A Câmara Municipal de Paredes procedeu, na passada quinta-feira, 17 de abril, à demolição das barracas onde residia, há mais de três décadas, a comunidade cigana da cidade. A intervenção só aconteceu após a mudança das cerca de 100 pessoas para um novo prédio de habitação social, erguido precisamente no local onde estavam instalados. A autarquia anunciou que naquele terreno irão nascer agora mais 30 habitações a custos acessíveis.
Este realojamento encerra um dos processos habitacionais mais prolongados e complexos da região, marcado por várias promessas, recuos e polémicas ao longo dos últimos 30 anos.

Três acampamentos, um muro de chapa e décadas de adiamentos
A comunidade cigana começou a instalar-se em Paredes há mais de 30 anos, inicialmente distribuída por três pequenos acampamentos espalhados pela cidade. Durante o mandato de Granja da Fonseca, então presidente da Câmara Municipal, a autarquia optou por concentrar as famílias num único espaço, num terreno situado atrás do bairro social “O Sonho”. Para esconder as condições do acampamento, foi construído um muro de chapas metálicas em torno do espaço, afastando a comunidade do olhar público, mas não resolvendo o problema.
Anúncios, projetos e recuos: a promessa falhada do realojamento
Já no primeiro mandato de Celso Ferreira, em outubro de 2006, a Câmara anunciou a construção de casas para 25 famílias, com previsão de conclusão em maio de 2007. A promessa viria, no entanto, a não se concretizar.
Em março de 2009, a autarquia apresentou um novo plano para o realojamento: 20 moradias num terreno com mais de 15 mil metros quadrados, na freguesia da Madalena. O projeto, com habitações em forma de “U”, zonas ajardinadas, parque infantil e lavadouro público, foi até elogiado pelo Alto-Comissariado para as Minorias Étnicas como exemplo nacional de boas práticas. Nessa altura, a comunidade cigana de Paredes era composta por 20 famílias, num total de 94 pessoas.
Mas a oposição interna e externa ao projeto acabou por travar a sua concretização. Os três vereadores do PS, um do CDS e o vereador Joaquim Neves, então em desacordo com Celso Ferreira, votaram contra. Também a população da Madalena se mostrou contra, alegando que se estava a criar um gueto com riscos sociais.

Uma década de promessas e adiamentos sucessivos
Apesar do insucesso, em 2010 a autarquia avançou com um projeto-piloto de mediadores municipais, para promover a integração da comunidade, com financiamento do Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural. Em 2011, a então vereadora da Ação Social garantia que o realojamento aconteceria no ano seguinte, o que também não veio a acontecer.
Em 2015, nova promessa: a obra arrancaria finalmente em 2016, com uma verba prevista de 200 mil euros no orçamento municipal. Mais uma vez, o projeto ficou por cumprir.

Alexandre Almeida avança com novo plano em 2020
Foi já em 2020, com Alexandre Almeida na presidência da Câmara, que a autarquia assumiu um novo caminho. O executivo defendeu a manutenção da comunidade cigana no local onde sempre viveu, justificando que se tratava de um grupo “enraizado na cidade de Paredes”. A Câmara adquiriu os terrenos do lugar de Valbom, onde estavam instaladas as barracas, com o objetivo de construir habitação condigna.
Em 2025, o fim de um ciclo
A construção do primeiro prédio de habitação social destinado a esta comunidade ficou concluída em abril de 2025. Cerca de 100 pessoas, muitas delas crianças, passaram a residir em condições dignas, encerrando um ciclo de exclusão habitacional que durou mais de três décadas.
A demolição das antigas barracas decorreu sem incidentes e marca o início de uma nova fase no local.
A Câmara Municipal anunciou a construção de 30 novas habitações sociais com rendas acessíveis, a serem construídas no local onde até agora existiam as barracas agora demolidas.