar-se-ia a um produto dos que se anunciam nos intervalos dos ditos debates.
Do que se temos visto e ouvido concluímos, por ora, que estivemos muito atentos tanto aos que mais se assemelharam ao regateio do preço das botas na feira da nossa terra, tipo bates ou não bates, como os que nos pareceram mais audíveis, mais civilizados nas formas como se mostraram aqueles que, divergindo ideologicamente, foram capazes de ser claros na exposição das suas diferenças sem recorrerem aos decibéis em excesso ou à linguagem exagerada. Foram mais debates.
Gostamos menos dos que não foram “bates nem debates” e mais se assemelharam a um encontro de tias, bem de vida, a tomar chá nas confeitarias da moda, todas lá para as bandas de Lisboa.
Ainda vamos a meio e ninguém parece cansado de tantos “bates” e debates e, por si só, isto vai revelando até que ponto a televisão interferirá nos resultados das eleições. Esperemos que não seja excessiva essa influência.
Quanto ao esperado e dito decisivo debate entre aqueles que, efetivamente, podem ser o próximo primeiro-ministro de Portugal, lamentamos informar que não houve uma hecatombe por parte de algum dos dois. Por isso, e tendo em conta a quantidade inesperada de indecisos, o tempo que ainda nos falta até ao dia 30 poderá ser decisivo e, provavelmente, a campanha irá trazer mais agitação do que esclarecimento, mas pode ser decisiva para todos os intervenientes.
Da nossa parte ficam os votos de que participemos nas eleições e nos dirijamos às mesas de voto, e mesmo pensando que a democracia representativa não é a que melhor nos serve é, no mínimo, a forma rara que temos de também participar da decisão coletiva que resultará do ato eleitoral.
Em quem votaremos? Somos trabalhadores por conta de outrem e, só por isso, já sabemos de qual dos lados nos vamos posicionar quando colocarmos a cruz no boletim de voto. Quanto ao resto, o nosso voto pouco interessa porque só vale um voto e, ao contrário do que nos dizem os outros, não precisa de ser secreto. Será a vontade de divulgar a nossa escolha ou a falta dela que ditará os termos da próxima crónica.
Liberdade é isto, também.